Um dos temas que mais me despertou interesse em 2021 foi o Metaverso. Eu já escrevi sobre isso no artigo "Reflexões sobre o WebSummit 2021". Sempre gostei muito de jogos eletrônicos e esses jogos de repente estão entrando no mundo dos negócios como coisa séria. Não é à toa que a geração que mais jogou videogames na história da humanidade (até porque não existia vídeo game antes dela) esteja protagonizando a criação do Metaverso.
Apesar de beber no "tradicional" conceito de metaverso, esse novo Metaverso é novo sim. Os primeiros metaversos foram criados num período pré-bitcoin, nos primórdios das redes sociais. Justamente por isso, não poderiam levar em conta as possiblidades (e os problemas) trazidos com a evolução dessas novas tecnologias. Que já não são tão novas assim.
O facebook é de 2004. O bitcoin é de 2009. De um ponto de vista técnico, encaro o Metaverso como a integração das tecnologias que mais evoluíram nos últimos anos aplicadas no mundo dos negócios.
Algumas já vinham sendo largamente desenvolvidas no mundo dos games, por exemplo. Outras amadureceram meio que adormecidas alguns anos no âmbito científico-teórico. Parece que agora começou a deslanchar. As grandes empresas, os grandes investidores, os governos, todo mundo passou a olhar isso.
Repare que eu ainda não defini objetivamente o que é o Metaverso, se é que existe um. Talvez faça mais sentido falar em Metaversos. Estou argumentando que é um conceito mais amplo, em formação, ainda incerto, mas que está na integração entre as principais tecnologias digitais do nosso tempo:
- Internet
- Redes sociais
- Inteligência artificial
- Realidade virtual
- Realidade aumentada
- Criptomoedas
- Blockchain
- Contratos inteligentes (NFTs)
Quando o CEO de uma grande empresa ou founder unicórnio fala sobre Metaverso, ele está falando dessa intersecção. É algo muito maior do que controlar avatares em um mundo virtual. Para entender o Metaverso você precisa conhecer as possibilidades dessas tecnologias combinadas. E também os seus limites (técnicos e éticos).
Recentemente, Elon Musk, uma das pessoas mais ricas do mundo, com uma fortuna de US$ 315 bilhões, fundador do Paypal, dono da Tesla (fábrica de carros inteligentes), SpaceX (foguete sespaciais), Neuralink (chips cerebrais), OpenAI (inteligência artificial), SolarCity (energia solar), entre outras, disse o seguinte sobre o Metaverso numa entrevista: "Claro que você pode colocar uma TV no nariz. Não tenho certeza se isso te coloca 'no metaverso'."
Ele sabe muito bem que Metaverso é muito mais do que um óculos. O óculos é só uma possível interface para acessarmos (e sermos monitorados). Assim como são as telas, os smartphones, os relógios, os carros, etc. O óculos é só mais um dispositivo para ser integrado aos demais. "A longo prazo, um Neuralink sofisticado poderia colocá-lo realmente dentro de uma realidade virtual", ele completa.
Essa é a aposta do "tio Elon": implantar chips nos nossos cérebros, nos mandar para o espaço e nos deixar todos conectados vivendo dentro de uma realidade virtualmente real. Tudo feito com smart contracts, pago em criptomoedas, e controlado por algoritmos complexos de inteligência artificial. Inclusive ele já tem uma empresa para cada linha de produto que vamos comprar ao nascer.
Além de mudar o próprio nome para Meta, a empresa dona das maiores redes sociais do ocidente, comprou a startup de realidade virtual Oculus e já está trabalhando para integrar os contratos inteligentes (NFTs) no Instagram. Isso sem falar na recente parceria com a Rayban para venda de óculos de realidade aumentada. A Meta não vai se tornar uma ótica, não é vendendo óculos que eles querem ganhar dinheiro.
Bill Gates, fundador da Microsoft, a mais valiosa empresa de tecnologia do mundo, disse na sua carta anual que a maioria das reuniões virtuais mudará para o metaverso em três anos, e os profissionais vão interagir usando fones de ouvido e avatares de realidade virtual. A Microsoft está mesmo muito bem preparada para isso. É dona do XBox, um dos principais videogames da atualidade, do Minecraft, metaverso muito popular entre adolescentes, além das principais ferramentas de produtividade do trabalhador moderno: Excel, PowerPoint, Word e Windows.
Agora que finalmente entendemos que o mundo físico e digital são um só, nos convidam para um novo mundo. E prometem: esse não tem dono. Esse novo mundo se chama Metaverso. Já entramos em novos mundos antes: computadores, internet, redes sociais, celulares inteligentes.
O "espaço digital" já existe e tem donos. Gastamos centenas de milhares de "dinheiros" pagando esse aluguel, seja com nossos dados e conteúdos, seja em publicidade. Chamar atenção no Facebook, na Amazon, no Google? Nada barato.
Então, qual é a grande novidade agora? Qual é esse mundo que estão nos convidando a entrar? Como vou lidar com o fato de todos ao meu redor entrarem? Quais são as possibilidades desse novo mundo? Quais são os perigos desse novo mundo?
Utopias e distopias a parte, em 2021, resolvi mergulhar no Metaverso. E pelo visto, 2022 promete… Internet, redes sociais, inteligência artificial, realidade virtual, realidade aumentada, criptomoedas, blockchain e contratos inteligentes (NFTs). Tudo junto, combinado. No que isso vai dar?
No próximo artigo eu conto como foi. Enquanto isso, recomendo o livro Snow Crash, de 1992. Foi a primeira vez que apareceu o termo metaverso. Recomendo também o filme Ready Player One, de 2018. As duas histórias focam muito no aspecto da realidade virtual do Metaverso e ilustram um futuro bem mais distópico do que eu imagino que seja o nosso.
Miguel Fernandes, sócio da edtech Witseed.
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