Seja pela instantaneidade ou simplicidade, o Pix trouxe um novo dinamismo às transações financeiras do cotidiano, simplificando desde o pagamento de contas até a transferência entre amigos. No entanto, como qualquer popularização tecnológica, o sistema também atraiu a atenção de fraudadores, e é justamente nesse ponto que a segurança se torna um dos temas mais urgentes, levando à necessidade de soluções eficazes para proteger usuários e instituições financeiras. Em resposta, entraram em vigor desde o início do mês de novembro novas regras do Banco Central (BC) para fortalecer a segurança do ecossistema, mas que só veremos um real efeito se o esforço for conjunto. E eu explico o porquê.
Com as novas regras já implementadas, a intenção do poder público está clara: adicionar camadas de proteção aos cidadãos e as empresas. Mas ressalto que, embora o Banco Central seja um agente crucial na regulação e no monitoramento, a segurança de um sistema como o Pix exige uma colaboração ativa de todos os envolvidos, inclusive, das instituições financeiras e das companhias de tecnologia. E esse tipo de interação precisa ser amplamente adotada e aprimorada, porque, como temos visto, os golpistas estão cada vez mais sofisticados.
Não à toa, as novas diretrizes perpassam ambos os lados. Para os usuários, foi estabelecido mais cautela com novos dispositivos. Agora, quando uma transferência é iniciada por um aparelho ainda não registrado, como um novo celular ou computador, há um limite de valor para esses envios, dificultando fraudes que dependem do roubo de senhas e logins. Às instituições financeiras, a abordagem é ainda mais rigorosa e aponta novas medidas para cadastro, exclusão, alteração, portabilidade e reivindicação de chaves Pix – além de incentivar que elas aproveitem recursos do próprio BC para identificar transações que estejam fora do habitual de seus clientes. É aí que entra o papel da iniciativa privada.
A cada dia, bancos e fintechs investem em ferramentas de prevenção que vão desde a análise em tempo real de transações até a aplicação de inteligência artificial (IA) para identificar comportamentos suspeitos. O Itaú, por exemplo, implementou em seu aplicativo um recurso que alerta o usuário quando ele tenta realizar um Pix para uma conta potencialmente fraudulenta. As instituições vêm buscando dados além do ecossistema do PIX para aumentar ainda mais a segurança e reforçando o efeito de rede. Esse é um grande passo, em uma proposta que reúne cuidar de seus clientes e contar com tecnologias de ponta para proteger o dinheiro deles contra ameaças.
Exemplos como esse provam que, hoje, uma das principais inovações no combate às fraudes é o uso da IA. Para se ter uma ideia, ela pode, de fato, elevar a segurança a outro nível, sendo capaz de identificar rapidamente padrões de comportamento fora do comum, com base em dados como localização geográfica, histórico de transações, padrões de comportamento e até no horário em que o pagamento está sendo realizado. Por isso, contar com o apoio de soluções tecnológicas significa estar um passo à frente, com recursos que permitem sobretudo bloquear rapidamente operações de risco sem comprometer a experiência do cliente comum.
No entanto, é importante reconhecer que mesmo com algoritmos poderosos, ainda existem riscos, principalmente em fraudes que envolvem engenharia social, como o envio de mensagens fraudulentas ou os já conhecidos golpes de falsas identidades. Essas fraudes exploram a confiança e a vulnerabilidade humana, pontos que nenhuma IA consegue blindar totalmente. E é por isso que contribuir para ampliar o conhecimento do usuário final também se torna fundamental nessa equação. Encaro como um grande acerto do Banco Central implementar nas novas regras às instituições a obrigatoriedade de adotar canais eletrônicos para informar e educar os clientes sobre medidas de segurança, o que deve aumentar significativamente a conscientização do público sobre as práticas de proteção.
O Pix veio para ficar, e seu crescimento exponencial exige uma resposta proporcional em termos de segurança. O futuro das transações digitais será cada vez mais moldado por inovações tecnológicas que, aliadas à personalização e à análise de dados em tempo real, tornam o sistema mais seguro e confiável. Com as novas regras do Banco Central e o avanço da colaboração privada e pública, o que veremos é uma rede de segurança mais robusta, permitindo que os usuários aproveitem toda a conveniência da ferramenta com a tranquilidade de estarem protegidos.
Marcelo Queiroz, head de estratégia e novos negócios da ClearSale.