Desvendando os mistérios dos headhunters

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Parafraseando o slogan do antigo comercial de sutiã: "o primeiro telefonema de um headhunter a gente nunca esquece".

No tempo que as agências de emprego faziam testes psicológicos e recrutavam candidatos com placas de "precisa-se" penduradas nas fachadas, ser lembrado por um headhunter era privilégio de poucos.

Como tudo que sai de moda e quer voltar a ter status, as antigas agências de empregos surfaram na tecnologia e fizeram um upgrade, transformando-se em consultorias de Recursos Humanos, tirando as placas das fachadas e pendurando-as nos banners virtuais.

O glamour dos hunters há tempos deixou de ser o mesmo. A invasão dos concorrentes internacionais e a popularização das consultorias que buscam profissionais em quantidade, não importando sua qualidade para bater metas, contaminaram o mercado e a ética que permeava a categoria desapareceu.

Antigamente, todos desejavam receber a ligação de um headhunter. Hoje, quando o telefone toca, e do outro lado a pessoa se intitula como tal, sua postura geralmente é de atendente de call center, oferecendo uma vaga como quem oferece um cartão de crédito. E a resposta é uma só: não estou interessado!

Todos que entram no mercado de recrutamento querem ser um headhunter. Algo semelhante às garotas que sonham em chegar ao estrelato. Os primeiros acreditam que alcançaram seu objetivo quando conseguem, em uma entrevista, diferenciar um trainee de um executivo; já as garotas são intituladas atriz imediatamente após conseguirem uma ponta em um programa de humor.

Como na natureza, evoluir é questão de sobrevivência, com os hunters não foi diferente. Mudaram seu modelo de negócio, abandonaram o foco nos candidatos e passaram a trabalhar no relacionamento com os decisores das empresas, levando e buscando informações importantes para a sobrevivência de ambos e garantindo o privilégio das vagas executivas (que são muito mais lucrativas), deixando para as empresas de consultoria a relação com os gestores de RH e as posições menos lucrativas e mais trabalhosas.

O conceito de boutique se caracteriza pela especificidade dos profissionais que buscam para as melhores posições. Os elegíveis tem que estar obrigatoriamente empregados. A lógica é simples: tirar um profissional de uma empresa para colocar em outra é garantia de trabalho. O profissional que mudou abriu uma posição que deverá ser preenchida por outro que será retirado de outra empresa, e assim o ciclo de necessidades por profissionais de ponta não termina e seu trabalho também não.

Tema da moda, as cotas também estão em alta para os hunters. Diferente dos critérios utilizados pelo governo, os elegíveis para as melhores posições são os "Mauricinhos e as Patricinhas", com aparência impecável, idade até 39 anos, diplomas das melhores faculdades e atuando nas empresas top com ciclo mínimo de três anos.

Não conseguiu se enquadrar nas características acima? Não precisa se desesperar. Elas são especificas para empresas de vanguarda e extremamente competitivas. Ainda existem boas oportunidades em empresas conservadoras. Não na mesma quantidade, é verdade (o que reduz a empregabilidade dos quarentões).

Uma alternativa para aumentar a oportunidade de ser escolhido para um processo de seleção é ser amigo de um hunter. Para isso precisa pagar o preço da amizade que é possuir informações importantes que interessem a ele.

Não é uma tarefa simples conseguir se manter como matéria-prima de qualidade aos olhos dos melhores hunters, mas com certeza é recompensador, afinal como no comercial do sutiã a gente nunca esquece quando recebe o telefonema de um headhunter de ponta dizendo que tem uma oportunidade de trabalho, que além de ser a dos nossos sonhos, é a nossa cara!

*Alberto Marcelo Parada é formado em administração de empresas e análise de sistemas, com especializações em gestão de projetos pela FIAP. Já atuou em empresas como IBM, CPM-Braxis, Fidelity, Banespa, entre outras. Atualmente integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, além de ser diretor de projetos sustentáveis da Sucesu-SP.

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