Uma etapa fundamental para a criação de novos medicamentos, a pesquisa clínica movimenta mais de US$ 50 bilhões por ano em todo o mundo. Todos os anos, a indústria farmacêutica seleciona centros de pesquisa de ponta para sediarem esses estudos, um trabalho colaborativo que envolve os principais laboratórios, hospitais e universidades de medicina. Nesse processo, porém, o Brasil ainda possui um papel secundário – apenas 1% da pesquisa clínica mundial é realizada no país, um percentual muito menor do que o de países como Estados Unidos (44,1%), Rússia (1,6%), Coréia do Sul (1,4%), China (1,4%) e Índia (1,2%).
"Há um grande problema de comunicação. A indústria farmacêutica tem dificuldade para encontrar centros médicos especializados em determinadas doenças e os centros, por sua vez, precisavam passar por um processo bastante burocrático para se inscrever nas pesquisas. O resultado disso é uma ineficiência geral no processo de desenvolvimento de novos medicamentos", afirma Fábio Thiers, médico brasileiro e PhD pela divisão de Ciências da Saúde & Tecnologia de Harvard e do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Analisando esse cenário, ele desenvolveu uma plataforma global gratuita para facilitar a participação em pesquisas clínicas – o ViS (www.visresearch.org).
O ViS é uma plataforma online que simplifica e distribui toda a informação relevante para a seleção dos centros de pesquisa. Ela agrega dados sobre os 400 mil centros de pesquisa espalhados pelo mundo, assim como sobre as cidades, estados e países em que estes centros operam. "Temos uma solução pioneira que integra de forma eficiente e intuitiva os dados técnicos gerados por nós e os perfis dos centros de pesquisa, com acesso gratuito", explica.
O mapeamento de toda a infraestrutura de pesquisa global (centros, pacientes, pesquisadores, entre outros dados) foi feito por algoritmos desenvolvidos pelo Dr. Fabio Thiers desde 2003, começando quando ele era pesquisador na Harvard e subsequentemente como diretor do Programa de Pesquisa sobre Planejamento de Pesquisa Clinica Global no MIT. Essa atividade levou a importantes publicações, como o principal artigo de referencia no assunto publicado na Nature Reviews em 2008.
Novos remédios mais rapidamente
O grande ganho para a sociedade é que a plataforma ViS torna mais ágil o processo de criação de novos remédios. "É uma tecnologia muito inovadora, que pode diminuir de 6 meses a um ano o tempo médio de desenvolvimento de um medicamento", explica o Dr. Gustavo Kesselring, diretor de Engajamento Global de Centros de Pesquisa do ViS. Atualmente, uma nova droga pode levar entre 9 e 12 anos para chegar ao público.
A indústria farmacêutica também é beneficiada com a redução nos custos das pesquisas clínicas. Segundo levantamento feito pelo Instituto de Pesquisa, em média US$ 10 bilhões são desperdiçados todos os anos por causa de ineficiências na seleção de centros de pesquisa, o que representa de 15% a 20% do valor total utilizado nas pesquisas clínicas. Com a utilização da plataforma ViS, a economia para indústria como um todo pode chegar a US 5 bilhões. Esta redução de custos e ganho em velocidade deve permitir que o desenvolvimento de certos medicamentos se viabilizem economicamente, especialmente os que afligem pacientes em países emergentes como o Brasil.
Para o Dr. Gustavo Kesselring, o aspecto colaborativo global é a pedra fundamental do ViS. "Tudo funciona porque, além dos ganhos de eficiência, o ViS traz para os centros uma oportunidade única e gratuita de se conectar globalmente. Hoje esses centros gastam muito com marketing ou respondendo questionários. Por meio do ViS, os pesquisadores poderão colaborar nas pesquisas clínicas globais, receber novos investimentos e focar no que é o principal: a ciência e os pacientes", destaca.
Como funciona
Para participar, os centros de pesquisa podem se registrar gratuitamente no site http://www.visresearch.org. Após um simples processo de identificação dos responsáveis pelo centro, estes podem usar as ferramentas do sistema para a criação rápida de perfis para cada doença estudada. A informação disponibilizada fica sob controle do centro e inclui tudo que é comumente perguntado para eles em questionários da indústria, incluindo dados de como infraestrutura, pacientes, time, pesquisas, rede de colaboradores entre outros.
As empresas farmacêuticas também terão um login gratuito e podem procurar por centros de pesquisa filtrando por doenças ou localidade. Ao clicar no nome do centro, terão as informações atualizadas disponíveis e poderão tomar decisões mais apuradas.