China lança satélite quântico para testar comunicações à prova de hackers

0

A China lançou um satélite para testar se as comunicações podem ser à prova de monitoramento indevido. Ao contrário de iniciativas anteriores, que replicavam os programas espaciais russos e norte-americanos de décadas atrás, o novo satélite, se bem-sucedido, colocará a China na vanguarda de uma nova tecnologia. Batizado de Micius, em homenagem a um antigo cientista e filósofo chinês, o satélite foi lançado nesta terça-feira, 16, de uma base militar no deserto de Gobi. Fótons — ou partículas de luz — serão disparados por ele para verificar se a física quântica é capaz de gerar chaves criptográficas seguras para comunicações de longo alcance.

A tecnologia que está sendo testada decorre do princípio do entrelaçamento quântico, por meio do qual duas partículas, no caso fótons, realizam uma conexão quântica  instantânea. Se o entrelaçamento perdurar na distância entre o Micius e a Terra, com a informação passando através de uma rede de satélites, estará estabelecido, em princípio, uma comunicação praticamente inviolável.

"O projeto é um marco para tecnologias quânticas", destacou Ronald Hanson, da Universidade Técnica de Delft, um dos principais pesquisadores da tecnologia quântica na Europa. "Com este lançamento, a China se torna a pioneira no desenvolvimento de uma rede global de comunicações quânticas", disse ele ao Financial Times.

O coordenador do projeto, o cientista Pan Jian-wei, da Universidade de Ciência e Tecnologia da China, em Hefei, disse que US$ 100 milhões foram investidos até agora para o satélite operar corretamente, mas que ainda é preciso esperar vários meses de coleta de dados antes que o experimento possa ser considerado um sucesso.

A equipe de Pan Jian-wei fará o primeiro teste do envio de uma chave de segurança de Pequim para a cidade de Urumqi, na fronteira da China com a Ásia Central, e depois de Pequim para Viena. O sinal fraco significa que a transmissão só pode ser testada no período noturno. Se a experiência for bem-sucedida, a equipe espera lançar um segundo satélite dentro dos próximos quatro ou cinco anos. "Para uma rede quântica, um satélite não é suficiente", disse ele.

Em uma internet quântica, composta de computadores quânticos, a espionagem das comunicações seria impossível. O satélite também pode ser usado para experimentos em ciência quântica a distâncias que antes eram inatingíveis. Com os sistemas baseados em terra, a natureza complementar dos fótons degrada depois de cerca de 300 km. A distância recorde de comunicação quântica usando fibra óptica é pouco mais de 100 km.

O lançamento o Micius é fruto também do crescente interesse de vários países em pesquisa quântica. Um exemplo é o programa para tecnologias quânticas da União Europeia, no qual já foram investidos 1 bilhão de euros.

A estatal chinesa vem despejando somas vultosas de dinheiro em projetos científicos. O investimento em pesquisa básica da National Science Foundation Natural, de Pequim, subiu para cerca de US$ 10 bilhões em 2015, embora ainda seja bem inferior aos US$ 131 bilhões aplicados pelos EUA no mesmo ano.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

This site is protected by reCAPTCHA and the Google Privacy Policy and Terms of Service apply.