Internet das Coisas provoca mudanças em negócios e na rotina dos cidadãos

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2020 é o ano adotado por consultorias e empresas de tecnologia para marcar a transição da conectividade atual para um ambiente onde tudo – eletrodomésticos, carros e rodovias, vagas em shopping centers, supermercados, máquinas pesadas e dispositivos móveis, etc – estará conectado e gerando informações de diferentes naturezas para análise e tomada de decisões. Em 2009, pesquisas do instituto Gartner indicavam, em 900 milhões de "coisas" conectadas à internet, com IP próprio, e 1,6 bilhão de dispositivos pessoais (smartphones, tablets, computadores). A previsão da consultoria é de um aumento exponencial deste número nos próximos anos, atingindo aproximadamente 7,3 bilhões de dispositivos conectados a internet em 2020.

Já estão em curso projetos que vão desde as cidades inteligentes, com irrestrita conectividade à internet, e o uso intensivo de smartphones pela população, até atividades do dia a dia, como a sinalização de vagas disponíveis para carros em estacionamentos a partir de sensores conectados. Também comunicação de caixas eletrônicos (ATMs) com as centrais dos bancos para aperfeiçoar a logística e a necessidade de manutenção dos equipamentos.

São infinitas as possibilidades de aplicação de Internet das Coisas (em inglês Internet of Things, ou IoT), um ecossistema composto por hardware, software, serviços, conectividade e segurança. Mas é fato que a IoT está longe de atingir a amplitude imaginada pelos estudiosos que, na década de 1990, usaram o termo pela primeira vez para se referir à interconectividade entre objetos sem necessidade de interação humana. Pesquisas apontam que menos de 1% das coisas "conectáveis" existentes no mundo estão conectadas. Por outro lado, as tecnologias estão prontas, e a proliferação de experimentos e casos efetivos, nas mais diversas indústrias e campos do conhecimento, e com diferentes graus de complexidade, denota uma massificação explosiva da IoT.

Luis Claudio Mangi analista do Gartner, lembra que o uso de sensores e chips na indústria não é algo novo, assim como sistemas para monitorar e controlar ativos físicos à distância. "A novidade é a massificação proporcionada por uma miríade de fatores, como barateamento das tecnologias, queda de custos de telecomunicações e avanço da Internet Móvel de alta velocidade baseada nas redes 3G e 4G", diz.

O analista explica que, neste universo, há três conceitos que se interconectam: IoT, M2M (machine-to-machine communication) e Operation Technology, que são todas as soluções, sistemas e aplicativos que recebem informações e reagem a partir delas. Dividindo em ciclos, primeiro há o sensor se autoidentificando, ou seja, se conecta e se identifica; num segundo momento, ele estabelece a comunicação, transferindo os dados coletados; depois passa a receber dados em uma comunicação bidirecional e age a partir dessas informações; e, por fim, passa a negociar com outras ''coisas'', um estágio mais avançado e sofisticado na cadeia de IoT.

Mercado bilionário

Todas as pesquisas nessa área indicam que Internet das Coisas deve gerar cifras altíssimas com forte impacto no PIB global. Segundo o Gartner, algo como US$ 1,9 trilhão em 2020, contra US$ 0,4 trilhão em 2014. Na safra atual de benefícios, o analista Luis Claudio Mangi cita que, entre as ações de IoT, o conceito de smart city tem gerado resultados em mobilidade e segurança pública, principalmente.

"Quando analisamos o resultado para as empresas, esse tipo de benefício ainda está muito localizado na produtividade e eficiência interna", diz. Para o analista, o cenário atual reflete uma ampliação de soluções e atividades com a aplicação das tecnologias já existentes, a partir da massificação do uso de sensores. "Por exemplo, boa parte dos estacionamentos de shoppings já têm sensores de proximidade instalados nas vagas". Outros exemplos setoriais são: uso de medidores inteligentes na área de distribuição de água, gás e energia elétrica; os carros conectados do setor automotivo; os dispositivos de saúde conectados; prédios e casas inteligentes na área de construção civil e mobiliário; e a manufatura inteligente.

IoT está diretamente ligada e depende da infraestrutura de telecomunicações para chegar à massificação, em especial das redes móveis, sem a qual não se tem infraestrutura para permitir que sejam desenvolvidos novos modelos de negócios. O analista do Gartner avalia que "estão surgindo novos modelos de negócios, mas muitos outros surgirão sobre o intenso processo de digitalização que está em curso". Algo que depende efetivamente das operadoras de telecomunicações, não só pela questão do dimensionamento adequado das redes de dados que darão suporte às transações, mas também porque estas empresas estão buscando outras fontes de receita, se reposicionando para explorar em segmentos com maior margem de receita.

Na Embratel, o Diretor Executivo de Marketing e Plataforma de Serviços, Marcello Miguel, diz que altos investimentos do Grupo América Móvil em Data Centers, soluções na nuvem e mobilidade deixaram as empresas do grupo aptas a atender o mercado em toda a cadeia de valor da IoT, ajudando clientes a melhorar produção, distribuição e receita. "Fornecemos redes de conectividade, sistemas de controle e análise, chips e equipamentos, estes dois últimos por meio de parcerias", afirma o executivo.

Para ilustrar, o executivo menciona o caso hipotético de gestão de trânsito com uso de sensores e chips 3G ou 4G para envio de dados ao sistema central de controle. Composto por ferramenta de análise de dados complexos, o ambiente ficaria a cargo da HITSS, empresa de TI do grupo. Os sensores e o dispositivo móvel 3G/4G seriam fornecidos por parceiros. A solução incluiria, além do fornecimento do hardware e software, hospedagem no Data Center da Embratel e gerenciamento de aplicações. "Caberia ao cliente a gerência sobre decisões tomadas a partir da análise dos dados coletados", diz.

O mercado de M2M já começou a migrar da conectividade 2G para 3G e 4G. E, até 2018, a maior parte das conexões de IoT deve se realizar nestas redes. A expectativa é que em 2017 já sejam fabricados mais dispositivos M2M com tecnologia 3G ou 4G do que 2G, no mundo. O principal indício da virada vem dos Estados Unidos, onde as operadoras já divulgaram planos de desligamento de redes 2G e terão a maioria dos dispositivos da Internet das Coisas ligados a redes celulares 3G até dezembro desse ano.

O uso de soluções móveis pelas empresas tende a crescer nos próximos anos, na visão de Jacinto Miotto, diretor Executivo da Embratel e Claro Empresas – SP. O desafio agora é cada setor identificar a melhor aplicação para suas necessidades específicas. Jacinto observa que o segmento automotivo e a indústria estão à frente, enquanto o governo avança nas áreas de mobilidade urbana, segurança pública e cidades digitais. Mas ele vê, no comércio e nos serviços, potencial para inovações de grande impacto na rotina das pessoas. "Sobretudo quando todas as coisas, como eletrodomésticos e vestuário, estiverem conectadas." Para o diretor executivo, a universalização da existência conectada, traduzida em conceitos como smart home e smart living, é só uma questão de tempo.

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