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Transformação digital traz um novo aroma para o vinho

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A transformação digital atingiu muitos setores da economia, alguns diferenciados, como o da vitivinicultura. Um exemplo, foram as mudanças que a tecnologia propiciou para a Salton, a mais antiga vinícola em atividade no Brasil, com 112 anos de existência, liderando as vendas de espumantes em todo o país desde 2005. Seus rótulos são apreciados em mais de 30 países e acumulam mais de 200 premiações nacionais e internacionais, conquistadas nos três últimos anos.

Maurício Salton, CEO da Família Salton, concedeu uma entrevista por e-mail para aTI INSIDE, descrevendo a jornada das empresas em diversas atividades que ela desenvolve em quatro unidades de negócios: a Vinícola Salton, em Bento Gonçalves-RS; a Azienda Domenico, em Santana do Livramento-RS; a Enoteca Família Salton, em São Paulo -SP; e o Complexo Presidente, em Jarinu-SP.

P- Quais os fatores que motivarem a Salton, tradicional empresa de vinicultura, a “fermentar” um projeto de transformação digital aplicada desde o processo de cultivo da uva até o produto final, o vinho.

R- A empresa investe recorrentemente em novas tecnologias e conhecimentos que possam proporcionar uma gestão mais especializada e consistente sobre seus processos técnicos. A transformação digital torna-se protagonista neste sentido, pois o caminho para aprimorarmos continuamente a qualidade de nossos produtos depende da melhor gestão de dados, confiabilidade de processos e redução de subjetividades.

P- Qual a importância da tecnologia e inovação para manter, principalmente, a sustentabilidade da uva, de seu plantio até a taça do consumidor?

R- A tecnologia e a inovação são fundamentais para assegurar padrões de qualidade sobre processos, testar novos modelos de manejo de vinhedos, ampliar produtividade sem prejuízos qualitativos e, especialmente, reduzir impactos negativos que, na viticultura, podem-se relacionar diretamente com redução de agroquímicos e preservação de biomas.

P – A Salton criou o Núcleo de Inovação, Pesquisa e Desenvolvimento. Quais os seus objetivos, como ele funciona, qual perfil da equipe técnica formada? Tem participação da Universidade?

R- O Núcleo foi estruturado para acelerarmos a atualização da empresa, especialmente em termos voltados a uma vitivinicultura cada vez mais especializada, mudanças no mercado consumidor e práticas sustentáveis abrangendo nossa cadeia produtiva. Temos um quadro multisetorial de modo potencializar ideias e percepções. Neste período, trabalhamos com a Universidade de Caxias do Sul, a Universidade Federal de Santa Maria e recentemente com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Campus Bento Gonçalves.

P – Quais projetos o Núcleo está desenvolvendo? Qual a importância do uso de dados para criar uma estratégia, que abrange desde sua criação, processos administrativos até o produto final?

R- O Núcleo abrange inúmeros projetos que vão desde a calibração de solos para melhor aplicação de nutrientes, estruturação de um BI técnico que registra o resultado de dezenas de análises físico-químicas de uvas e mostos de diferentes produtores e regiões, apuração do inventário de emissão de gases de efeito estufa da empresa, dentre outros. O uso de dados é fundamental para reduzirmos subjetividades do processo decisório e mapearmos, com consistência, fragilidades e oportunidades de nossa cadeia produtiva.

P – A Salton iniciou em 2020 o desenvolvimento de um banco de dados para acompanhar de forma analítica as influências de ano e safra, com variáveis físico-químicas das variedades de uvas nas regiões produtora da Serra Gaúcha e Campanha. Qual a importância dessa inciativa e quais insights ela está trazendo para a Salton?

R- Este banco de dados oferece um histórico preciso que permite mapear as características de cada variedade de uva, produtor e região, safra após safra. Com base neste apanhado de dados teremos condições de aprimorar nossas estratégias de plantio, pré-definir o destino das uvas de cada produtor dentro do nosso portfolio de produtos e potencializar o trabalho junto a microrregiões que se destacam recorrentemente no aspecto qualitativo.

P – As pessoas normalmente têm uma imagem da produção artesanal do vinho, mas hoje a Salton está longe disso. Sua produção vai desde a automatização do campo aos processos produtivos. Pode contar como é essa jornada da produção do vinho?

