Criptomoedas – Um novo "Índice de Corrupção"?

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Recentemente, a operação Lava Jato encontrou evidências de lavagem de dinheiro usando BitCoins, pelo ex-governador do Estado do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral. Estas são notícias que eu esperava que já estivessem nas primeiras páginas dos jornais há pelo menos uns meses. Uma vez que a evidência de corrupção no Brasil atingiu valores surpreendentes, e que agora temos certeza que foram dezenas de bilhões de dólares, continuo me perguntando onde todo esse dinheiro foi parar.

Alguns meses atrás, R$ 51 milhões foram encontrados pela Polícia Federal em um apartamento em nome do ex-ministro Geddel Vieira Lima. Esta tática explica a ponta do iceberg do destino do dinheiro. Não é viável esconder a quantidade total de corrupção nos últimos 14 anos em grana.

O "advento" da evidência do uso da BitCoins explica não apenas o destino do dinheiro da corrupção brasileira, mas até certo ponto, aqueles de ditaduras corruptas, como Cuba e Venezuela, entre muitos outros. Existe uma simetria notável entre o início da aplicação de medidas como BEPS (Base Erosion and Profit Shifting – legislação emitida pela OCDE em 2013 para coibir uso indevido de bancos e jurisdições) e as restrições ao uso de Paraísos Fiscais, com o aumento das moedas criptografadas.

Pode-se argumentar que as criptomoedas não são apenas "moedas", mas "ativos", o que me parece tecnicamente correto. Isso leva à próxima pergunta: que tipo de "ativo" aumenta quase 10.000% de valor em 5 anos, e com base em o que? A demanda e a oferta explicam esse fato – alguém quer esse troço. Claro que a próxima pergunta é "de onde vem a demanda" e como os investidores em geral, sempre desconfiados de tudo e todos, podem jogar dinheiro em tal "ativo", mostrando uma confiança que normalmente não está disponível para outros investimentos mais tangíveis?

Eu não arriscaria dizer que toda essa valoração vem da corrupção e do submundo do crime, obviamente, mas acho que a maior parte deve vir de corrupção e evasão de impostos, pura e simples. Você não precisa ser um gênio para deduzir essa aí.

Venho, assim, propor à Transparência Internacional que comece a monitorar a variação das principais criptomoedas em circulação. Talvez isso possa dizer muito sobre o nível de corrupção no nosso mundo. Façam uma checagem dessas variações com a quantidade de dinheiro originária de cada país. Talvez vocês possam ter uma ótima oportunidade para definir um novo indicador de corrupção. E confiável…

Eu não desgosto da criptografia em si. Eu simplesmente não penso que teremos um mundo melhor sem clareza de grandes fundos, mudando de mãos sem aviso prévio e sob o radar das agências de aplicação da lei.

Wesley Montechiari Figueira, sócio diretor da empresa Russell Bedford Brasil e é YPOer – Capítulo de Curitiba.

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