Suportar o insuportável

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Em diversos momentos na vida profissional somos levados ao limite da nossa razão. A emoção parece que vai sobressair sobre o racional e explodir, externalizando toda a frustração e raiva contida por meses — ou até anos — de paralisia em função da necessidade.

Pular da cama não é um prazer. Pensamos que poderíamos adoecer, que o mundo pudesse acabar, que eventualmente o chefe ou o dono da empresa tenha morrido ou que, como em um passe de mágica os números da mega-sena tenham sorrido para você e todo o pesadelo chegasse ao fim.

Nos arrastamos para a academia com o objetivo de queimar sobre a esteira todas as toxinas geradas pela frustração de não se fazer o que quer e não conseguir enxergar no horizonte uma luz (mesmo que esta luz fosse um trem, para terminar com o martírio). O limite é tão tênue que, em muitos casos, seria melhor um fim terrível do que um terror sem fim.

O stress aparece por todos os lados. Não temos mais paciência com a família, uma simples brincadeira de um amigo parece que foi feita para te agredir e uma palavra despretensiosa do chefe é capaz de estragar uma semana inteira.

Os dias passam, os meses voam, mais um ano se foi e nada mudou. O sonho de um novo emprego ficou guardado no fundo daquele arquivo distante, bem ao lado da versão mais atualizada do currículo. Falta coragem. "O salário não é ruim, estou aqui há tanto tempo, talvez o ano que vem. Na verdade estou fazendo tempestade no copo d'água".

Para sua razão todas essas desculpas servem, mas para a emoção elas não são mais suficientes. O efeito do stress começa, gradativamente, a dar sintomas físicos. A pressão sobe, os exames de sangue começam a apontar para uma alteração nos principais indicadores, o checkup mostra que a fuga do final de semana, com muita bebida, longas baladas e, em alguns casos, até o uso de drogas para fugir e esquecer dos problemas começam a se mostrar uma péssima opção.

As drogas invadem a semana e os calmantes passam a fazer parte diária da sua vida. É mais fácil o doping do que a coragem de buscar uma recolocação.

O pensamento nos leva a crer que é melhor suportar o insuportável a ter a enorme obrigação de conseguir mudar, encarar o nosso medo e, de maneira efetiva, buscar o que nos trará felicidade.

Não é fácil romper este ciclo nefasto do medo e da necessidade de pagar as contas no fim do mês, principalmente para aqueles que não têm uma reserva financeira nem nasceram em berço explêndido. Mas é preciso ter coragem para ser feliz.

Não é possível ganhar na mega-sena e mudar a vida da noite para o dia, mas é possível fazer um passo por vez. Reaprenda a sonhar, a saber o que dará prazer, conseguir escutar a música do Fantástico no domingo à noite e não querer destruir a televisão porque o outro dia é segunda feira.

O sonho é o primeiro passo. Tire-o do papel, escreva-o, materialize-o. Saiba para onde quer ir, o que quer fazer da sua vida profissional para ser feliz.

Mostre para quem você realmente confia, um amigo, irmão, alguém tão próximo que não irá caçoar de você mesmo que o que tenha escrito seja algo que, naquele momento, pareça absurdo.

Próximo passo: faça um teste de sanidade. Saber o quão longe está o seu sonho e o quanto terá que batalhar e trabalhar para chegar até ele é fundamental para conseguí-lo.

Depois: planeje, desenhe uma estrada. Algumas te levarão, em um prazo determinado, ao encontro do que sonhou. Os sonhos devem ter prazos porque senão, serão eternamente sonhos. Mesmo que, no caminho, você tenha que replanejar seu prazo. E por fim: vá ao encontro do que quer, com a mesma determinação de quem precisa realizar aquilo para sobreviver.

Tenha certeza de que nada acontecerá da noite para o dia. Você irá errar, cair, mudar a rota e, às vezes, descobrir que existem coisas melhores e que você gosta mais do que o que foi inicialmente sonhado. Mas, para saber, precisa começar. Só assim será possível, por uma boa causa, suportar, temporariamente, o insuportável.

*Alberto Marcelo Parada é formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPM-Braxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, além de ser diretor de projetos sustentáveis da Sucesu-SP.

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