A Tecnologia da Informação (TI), composto também por empresas de Segurança da Informação (SI), tem ganhado cada vez mais importância na economia global. Consequentemente, a responsabilidade das empresas do setor em relação à sustentabilidade ambiental, social e de governança (ESG) cresce na mesma proporção. De acordo com a Gartner, até 2026, a sustentabilidade ambiental será uma das prioridades para 70% das empresas que contratam serviços de TI. Isso se deve à crescente atenção dos consumidores e investidores em relação às questões de ESG e à busca por fornecedores alinhados com esses valores.
Diante deste cenário, para que o setor se mantenha em ascensão, é crucial não se atentar às questões ESG apenas em operações próprias, mas também em toda a cadeia de fornecimento para que, desta forma, seja viável sua manutenção no mercado ao longo do tempo. Isso porque, nos últimos tempos, as empresas têm se deparado com impactos em sua imagem e em suas operações devido à má atuação de terceiros e, conforme os principais frameworks de mercado, terceirizar uma atividade não significa evitar riscos, mas sim compartilhar.
Em termos de regulações e legislação, é possível citar a resolução CMN nº 4893, que se trata de uma importante ferramenta de regulamentação do sistema financeiro brasileiro e busca aumentar a segurança e a estabilidade do setor por meio da adoção de boas práticas de governança, gestão de riscos e compliance. Sua implementação contribui para um sistema financeiro mais saudável e transparente, o que beneficia tanto as instituições financeiras quanto os seus clientes.
Além disso, a SASB (Sustainability Accounting Standards Board), que é uma organização sem fins lucrativos e desenvolve padrões contábeis de sustentabilidade para diversas indústrias, entre elas, as de TI, busca evidenciar fatores ESG relevantes em termos de impactos financeiros e operacionais para as empresas. Dentro destes fatores evidenciados pela SASB para o setor de TI, podemos destacar o crescimento da oferta de serviços baseados em nuvem, que implica no aumento do número de data centers e equipamentos de hardware. Portanto, gerenciar o uso de energia e água é um importante valor ambiental para os acionistas, que estão voltados às mudanças climáticas e às oportunidades de inovação em eficiência energética e energia renovável.
Outro ponto da SASB para o setor são as crescentes ameaças de segurança de dados, como os ataques cibernéticos e de engenharia social, que colocam em risco seus próprios dados e de seus clientes. Uma gestão eficaz da Segurança da Informação nessa área, começando pela matriz SoD (Segregation Of Duties), é importante para reduzir os riscos regulatórios e de reputação que podem levar a uma diminuição da receita, menor participação de mercado e ações regulatórias envolvendo possíveis multas e outros custos legais.
Em linha com a categoria de capital humano, nota-se que a indústria de TI está enfrentando a escassez de funcionários qualificados, o que leva a altas taxas de rotatividade e concorrência para adquirir novos talentos. Algumas empresas estão contratando estrangeiros e operações offshore, enquanto outras contribuem para programas de educação e treinamento para expandir a disponibilidade de funcionários qualificados domésticos. Portanto, é possível inferir que, para garantir a qualidade dos serviços prestados por fornecedores, as empresas da indústria de TI podem considerar a realização de auditorias que verifiquem a qualificação técnica dos funcionários desses fornecedores, bem como suas práticas de recrutamento, treinamento e retenção de talentos.
É importante ressaltar que os padrões da SASB para a indústria de TI fornecem às empresas orientações claras sobre quais tópicos de sustentabilidade financeiramente relevantes devem ser divulgados em seus relatórios, buscando disponibilizar informações úteis aos investidores e outras partes interessadas. Além disso, a adoção destes conceitos divulgados pela SASB pode auxiliar as empresas a identificarem e gerenciarem os riscos, aprimorando a estratégia, melhorando as operações e a reputação, o que garantirá, assim, a sustentabilidade do negócio ao longo do tempo.
Em resumo, fica um recado em especial para as empresas do universo de TI: buscar se atentar não somente às questões de governança, mas também aos aspectos ambientais e sociais caso queiram se manter relevantes no mercado, sem obviamente se esquecerem da cadeia de fornecedores, que também pode causar impactos em suas operações e imagens.
Erick Matheus Santos e Filipe Monteiro são gerentes na área de Internal Audit & Financial Advisory da Protiviti.