Quase todas as instituições financeiras no mundo todo estão testando ou procurando entender melhor a adoção de blockchain. O mesmo acontece com as organizações no Brasil. No entanto, ainda não existe um consenso e nem uma plataforma tecnológica padrão, de consenso, que dê segurança e transparência e governança aos registros transações.
A tecnologia, que hoje tem como uma de suas aplicações mais populares a moeda virtual bitcoin, envolve muitas outras aplicações, tais como o registro de documentos, transações, direitos autorais e de outras naturezas, com garantia de temporalidade dessas operações. Esse assunto ganhou relevância no mercado financeiro brasileiro nos últimos meses.
A RTM, fornecedora de serviços para integração do mercado financeiro, realizou no auditório do Cubo, em São Paulo, a Conferência Blockchain, reunindo mais de cem executivos entre gestores de TI e de telecom, autoridades, fornecedores, parceiros e startups.
Em seu discurso de abertura, o diretor geral da RTM, André Mello, apresentou as iniciativas do programa de inovação Conecta RTM, lançado em agosto deste ano, com o objetivo de proporcionar um ambiente criativo para colaboração e troca de ideias através de um ecossistema cooperativo, gerando inovação que resulte em soluções para os clientes.
Robert Sagurton, diretor da R3 CEV, consórcio que reúne mais de 40 instituições financeiras, inclusive as brasileiras Itaú, Bradesco e BMF Bovespa, afirmou que o Brasil está preparado para ser um líder em blockchain, pois possui características únicas: as redes de contatos já foram construídas e estão ativas, os papeis e responsabilidades estão definidas, entidades governamentais e órgãos reguladores estão envolvidos e há colaboração nos setores públicos e privado. “Blockchain já é uma realidade, é o novo mundo, é trabalhar junto e fazer cada vez melhor.”
Recentemente doze novos bancos aderem ao consórcio R3 como membros: Banco Santander, Danske Bank, Intesa Sanpaolo, Natixis, Nomura, Northern Trust, OP Financial Group, Scotiabank, Sumitomo Mitsui Banking Corporation, US Bank, Westpac Bank e Bank of Montreal.
Rony Sakuragui, gestor de Pesquisa e Inovação do Bradesco, disse que a inovação faz parte do Banco, que criou o programa InovaBra, motivo pelo qual a instituição acompanha todo o movimento em relação ao blockchain, buscando know-how, obter parcerias em estado inicial, bem como influenciar no ecossistema a ser criado. “Estamos sendo solicitados pelas áreas de negócios do Banco para fazermos apresentações sobre assunto.”
O executivo disse ainda que há diversas formas de investimento em blockchain; que os grandes bancos e instituições financeiras têm investido timidamente na tecnologia. “Existe ainda a necessidade de preparar um time interno para atuar como conselheiro no tema Blockchain não é apenas adoção de tecnologia, mas também associação colaborativa entre partes.”
O Bradesco está trabalhando com duas startups. A eWally, que está realizando um projeto piloto na comunidade de Paraisópolis, na capital paulista, que propõe o uso dos correspondentes bancários do Bradesco para a transferência de valores entre não correntistas, com toda segurança nas transações por meio de registros no blockchain. E a startup BitOne, que permite remessas internacionais de valores de forma mais rápidas e de menor custo utilizando a tecnologia. Ambas foram selecionadas pelo programa de inovação InovaBra.
Maurício Salas, chief enterprise do Itaú-Unibanco, disse que o interesse sobre blockchain partiu da própria direção, que solicitou uma apresentação para entender os desafios desse mercado. “Existem vários obstáculos para adoção da nova tecnologia, como a inexistência de implementação de expurgo dos dados por conceito, o baixo número de transações confirmadas por segundo, confidencialidade dos dados, a não identificação do cliente que está transacionando, a indefinição de responsabilidade e possibilidade de atualizações em caso de problemas, tendo em vista a descentralização e imutabilidade. Estamos no início de uma nova revolução tecnológica cujo impacto é muito significativo.”
O executivo disse que está acompanhando iniciativas como a Argent, na qual participam instituições como Well Fargo, Bank of America, Merryl Lynch, RBS e Unicredit. E também o projeto Leia, da KYC, que reúne bancos como UBS, BBVA, Ing, Scotiabank, Societe Generale, entre outros.