R- A Salton é a maior produtora de espumantes do Brasil e uma das principais com relação aos vinhos. Nosso desafio ao longo de muitos anos foi escalar volumes com alta qualidade e alta conformidade, ao passo que conseguimos elaborar vinhos e espumantes reconhecidos tanto no mercado doméstico quanto no mercado internacional. A estrutura construída ao longo destes 112 anos permite que a empresa seja uma forte referência no manejo e condução vitícola junto a produtores e vinhedos próprios e um grande protagonista no processo de vinificação. Hoje, pelo conhecimento técnico e tecnologias aplicadas, temos uma pequena vinícola dentro de uma grande vinícola e é por isso que reunimos condições para elaborar produtos exclusivos e limitados e em grandes lotes, que asseguram uma importante participação de mercado.

P – A Salton usa robôs que fazem a medição do grau de açúcar da uva, manipulação dos tanques com controle de temperatura, umidade e volume que podem ser acompanhados em tempo real a quilômetros de distância. Pode dar detalhes desse projeto?

R- Este projeto é extremamente inovador dentro do cenário vitivinícola brasileiro. A nossa unidade de Santana do Livramento foi toda orientada para a vitivinicultura de precisão. Uma estratégia fundamental para equilibrar aspectos técnicos, produtivos e econômicos. A área de vinificação daquela unidade oferece condições para trabalho remoto e possui uma gestão integrada com inteligência artificial que, através de padrões e dados, monitora e regula automaticamente uma série de atividades relacionadas à elaboração.

P – Também está sendo implantado uma inovação exclusiva da Salton para controlar a fermentação de espumantes. Como funciona? Qual sua importância para a qualidade do produto?

R- O projeto compreenderá um arranjo tecnológico inovador composto por diferentes tecnologias, equipamentos, sensores, softwares e processadores todos integrados de forma harmônica e específica para o sistema industrial da Vinícola. Para isso, é necessário que os processos críticos de fermentação e estabilização do vinho recebam tecnologias que consigam antecipar e prever as variáveis do processo, programando com precisão a necessidade de frio, filtração e outras operações no momento exato. Foi necessário ir além da automação, desenvolvendo um sistema de hardware e software de controle em tempo real que, possa realizar inferências quando necessário para garantir ótimos resultados e qualidade do produto, com a quantidade mínima de intervenção possível. Trata-se de um projeto extremamente inovador com o objetivo de reduzir desperdícios, maximizar a consistência técnica e reduzir variações de elaboração ocasionadas por intervenções subjetivas.

P- A Salton também desenvolveu um aplicativo com objetivo de aprimorar a forma de coleta de dados sobre produções e matéria-prima recebida de produtores parceiros para garantir a qualidade dos produtos. Quais os resultados que a Salton está colhendo com essa iniciativa?

R- A Salton desenvolveu, em parceria com empresas desenvolvedoras de softwares, um aplicativo para integração digital da cadeia de produtores de uva. Basicamente, o software digitaliza e integra uma série de processos tais como:

  • Controle de visitas da equipe técnica aos produtores;
  • Controle de ocorrências de parte a parte, promovendo troca de informações ágeis e assertivas durante diferentes estágios de controle do vinhedo;
  • Envio de notificações aos produtores, tais como lembretes de tratamentos, instruções de trabalho e atualizações de manejo.
  • Possibilidade de solicitação de agendamento de visitas, tanto da Salton, quanto dos produtores;
  • Agendamento das entregas, garantindo maior assertividade quanto ao momento da colheita x preparação da empresa para recebimento dos insumos.

P – A empresa também tem uma preocupação com sustentabilidade para se ter equilíbrio entre o bioma e o uso da terra, o que também reduz o impacto sobre a fauna e a flora locais. Também implantou soluções para desperdício de água. Qual o compromisso da Salton com a sustentabilidade?

R- Ao longo de nossa trajetória centenária percebemos que o equilíbrio entre o aspecto econômico e o aspecto social foi um dos grandes pilares de sucesso da empresa. Crescer sob qualquer circunstância nunca foi uma atitude incentivada dentro do negócio. Nosso crescimento sempre foi balizado por trabalho árduo, práticas positivas, transparência e boas relações com nossos stakeholders. O crescimento da empresa não deve gerar prejuízos ao seu entorno, mas sim benefícios e melhorias.

P – Qual os investimentos previstos, expectativas de crescimento e produtividade que transformação digital pode trazer para Salton nos próximos anos?

R- Pretendemos atingir a receita de R$ 1 bilhão até 2030, sendo assim os próximos anos passam por aumento de vinhedos, ampliação da capacidade produtiva e modernização tecnológica de nosso parque fabril. Seguramente, as áreas de inteligência de negócio e tecnologia da informação serão, cada vez mais, decisivas para a formulação de estratégias, otimização de processos e redução de desperdícios.

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