Apesar do valor inegável de se investir em tecnologia, existe uma grande dificuldade, por parte dos executivos, em definir quando e onde será realizado o investimento nesse setor. Para ajudar as companhias a entenderem quais iniciativas serão mais importantes no futuro, a Bain realizou uma pesquisa na qual foram deliberadamente analisadas atividades que já estão bem estabelecidas (como computação em nuvem e APIs) e evitadas aquelas que podem levar mais de uma década para tomar forma, como computação quântica. Entre as mil tendências analisadas, seis se sobressaíram:
Explosão de interação
Empresas e consumidores contarão com uma gama mais ampla de dispositivos para se comunicar e fazer as coisas. O mobile-first não será mais suficiente e estratégias omnimodel serão importantes, seja para interações que comecem com uma pessoa ou com um dispositivo autônomo. Um dos aspectos mais importantes dessa tendência será a capacidade das máquinas interagirem umas com as outras de formas mais contextuais e criativas, tomando decisões em tempo real com base em muitos parâmetros.
A IA de conversação sustentará muitas interações humano-digital com modelos de interface muito mais ricos que podem gerenciar e processar a entrada de celulares, tablets, câmeras, wearables, sistemas automotivos, interação por voz e uma ampla gama de sensores. Ela vai concentrar todo o poder de análise em tempo real, IA e aprendizado de máquina para transformar grandes quantidades de informações não estruturadas em valor.
Inteligência conectada
Agentes de inteligência artificial serão incorporados em todas as interações do cliente e processos, conectando informações, estruturadas e não estruturadas, sobre clientes e eventos, tudo para personalizar serviços e otimizar recursos. Essas experiências hiper personalizadas vão refletir a capacidade de entender um cliente com base em quem ele é, mas também de atendê-lo ao compreender o contexto do momento: onde ele está, como se sente, o que está tentando realizar.
Agentes inteligentes também serão usados em cadeias complexas de fabricação, fornecimento e distribuição de empresas. Muitas indústrias são gerenciadas de forma mais eficiente com o auxílio de gêmeos digitais, modelos que conectam dados de milhares de agentes e operam sob os mesmos parâmetros virtuais experimentados por suas contrapartes do mundo real. Isso permite que os engenheiros antecipem pressões e eventos que possam afetar o desempenho, tomando assim medidas preventivas. Cada vez mais, esses gêmeos digitais conscientes do mundo real reagirão quase em tempo real.
Significado distribuído
O aumento exponencial no uso de ativos digitais, cuja propriedade é garantida por meio de blockchain, moverá rapidamente os principais sistemas de registro para fora do controle proprietário da empresa. Essa tendência e seus vários usos, como NFTs, DAOs e criptomoedas, são cada vez mais chamados de web3. Ao mesmo tempo, o surgimento de ecossistemas de dados abertos, alguns impulsionados por iniciativas de direitos do consumidor e de dados, vai externalizar os principais dados corporativos e tornar mais fácil – e até obrigatória – a combinação de fontes de dados externas e internas.
Para a maioria das empresas, o objetivo é obter uma compreensão mais profunda e abrangente dos clientes, das cadeias de suprimentos e outros ambientes onde a empresa está inserida. Cada vez mais, obter uma vantagem competitiva dependerá de acessar esses dados críticos, compreendê-los, usá-los operacionalmente e controlar seu uso para a tomada de decisões correta. À medida que os ecossistemas de dados evoluem, as empresas se sentirão à vontade não apenas para derivar, mas também para compartilhar informações valiosas sem violar princípios de propriedade ou direitos de privacidade.
Modularidade ilimitada
Cada vez mais, as organizações poderão criar aplicativos a partir de componentes de software prontos. Hoje, mais de 54 milhões de projetos ativos estão publicamente disponíveis para desenvolvedores no GitHub, o maior repositório de código do mundo. Segundo algumas estimativas, mais de 75% do código no aplicativo de software médio vem dessas bibliotecas de software de código aberto.