Joaquim Kavakama, superintendente geral da CIP – Câmara Interbancária de Pagamentos explicou que a câmara acompanha o tema desde 2012. Em sua palestra, ressaltou a mudança de paradigma do cenário atual para a adoção do blockchain e listou os desafios da nova tecnologia, como falta de padrões, escassez de desenvolvedores, integração dos sistemas legados, escalabilidade, privacidade e segurança, gerenciamento de mudança, regulação ainda não definida, requerimento de compliance, interferência do governo, entre outros. Segundo ele, blockchain não mudará o mundo financeiro, mas resolverá muitos problemas atuais. A CIP ainda está em fase de experimentação com a tecnologia para depois decidir como e onde aplicá-la. “É preciso um ambiente regulatório apropriado para que a tecnologia possa ser 100% utilizada.”
O chefe do departamento de tecnologia do Banco Central, Marcelo Yared, relacionou possíveis impactos da nova tecnologia no sistema financeiro: contratos inteligentes, atualizações em tempo real de títulos e juros, acesso múltiplo simultâneo, assimetrias eliminadas, atualizações em tempo real de garantias, movimentação de títulos e ativos em minutos, eliminação de intermediários em alguns tipos de contratos; e monitoração do regulador em tempo real.
Questionado sobre os impactos que a rede Swift poderá sentir em relação à adoção do blockchain, o executivo disse que apesar de hoje ela ser uma rede homologada, da qual inclusive participa o Banco Central, ela não é exclusiva. Yared disse que o Banco Central está atento à nova tecnologia realizando estudos. Uma possibilidade aventada seria a analise de projetos pilotos dentro de um conceito de Sandbox, onde a experiência poderia ser avaliada antes de ser aceita. No entanto alertou que a moeda virtual Bitcoin ainda é vista com ressalvas pela seu uso obscuro (pagamento de sequestro de ramsoware). “A hora é de observar e pesquisar. Todos os envolvidos têm muito a ganhar”, enfatiza.
Startup
Também participou do evento, Edilson Osório, CEO da startup OriginalMy, fez uma breve introdução ao blockchain, explicando que se trata de um livro de registros público onde ficam armazenadas todas as transações efetuadas. Como infraestrutura de suporte, armazena de forma descentralizada os registros de transações que aconteceram na história, não depende de uma entidade central para funcionar, gerir ou definir regras; e está presente em todo o planeta.
Ele destacou “o poder do blockchain para usos além da criptomoeda, surgindo como uma nova internet, autônoma, poderosa, capaz de gerir recursos financeiros e regras de negócio, melhorando a eficiência da governança, bem como o potencial do DLT (distributed ledger) de alterar o modelo de prestação de serviços financeiros”.
O DLT possui grande potencial disruptivo aos serviços financeiros atuais, pois propõe total descentralização, imutabilidade, transparência e auditoria, gerando eficiência e redução de custos. Outro pilar é o consenso, que, em rede distribuída, possibilita controle de integridade. Nada pode ser alterado ou removido, somente adicionado. Os cartórios de registro de documentos também acompanham de perto o desenvolvimento do blockchian, que também pode trazer disrupção desse segmento de mercado.
“Centenas de empresas pelo mundo estão explorando as possibilidades que a nova tecnologia oferece como Slock. it, OneName, BitNation, Nasdaq e OriginalMy.com. É uma transferência de confiança em um mundo desconfiado”, ressaltou Osório.
Primeiro, quem escreveu o título desta matéria não deve entender de blockchain. No blockchain a auditoria é automática. A informação é aberta e distribuída, todos têm acesso a todas as transações, basta querer baixar o blockchain.
Segundo, o conceito de expurgo não existe e é totalmente desnecessário. Estão querendo aplicar modelos de negócios tradicionais ao blockchain quando ele veio com um modelo totalmente transversal, só que mais confiável e barato. É preciso aplicar o conceito inovador aos negócios atuais, não estragar a inovação com modelos tradicionais.
A identificação das partes também é algo desnecessário para as transações…
Bem, eu poderia questionar toda a matéria aqui mas o texto ficaria muito maior. Seria um debate técnico bem extenso para explicar como se deve aplicar a tecnologia sem distorcê-la ou estragá-la.
O título não fala em auditoria e a opinião são dos participantes do evento. Como você mesmo diz é um debate técnico bem extenso, para o qual estamos abertos a diferentes opiniões.
grato pelo seu comentário
Claudiney Santos, Editor