Enfrentando uma concorrência mais forte nos mercados de software e hardware, principalmente no segmento de servidores corporativos que representam uma grande fatia de sua receita, a HP anunciou nesta quarta-feira, 7, que vai investir mais de US$ 1 bilhão nos próximos dois anos para desenvolver softwares e ferramentas de computação em nuvem, num movimento que considera necessário para afastar a concorrência, mesmo que isso signifique canibalizar seus negócios de hardware e software legado.
O investimento vai consumir uma parcela substancial do orçamento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) da HP, que caiu 8% no último ano fiscal, para US$ 3,1 bilhões. O dinheiro também irá para a contratação de mais desenvolvedores e consultores que ficarão dedicados a projetar, construir e executar sistemas de nuvem. A empresa disse ainda que vai ampliar a disponibilidade de seu software em nuvem de dois para 20 data centers ao longo dos próximos 18 meses.
A aposta da CEO Meg Whitman é que o esforço vai trazer uma nova classe de clientes corporativos que preferem alugar a tecnologia de computação e software, em vez de imobilizar capital para manter seus próprios sistemas. Nos últimos meses, Microsoft, IBM e a Cisco Systems também anunciaram estratégias agressivas para avançar para a nuvem.
O esforço visa também recuperar a rentabilidade da HP depois de um período de turbulências. Meg Whitman conseguiu estabilizar a empresa ao longo dos últimos dois anos, mas ainda não foi capaz de trazer de volta o crescimento das vendas e a reputação de empresa inovadora de outrora.
Aposta arriscada
Para analistas, a nova estratégia representa uma aposta arriscada na tecnologia de código aberto conhecida como OpenStack, uma plataforma de hospedagem e gestão de cloud para a qual a HP está lançando sua própria distribuição do software que, embora esteja ganhando força no mercado, ainda é jovem e precisa de mais desenvolvimento.
A HP planeja usar o OpenStack e outros programas de código aberto para conectar sistemas de computadores que operam na internet pública com nuvens privadas que funcionam internamente nas instalações de uma empresa. A combinação é conhecida como nuvens híbridas.
A distribuição própria do OpenStack será a base de um conjunto de produtos e serviços que HP vai oferecer na nuvem, sob a marca Helion, concorrendo com distribuições próprias da Red Hat, Oracle, Canonical e outras empresas. Para os analistas, a oferta desse software poderá prejudicar as vendas de software em nuvem da HP que os clientes pagam para gerenciar seus data centers.
A estratégia também representa uma ameaça para o negócio de servidores e outros equipamentos. No ano fiscal de 2013, encerrado em 31 de outubro do ano passado, as vendas do grupo de servidores caíram cerca de 5%, para US$ 28,2 bilhões, embora elas tenham subido 1% no último trimestre fiscal. A empresa já tem reduzido a participação dessa unidade, em parte devido à crescente popularidade da computação em nuvem. E o OpenStack poderá aumentar a pressão sobre as tecnologias de armazenamento e de rede de propriedade da HP, porque o software é executado em todo o data center.
Cliente insatisfeito
Também não está claro se a HP tem pessoal para executar a estratégia. Stuart Kippelman, diretor de informação do fornecedor de energia alternativa Covanta Holding, disse estar feliz com o serviço para seus servidores HP, mas admitiu estar decepcionado com o desempenho dos seus serviços de nuvem, alguns dos quais fornecidos pela HP. “A HP poderá construir o melhor data center do mundo, mas se levar duas horas para atender o telefone quando eu precisar dela, a tecnologia então não significa nada”, disse Kippelman ao The Wall Street Journal.
Procurada pelo jornal americano, a HP disse que as relações com os clientes são a base do seu negócio. “Quando a HP toma ciência de uma preocupação, trabalhamos em estreita colaboração com nossos clientes para investigar rapidamente a situação para determinar a causa e resolver o problema”, disse um porta-voz.
Outra questão é que o valor anunciado pela HP significa quase nada na comparação com os investimentos em nuvem de concorrentes como o Google, Amazon.com e Microsoft, que estão gastando de US$ 1 bilhão a US$ 2 bilhões por trimestre para construir data centers e adquirir os imóveis necessários, além de bilhões a mais em P&D por ano.
Os analistas consideram a HP um player competitivo em nuvem privada, mas fraco em nuvens públicas. “Eles não desenvolveram uma oferta de produto suficiente pelo preço certo para combater a Amazon, por exemplo”, disse a analista do Gartner, Lydia Leong, ao diário americano. Mas o chefe de tecnologia de nuvem da HP, Martin Fink, rebateu dizendo que estas empresas necessitam da segmentação de nuvens híbridas.
A HP disse ainda que está oferecendo um programa de indenização, sem limite monetária, para proteger seus clientes, bem como clientes de prestadores de serviços que oferecem software de código aberto baseado em nuvem da HP.