Com códigos-fontes abertos e padronizados, haverá a oferta a um suprimento quase ilimitado de funções e componentes para aplicativos corporativos. Com a integração e operação de cada componente independentemente um do outro, os aplicativos corporativos se tornarão realmente modulares e serão executados em ambientes "sem servidor", o que permite dimensioná-los de forma massiva e contínua. Toda essa modularidade permitirá que as empresas executem suas tarefas rotineiras a baixo custo, enquanto investem para diferenciar os aplicativos que podem oferecer uma vantagem competitiva.
Corrida armamentista de cibersegurança
Quando se fala em ataques cibernéticos, uma coisa é certa: eles vão acontecer com mais frequência e de maneiras que as empresas nunca imaginaram. Um aumento de 485% nos ataques de ransomware nos EUA em 2020 é um sinal claro de que essas ameaças estão crescendo a um ritmo alarmante e estão se tornando mais sofisticadas. Isso exige um investimento em recursos defensivos mais robustos, resilientes e capazes de resistir e se recuperar de ataques. Essa escalada na sofisticação de ataques e proteção levará a um aumento contínuo nos gastos com segurança cibernética, que deve crescer cerca de 15% ao ano nos próximos três anos, com cerca de um terço das empresas esperando aumentar seus orçamentos de segurança em mais de 20%.
Uma cultura voltada para a segurança e para o serviço de acesso seguro de borda (SASE) – tecnologia em nuvem baseada em identidade digital -, vai combinar controles cada vez mais sofisticados para proteger o tráfego de dados. A inteligência artificial tende a desempenhar um papel maior no reconhecimento de padrões anormais de comportamento entre usuários, dados e código, sinalizando-os e determinando o melhor curso de ação.
Movimento perpétuo
Os processos ágeis passarão a ser adotados de forma mais ampla nas organizações, incluindo distribuição, gerenciamento de produtos, operações e funções gerais e administrativas. Esse padrão de adoção mais amplo fará com que métodos tradicionalmente centrados em tecnologia, como DevOps, se tornem a norma em todos os ciclos de vida de negócios, permitindo o surgimento de novas disciplinas adotando a terminologia Agile.
A codificação orientada para os negócios, incluindo os níveis mais altos de automação e a ampla adoção de estruturas de código baixo e sem código, reduzirão os ciclos de design, desenvolvimento e dimensionamento. A automação e a codificação orientada para os negócios vão acelerar os ciclos de vida da tecnologia, permitindo que as organizações façam mais com menos e mais rápido.
Sua organização está aberta à aceleração?
Junto com o dimensionamento contínuo de tendências estabelecidas, essas seis tendências terão efeitos profundos sobre as empresas. A tecnologia corporativa passará de plataformas fechadas e centralizadas para uma experiência digital centrada no cliente e ecossistemas abertos de engajamento inteligente. Isso pode impulsionar a eficiência, com automatização das operações para custos de 40% a 50% menores, metade do tempo de lançamento no mercado, crescimento do core business 10% mais rápido, vantagem de 20 pontos no NPS e um retorno de capital de 3% a 4% maior. Quando consideramos a soma dessas melhorias, o potencial de crescimento nos retornos totais para os acionistas pode chegar a 7% a 10% ao ano – efetivamente dobrando os retornos em sete anos.
Mas o caminho para a liderança por meio de decisões tecnológicas corretas não será fácil e irá desafiar os executivos em torno de quatro decisões de negócios importantes:
Estamos abraçando as possibilidades da tecnologia? Estarão em vantagem as empresas que entenderem e explorarem essas tendências tecnológicas, exigindo que as estratégias corporativas explorem todo o potencial de suas tecnologias.
Quais são os níveis de gastos corretos? Tirar o máximo proveito dessas tendências tecnológicas mudará a combinação de gastos corporativos para gastos maiores e mais persistentes em tecnologia.
Como nos preparamos para uma complexidade mais profunda? Essas tendências oferecem e exigem mais meios de engajamento, componentes de tecnologia e dados para analisar, aumentando a complexidade das decisões tecnológicas.
Podemos nos adaptar a um ritmo acelerado? Essas tendências estão impulsionando uma aceleração implacável da mudança e impulsionando a agilidade. É preciso entender quais capacidades e modelos operacionais são adaptáveis a essa próxima aceleração.