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Não sou chefe, estou chefe !

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Quando você nasce, o maior orgulho do seu  pai é dizer que nasceu mais um que levará seu sobrenome.
Quando você cresce e começa a trabalhar você nasce novamente. Desta vez, para o mundo corporativo e, semelhante ao primeiro nascimento, também recebe um sobrenome: passa a se chamar o José da IBM, o João da Accenture ou o Carlos Alberto da XXXX. Também semelhante ao primeiro nascimento, quanto mais importante, exclusivo e pomposo for o sobrenome mais orgulhoso se sente.
Seu orgulho aumenta quando  percebe a quantidade de portas que se abrem quando você tem um sobrenome importante.
O passar dos anos na mesma empresa provoca em você sensações muito semelhantes a um namoro de muito tempo. Sente-se à vontade na casa do outro, leva-se pertences pessoais e você passa a mudar tudo: mesas, salas, quartos tudo fica com o seu jeito. Com o tempo você chega ao ponto de não conseguir diferenciar qual é a sua casa e qual é a casa do outro.
O sentimento de posse é gigantesco, sua convicção é de dono, a certeza é que jamais sairá de lá ou que nada existiu na sua vida antes dali.
Suas convicções aumentam com a subida no organograma. Você esquece (ou não aprende) que o poder no mundo corporativo é uma pseudo sensação de eternidade: você está muito próximo do "posso tudo". Seu orgulho transborda e a soberba toma conta.
Você tem uma postura muito semelhante ao pai de uma família patriarcal, senta-se na ponta da mesa no almoço de domingo pontualmente às 12h30min. Coitado daquele que chegar depois do horário!
Os anos passam e a subida no organograma continua. O sobrenome corporativo está tão enraizado que já não existe diferença entre o sobrenome familiar e o corporativo; sua família dirige-se a você como alguém mais ligado a sua empresa do que a ela; estão pedindo um espaço na sua agenda para almoçar contigo ou enviando requisição para você brincar com seus filhos pelo menos uma hora por semana.
Você aumenta diariamente o consumo da droga chamada poder. Ela é tão poderosa que mesmo em doses controladas causa extrema dependência e destruição, acaba com a sua lucidez, afasta amigos, família e constrói relações profissionais absolutamente interesseiras.
Nada é eterno, inclusive os empregos. Fusões, aquisições e reestruturações são manchetes contínuas de todos os jornais e, normalmente quando acontecem, sacodem as organizações com tamanha força que derrubam gente de todas as posições. Como diriam os mais velhos, quanto mais alto mais dolorido é o tombo.
Você acorda no dia seguinte sem o cartão corporativo, sem o poder da caneta e com um gosto tão amargo na boca que muitas vezes é insuportável! Os telefones que tocavam a todo minuto, ficam mudos; os pedidos de reuniões desaparecem; os amigos deixam de existir.
A dor de ter que mudar o nome da caixa postal do celular, retirando o sobrenome corporativo há tanto tempo presente, dói mais que perder um ente querido.
Por onde começar? Qual o primeiro passo? Um vazio toma conta de você e se não tomar cuidado, tudo isso se transforma em depressão.
É difícil deixar de atender ligações para ter que fazê-las; complicado constatar que não era o poderoso e sim ESTAVA poderoso.
Se tiver sorte, ainda terá a sua volta aquela família a quem pouco tempo você dedicou e achou que tudo que proporcionou era mais importante que a sua presença.
Ela te dará força e coragem para recomeçar e, a partir dela, conseguirá se levantar e voltar a ser não quem você foi, mas uma pessoa melhor. Entenderá que na vida somos, pai, marido, filho e nas corporações estamos chefe!

Alberto Parada, vice-presidente de Educação da SUCESU-SP, colunista e palestrante, integra o quadro docente nos cursos de MBA da FIAP, formado em administração de empresas e análise de sistemas, especialista em Gestão de Projetos e Outsourcing; atuou como executivo na IBM, CPM-Braxis, Fidelity e Banespa; é voluntário no HEFC, hospital para portadores de Câncer.

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