Medidas para estimular economia na China reduzirão competitividade de empresas de tecnologia dos EUA

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As recentes injeções de US$ 100 bilhões no Banco de Desenvolvimento da China e no Banco de Importação e Exportação do país, entre outras medidas adotadas pelo governo chinês para estimular sua economia em desaceleração e restaurar a confiança dos investidores terão um efeito importante no setor de tecnologia — o fortalecimento das empresas chinesas e, por consequência, a perda de mercado das companhias norte-americanas, que já não estavam tendo uma vida nada fácil no país.

A decisão do governo central, no início deste mês, de desvalorizar a moeda chinesa deve dificultar ainda mais as vendas para as empresas dos EUA no país, tornando seus produtos mais caros para os consumidores locais. Por outro lado, o iuan mais baixo torna os produtos chineses mais baratos no exterior, o que vai ao encontro da política governamental de promoção das vendas externas por fornecedores de tecnologia chineses.

"O principal motor [da ação governamental] são as exportações", disse ao The Wall Street Journal Handel Jones, consultor da International Business Strategies e autor de livros sobre o setor de alta tecnologia da China. "As empresas chinesas vão se tornar mais agressivas."

A China é famosa pela produção de baixo custo e, devido também à sua enorme população, que equivale a 20% do total global, se tornou o alvo preferencial para muitas empresas americanas. Mas o país não é mais apenas um consumidor e fabricante de produtos concebidos no exterior. As empresas locais estão desenvolvendo projetos nas áreas de dispositivos móveis, PCs e outros produtos, e alguns estão começando a disputar mercados dominados em grande parte por empresas norte-americanas.

Em smartphones, a China já é o maior mercado do mundo, e empresas como Xiaomi e Huawei Technologies têm lançado mão de um design atraente e preço baixo dos produtos para se tornarem a número 1 e 2, respectivamente, em vendas. As marcas chinesas ficaram com quatro das cinco principais posições no ranking de vendas de smartphones no país no segundo trimestre deste ano, de acordo com dados da IDC (veja gráfico abaixo).

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A Apple, a número 3, ainda colhe frutos das vendas do iPhone, obtendo enormes lucros na China. Mas a Samsung já não está entre os cinco maiores fornecedores o país, de acordo com a IDC. Problemas em sua unidade móvel ter provocado quedas no lucro líquido há cinco trimestres consecutivos.

A desaceleração da demanda interna não tem ajudado. As remessas de smartphones para a China caíram 4% no segundo trimestre deste ano, aponta o Gartner, observando que está é a primeira vez que o mercado registra recuo em anos. Nesta semana, a IDC reviu para baixo (de 2,5% para 1,2%) a projeção de crescimento das vendas de aparelhos, em unidades, neste ano ­— em 2014, o crescimento foi de 19,7%.

Em busca do mercado externo

Esse desaqueciamento do mercado interno é o que está incentivando os fabricantes chineses de celulares a olhar para o exterior. A Xiaomi, por exemplo, começou a vender smartphones no Brasil e na Índia. A Huawei, que há muito tempo opera no mercado internacional, tem metade de suas vendas fora da China. Agora, a empresa está concentrando esforços para aumentar as vendas no Peru e em outros países sul-americanos.

O crescimento das marcas chinesas se estende ao mercado de computadores pessoais, servidores e dispositivos de rede. Clientes chineses em muitos casos estão dando preferência para produtos de empresas locais, o que tem reduzido significativamente a participação de empresas como HP, IBM e Cisco Systems.

Em servidores, por exemplo, a chinesa Lenovo alcançou a primeira posição em vendas no país, após a conclusão da compra da divisão de servidores x86 da IBM. As vendas de servidores da empresa na China mais do que dobraram no segundo trimestre, segundo a IDC. A Huawei, que ficou em segundo lugar em vendas de servidores, registrou um salto de 30% nas vendas. Já a HP, maior fabricante de servidores do mundo, cresceu apenas 9% na China no trimestre e ficou em quinto lugar no ranking. As remessas de unidades de servidores da Dell para a China caíram 2,5%.

A própria escala do mercado chinês torna o cenário ainda mais preocupante para as empresas estrangeiras. O país deverá gastar cerca de US$ 211 bilhões neste ano em tecnologia da informação, com exceção dos serviços de telecomunicações, estimou a IDC, antes das recentes oscilações econômicas. A cifra só perde para os EUA e representa cerca de 10% da despesa mundial total em TI.

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