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Metaverso: mundo nem tão novo e nem tão admirável

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A maior parte das pessoas talvez não saiba ou tenha esquecido as origens da internet a qual foi concebida com objetivos militares em 1969, em plena Guerra Fria, a partir de um projeto da agência norte-americana ARPA (Advanced Research and Projects Agency), como um canal de comunicação não centralizado e protegido de ataques nucleares. A então chamada Arpanet, que se desenvolveu para outros setores, como universidades e instituições científicas, dava garantias de que a comunicação entre militares e cientistas persistiria, mesmo em caso de bombardeios.

A partir de 1987, a Arpanet, já chamada de Internet, teve seu uso comercial liberado. Primeiro nos Estados Unidos, espalhando-se rapidamente a partir de 1992, quando o CERN, Laboratório Europeu de Física das Partículas, inventou a world wide web, ou simplesmente web, que começou a ser utilizada para disponibilizar e disseminar informações ao alcance de quem pudesse acessar a rede. Em 1995, a exploração comercial foi liberada no Brasil.

Desde o princípio, o ambiente da internet representa e possui protocolos e mecânicas próprias, onde a principal evolução foi como os usuários os utilizam, a chamada interface de usuário ou, em inglês, user interface ou simplesmente UI. A UI, melhor definida como tudo aquilo que é perceptível visualmente em alguma plataforma e o leva a uma interação positiva, seja com o próprio ambiente ou com outros usuários, é o princípio do que hoje é chamado metaverso.

Assim, usando uma linguagem simples, o primeiro metaverso importante, veio em uma era pré-internet foi o Bulletin Board System. Os BBS, que utilizavam o canal de comunicação então estabelecido e eram mais ou menos como provedores web (com fóruns, servidor de e-mail, bate-papo e download de arquivos). Cada um era um mundo a parte.

A partir dos pré-históricos BBS, o metaverso vem se desenvolvendo na medida em que os recursos tecnológicos evoluem e que hoje fornecem a sofisticação da realidade aumentada,3D e tudo aquilo que a gente já sabe. Mas, é importante lembrar que a UI sempre foi suportada por uma retaguarda que também foi ficando cada vez mais sofisticada, os conhecidos aplicativos que funcionam em uma camada entre a internet e a interface com o usuário, que contam hoje com o “aprendizado das máquinas”, “big data”, e inteligência artificial. Os famosos algoritmos.

Isso nos leva ao metaverso importante representado pelas redes sociais, que são aplicativos, porém com uma UI com grau limitado de sofisticação, que representa espaços virtuais onde grupos de pessoas ou empresas se relacionam através do envio de mensagens, da partilha de conteúdos, entre outros. Ou seja, não muito diferente na essência, mas alimentados por uma enormidade de dados coletados e movidos por algoritmos poderosos que podem e são utilizados com muitos propósitos. Alguns nobres, outros nem tanto. Nunca foram reconhecidas como tal, mas as redes sociais são, sim, um bom exemplo de metaverso.

Nesse meio tempo, com uma UI ainda tosca, se considerarmos os padrões atuais, o Second Life, criado em 1999, foi o primeiro metaverso de fato a ser considerado, se olharmos as definições de hoje. Um ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social do ser humano através da interação entre avatares. Um misto de rede social e game que tinha a geração de renda a partir da comercialização de objetos virtuais, que iam de roupas e acessórios a imóveis. Também já usava  sua moeda própria: os lindens. Em tempo: o Second Life existe ainda, com mais de 60 milhões de usuários.

Entre diversos fornecedores, tais como o DECETRALAND e THE SANDBOX, o metaverso chega aos dias atuais como o hype da década, impulsionado por ninguém menos do que Mark Zuckerberg, que mudou o nome de sua empresa de Facebook para Meta, afirmando que o “metaverso é o próximo passo na jornada de conexões sociais. A visão da nossa empresa é dar vida ao metaverso”. Isto é, confirmou a minha percepção de que suas redes sociais já são, de fato, um metaverso. O que falta é uma UI e uma retaguarda mais compatível com o que existe no popular mundo dos games, como o uso de criptoativos, NFT e o uso intensivo de uma arquitetura 3D com realidade aumentada e virtual. Isso atrairá com certeza milhões de novos entrantes, principalmente os das novas gerações. Segundo os entusiastas, uma oportunidade incomensurável de ganhar dinheiro.

O risco que corremos é evidente. O metaverso não pode ser confundido com uma realidade alternativa e paralela, como muitos querem fazer acreditar e muito menos como um cassino.  Se cometermos o erro e ignorarmos esses pontos, corremos o risco de estarmos submetidos em pouco tempo a ambientes muitas vezes tóxicos, preconceituosos, especulativos e dominados pelos algoritmos e big techs, que poderão se apropriar de nossas vidas. Mais do que as redes sociais já fizeram com um número inimaginável de pessoas hoje. Tudo em nome de oportunidades para negócios, marketing e oportunismos em geral.

O metaverso e os conceitos por trás dele são fantásticos, e certamente mudarão muita coisa de forma positiva no futuro. Nos negócios, na medicina, na educação, nas relações de consumo, no desenvolvimento de produtos ou serviços e muito mais. Mas é preciso ter atenção. Muita atenção, principalmente com os exageros que temos visto por aí.

Enio Klein, influenciador e especialista em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEo da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação.

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