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Apesar das iniciativas, mercado de tecnologia ainda emprega poucas mulheres

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A máxima de que “lugar de mulher é onde ela quiser” não se emprega com tanta facilidade no mercado de trabalho. Nas empresas de tecnologia, ainda que trilhem um caminho de abertura de portas para vagas femininas, essa participação está longe do ideal. Dados de 2019, por exemplo, mostram que apenas 18% do total de profissionais nas empresas de tecnologia são mulheres.

Conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de cada dez profissionais do setor, apenas duas são mulheres. “Se subirmos para os cargos gerenciais, encontraremos apenas 11% de líderes, conselheiras e diretoras”, mostrou Cris Alessi, do Conselho Mulheres Tech, da Associação das Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação (Assespro-PR) durante a 1ª Ação do Conselho Consultivo de Mulheres na Tecnologia da entidade, que teve transmissão pelo YouTube. De fato, dados do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC) apontam que, a cada 100, apenas 11 mulheres ocupam cargos de presidente ou vice-presidente.

De acordo com o presidente da Assespro-PR, Lucas Ribeiro, e o diretor de operações do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), Júlio Agostini, também participantes da Ação, a área de tecnologia é a que mais oferece oportunidades e boa remuneração no país (estima-se que até 350 mil novas vagas na área devam surgir até 2024). Contudo, é também o setor em que a introdução feminina é escassa.

“Somos milhões de desempregados e desempregadas no Brasil, mas com muitos empregos disponíveis e, principalmente na área da tecnologia. Lembro que uma empresa de tecnologia não é formada apenas por desenvolvedoras de softwares, mas também por designers, especificações de produtos, testes de qualidade, sucesso do cliente e inúmeras outras”, comentou Ribeiro, trazendo como exemplo a ROIT, empresa que administra, que tem as mulheres como maioria no quadro funcional.

“Temos acompanhado, em todos os ecossistemas de inovação do estado, a presença das mulheres. Temos incentivado bastante. Isso não é uma questão brasileira, mas também do mundo todo. Precisamos identificar as barreiras para que as mulheres tenham uma maior participação na área da tecnologia”, disse Agostini, complementando que no mundo das startups paranaenses, 22% do quadro de funcionários é composto por mulheres; nas empresas de TI, 25%.

 

Os números, ainda que longe do ideal, são interessantes, colocam o estado do Paraná em um lugar de destaque ao mesmo tempo que mostram um ambiente passível de muito crescimento. Para diagnosticar onde estão as falhas, os parceiros do evento, ao lado do time da Agência Curitiba e da Realize Hub, anunciaram durante a Ação o lançamento da pesquisa “Mulheres no Mercado de Tecnologia do Paraná”, cujo foco é diagnosticar, de um lado, o motivo de as empresas não estarem absorvendo as profissionais e, de outro, os porquês da não entrada delas nesse campo.

O levantamento de dados acontece até o dia 10 de junho. Para participar, basta acessar os links (veja os endereços no fim da matéria) e responder aos questionários. São dois modelos de perguntas, para empresas e para profissionais. “Não é uma questão de pensar nos empregos tradicionais que a mulher já ocupa, com muita honra, mas que ela faça parte desse mercado de tecnologia também. Temos uma representação que vem sendo aumentada, mas precisamos reconhecer que os negócios criados por mulheres geram duas vezes e meia mais receita. Com a pesquisa, queremos ter dados para transformar nossa missão em plano de ação”, disse a conselheira, Marcia Cavalcante. Para ela, a inclusão das mulheres no mercado de tecnologia é uma causa, muito acima do empoderamento feminino.

Questões culturais

As questões culturais também implicam na falta de mulheres no mercado de trabalho nas áreas de tecnologia. Carregando a carga histórica da criação dos filhos e do cuidado do lar, muitas, por mais eficazes que sejam, acabam deixando o trabalho fora de casa de lado. Quem aposta nisso, encontra, com frequência, empresas com problemas no que Carla Antloga, pós-doutora em Psicologia pela USP, define como “desenho do trabalho”. “O ‘desenho’ envolve três pontos: as condições do trabalho, a organização do trabalho e as relações socioprofissionais. E quando a gente olha para essas três categorias, temos visto, de um modo geral, que esse trabalho foi desenhado por homens e para homens. E é isso mesmo! As mulheres não participaram desse universo produtivo. Neste tempo, estavam cuidando do trabalho reprodutivo, que não é só parir. É todo o cuidado. Esse lugar foi sistematicamente desvalorizado. Temos uma evolução histórica que todo trabalho produtivo recebeu uma valorização maior do que o reprodutivo. Esse trabalho foi desvalorizado ou até canonizado”, disse Carla sobre o tema Desafios e Perspectivas da Carreira em Empresas de Tecnologia, abordado também na Ação do Conselho.

A profissional lembrou que esse “desenho” não inclui, por exemplo, o fato de que a mulher trabalha em média nove horas a mais que o homem durante a semana; tampouco suas necessidades de biofísico ou comparações (com os homens, no caso). “Surge outro desafio: lidar com certo conservadorismo social e, ao mesmo tempo, trazer a diversidade para dentro das empresas”, aponta. Para Carla, não basta apenas abrir as portas e contratar mulheres: é preciso diversificar as raças e oferecer a elas a chance de crescer qualitativamente e não apenas em quantidade. “Temos um país e um mundo composto por mulheres e as empresas e organizações não são compostas majoritariamente por mulheres. Chamar as mulheres é importante, mas é preciso pensar em um novo desenho, para acolher o trabalho produtivo e reprodutivo, com outros valores, dentro da organização. Se conseguirmos olhar para essas mulheres e ouvir o que elas têm a dizer, tenho certeza de que as perspectivas serão maravilhosas.”

A 1ª Ação é fruto de uma organização do Conselho Consultivo de Mulheres em Tecnologia. Criado em março deste ano, por ocasião do Dia da Mulher, o grupo, comandado por Cris Alessi, tem como meta a discussão de como ajudar as mulheres entrarem nos segmentos de tecnologia e inovação no estado. “As mulheres não podem ficar à margem de uma das áreas que mais cresce no país. Com essa preocupação, a Assespro-PR criou o Conselho e nossa maior discussão é ajudar as empresas neste cenário, para equidade de gêneros das empresas, apoiar as mulheres nessa jornada, mas também apoiar a sociedade no que é preciso fazer para mudar esse cenário de uma maneira mais rápida e disruptiva”, destacou a presidente.

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