Privacidade é um tema recorrente na maioria das matérias relacionadas à segurança e tecnologia, o crescente número de smartphones e soluções que utilizam a nuvem para armazenar e processar informações são os principais alavancadores deste processo.
Fabricantes de assistentes virtuais, como o Alexa, Siri e Cortana, argumentam que só ouvem e coletam informações quando ordenados. No entanto, o tratamento destes dados ainda é um mistério. Motivada por esta polêmica, a Apple anunciou que suspenderia a coleta de conversas de usuários via Siri. A dúvida ainda persiste: como estes dados são tratados?
Recentemente, um aplicativo ganhou destaque em termos de privacidade: o FaceApp. Aparentemente inocente, o App aplica filtros em uma selfie e simula o envelhecimento do usuário. Divertido, curioso e controverso. Divertido, pois muitos tem a curiosidade de ter uma ideia da aparência daqui a alguns anos; curioso pois mostra como a tecnologia pode ser utilizada para propósitos inesperados; e controverso, pois desperta a pergunta: o que esta empresa está fazendo com as informações de seus usuários? O que dizer ou pensar de um aplicativo Russo que desenvolveu uma tecnologia de IA (Inteligência Artificial), que aplica filtros de forma tão interessante (envelhecendo, rejuvenescendo e até mesmo criando sorrisos)?
Existirá mesmo razão para tanta preocupação quanto à privacidade dos dados compartilhados com aplicativos como o FaceApp? Antes de responder a esta pergunta e chegar a qualquer conclusão é sempre importante tentar entender os indícios e motivações, como um detetive procurando por respostas. Nos dias de hoje não é difícil notar que a maioria das pessoas busca distração e diversão ao instalar e aceitar os termos e condições de uso de aplicativos; apesar de legítimo, é displicente. Outro indício é que as empresas na era digital em que vivenciamos procura nichos para crescerem, e com o FaceApp não é diferente. Novamente, isto é perfeitamente legítimo.
Vamos às motivações. O uso de IA pode ser amplificado e utilizado em inúmeras outras indústrias, tecnologias que atraem investidores para as empresas, sendo uma das principais maneiras de conseguir o tão sonhado “valuation”, ou seja, multiplicar seu valor de mercado. Outra vez, totalmente legítimo.
Neste ponto, é importante mencionar que o FaceApp – ainda – não é nenhum tipo de vilão ou agente infiltrado do governo Russo. A ideia aqui é ilustrar como é muito tênue a linha entre privacidade e uso de informações pessoais, podendo pender para o mal ou reforçar o conceito de segurança.
No entanto, existe uma sutileza que a maioria dos usuários não percebe, que são as mudanças repentinas nos termos de uso de aplicativos gratuitos que solicitam acesso a dados pessoais. Via de regra, pouquíssimos param para ler o que mudou nestes termos e um número menor ainda deixa de usar aplicativos devido a estas mudanças. Aqui pode estar o perigo, pois quando não estamos preparados – e totalmente entregues ao uso do produto, ou até mesmo esquecemos que ele existe, mas está lá instalado e coletando dados – é que os problemas de privacidade começam.
O que fazer? Esquecer e fingir que nada está acontecendo, deixar a vida seguir? Afinal, é só um aplicativo inofensivo; ou conscientizar-se e procurar mais assertividade e selecionar com critério o que instalamos em nossos smartphones?
Sem dúvida que ler termos e condições (e suas atualizações) não é tarefa simples nem agradável, ainda mais para quem tem tanta coisa para entregar no final do dia, não é verdade? Mas vale o exercício de vez em quando, pode ser mais assustador que um livro do Stephen King. Acredite.
Enquanto isso, considerando que os smartphones estão assumindo um papel cada vez mais crucial no dia a dia de todos, nada mais razoável do que fazer escolhas mais sensatas para o que será instalado por lá.
Em tempos de redes sociais precisamos aprender a reduzir os níveis de exposição e cuidar mais da privacidade.
Alexandre Vasconcelos, COO – Chief Operating Officer da Sikur.