A fabricante chinesa de PCs Lenovo ainda terá de convencer os funcionários do Comitê de Investimentos Estrangeiros dos Estados Unidos (CFIUS, na sigla em inglês) que a compra da unidade de servidores low-end da IBM não dará acesso à China às backdoors — portas dos fundos, em tradução livre —, que permitem a invasão a sistemas para obter segredos ou o controle ilegal de computadores e, por conseguinte, o acesso às informações e arquivos neles contidos.
O problema é que o Pentágono, o FBI e as maiores operadoras de telecomunicações do país compram servidores IBM, segundo pessoas familiarizadas com o assunto disseram à Bloomberg. O CFIUS é o órgão que avalia os riscos de aquisições estrangeiras feitas por agências de segurança nacional ou empresas americanas com operações estratégicas.
Com sede em Pequim, a Lenovo anunciou a compra da divisão de servidores low-end da IBM em janeiro, por US$ 2,3 bilhões, e tem procurado obter a aprovação para o negócio do CFIUS, segundo as mesmas fontes. As aquisições de empresas norte-americanas por companhias chinesas estão crescendo e, ao mesmo tempo, aumentando a tensão em Washington, devido ao receio também de que a China tenha acesso a tecnologias dos EUA.
Escrutínio rígido
O número de transações examinadas pelo CFIUS envolvendo a compra de empresas americanas por investidores chineses em 2012 mais do que dobrou, o que fez com que as companhias estrangeiras passassem a ser mais escrutinadas, tanto que hoje um parecer do órgão pode demorar até 75 dias, de acordo com relatório recente enviado pelo comitê ao Congresso Nacional.
A fabricante chinesa, que comprou a divisão de computadores pessoais da IBM em 2005, tem usado essa aquisição para tentar persuadir os funcionários da CFIUS sobre a transparência do negócio, lembrando que não terá acesso a servidores de órgãos do governo, porque a IBM continuará como responsável pela manutenção. Esse acordo com a IBM tem a duração de cinco anos e poderá ser prorrogado.
O contrato de serviço pode ajudar a acelerar a revisão de segurança feita pelo CFIUS, mas a análise deve ser bastante rígida. "O governo vai lançar um olhar mais acurado para o grau de penetração dos servidores, onde estão instalados, se são velhos ou novos e a capacidade de cada um deles", disse Mario Mancuso, advogado do escritório Frank, Harris, Shriver & Jacobson LLP, ouvido pela agência de notícias. "Eles podem usar os servidores como um meio de inserção em redes e sistemas de dados do governo dos EUA?", é a pergunta a ser feita, segundo ele.
As autoridades americanas também vão examinar a utilização dos servidores em infraestruturas críticas, tais como fábricas de produtos químicos e empresas do setor de energia, disse Michael Wessel, membro da Comissão Econômica e de Segurança EUA-China. "Exfiltração e infiltração são as questões", disse ele. "Eles podem obter acesso aos servidores de alguma forma e levar os dados para fora ou podem se infiltrar no sistema para inserir vírus, malware ou derrubar sistemas em uma situação de potencial conflito?", é outra questão a ser colocada, segundo ele.
Caso a revisão de segurança não seja aprovada ou a Lenovo desista de adquirir a unidade de servidores da IBM, ela terá de pagar multa de US$ 200 milhões, segundo acordo de compromisso assinado por ela na ocasião do fechamento do negócio, disse uma das pessoas envolvidas na negociação.