Nos últimos anos, muitas empresas foram criadas ou cresceram artificialmente com foco na inovação impulsionada pela euforia. Infelizmente, essas empresas têm sofrido com frequentes demissões em decorrência das demandas criadas pelo hype tecnológico e falhas de planejamento, que tem sido uma das principais causas da instabilidade do setor e de enormes custos sociais e humanos.
De startups a big tech, passando por empresas de todos os tamanhos, estamos ajustando o caminho de investimentos em tecnologia. O que podemos aprender com essas demissões em massa para construir empresas mais saudáveis e bem-sucedidas?
Obviamente, fatores externos, como o volume de contratações e investimentos durante o COVID-19 para uma sociedade hiperdigital, a instabilidade econômica e os conflitos internacionais, desempenham um papel importante. Mas e nós mesmos?
A contratação irresponsável tem sido uma das maiores causas de demissões em massa. Se olharmos mais fundo, veremos que a repetição cega em estratégias competitivas, como o copycat (apenas seguir), crescimento hiper acelerado ou investimentos sem crítica estão na raiz. Quando inovamos meramente por inovar ou seguimos tendências como a indústria da moda em tecnologia, podemos esperar pagar o preço. E não é apenas financeiro ou de curto prazo.
"Quiet quitting", "job hoppers", tech recruiters agressivos, pseudo "coaches" desvalorizando a relação empresa-pessoa-trabalho e lideranças tóxicas disseminadas são sinais de que quebramos a relação de confiança mais valiosa que existe para a cultura de uma empresa: a identidade de seu pessoal. Não, nós não somos tão eficientes ou mesmo capazes de trabalhar em qualquer setor, em qualquer lugar, apenas porque somos pagos e temos um conjunto de habilidades.
Lembro-me da frase trágica do início do século (atribuída a Henry Ford), perguntando "Por que é que toda vez que peço um par de mãos, um cérebro vem junto". Felizmente, além do cérebro vem um coração. É nessa união entre vontade, pensamento e emoções que está nossa atuação individual e coletiva de maior potencial como organizações. No deep tech, sempre consideramos a tecnologia como uma dimensão viva das empresas. Acredito que a maior lição que podemos aprender com as demissões em massa é lembrar dos princípios de planejamento vivo de Arie de Geus:
Conservadorismo nas finanças: O dinheiro no banco permite que as empresas governem seu próprio crescimento e evolução com autonomia.
Sensibilidade ao ambiente externo: Quer tenham construído suas fortunas com base no conhecimento e inovação ou em qualquer outra coisa, as empresas devem ficar atentas a tudo o que está acontecendo.
Consciência da própria identidade: não importa quão amplamente diversificadas sejam as empresas, a história mostra repetidamente que um senso de comunidade é essencial para a sobrevivência a longo prazo.
Tolerância a novas ideias: experimentos e excentricidades ampliam nossa compreensão.
Tome nota: Ao priorizarmos impacto positivo, duradouro, podemos nos unir e encontrar caminhos de crescimento muito mais saudáveis para nossas organizações.
Igor Couto, CEO da 1STi.