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Metaverso: pílula azul ou pílula vermelha?

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Vivemos em um mundo onde as possibilidades de uso da tecnologia têm acompanhado de forma impressionante as obras de ficção científica que foram escritas ainda no século passado.

Isaac Asimov, em sua épica coletânea de contos com o título “Eu Robô”, descreve em detalhes a evolução do uso de robôs pela sociedade através do tempo, cujo clímax está na desconfiança que paira sobre o “coordenador mundial”, que poderia ser um robô, que dita o funcionamento da produção, do consumo e emprego.

Na trilogia “Fundação”, o mesmo autor descreve uma sociedade em um futuro distante, cujo destino era influenciado por uma ciência chamada de psicohistória que se baseia na ideia de que, enquanto as ações de um indivíduo em particular não podem ser previstas, as leis da estatística aplicadas em grandes populações poderiam prever eventos futuros.

Qualquer semelhança com a projeção de sociedade que os especialistas modernos fazem para o nosso futuro, a partir da robotização, dos algoritmos e da inteligência artificial não parece ser simples coincidência.

Por outro lado, uma história que começa com a Alegoria da Caverna, presente no Livro VII da obra “A República de Platão”, onde a vida dentro da caverna representa o mundo sensível, aquele experimentado a partir dos sentidos, onde reside a falsa percepção da realidade, parece continuar na trilogia “Matrix”, lançada em 1999, ou seja, há mais de 20 anos, onde o mundo é uma realidade virtual, construída pelas máquinas inteligentes e autônomas, que aprisiona a mente dos humanos em uma ilusão da realidade, alimentada pela energia produzida pelo seus corpos.

Se juntarmos os componentes dessas narrativas, chegaremos de forma inequívoca a conceitos que hoje compõem o que se chama de metaverso, cuja definição popular é um “tipo de mundo virtual que tenta replicar a realidade através de dispositivos digitais”.

É um espaço coletivo e virtual compartilhado, constituído pela soma de “realidade virtual”, “realidade aumentada” e “Internet”. Algo como o “Second Life”, um ambiente virtual e tridimensional que simula a vida real e social do ser humano através da interação entre avatares. Criado em 1999 e lançado em 2003, já era um ambiente ancorado nesse conceito, porém, com uma tecnologia ainda pobre, se considerarmos os recursos atuais.

O pensamento corrente é que o metaverso é importante porque “inspirará uma nova economia movimentada em todos os níveis”. Esse pensamento me parece muito pequeno e mesquinho diante dos desafios do mundo real, pós-pandemia, com uma imensa desigualdade e desafios sociais e econômicos a serem vencidos. Em todo o mundo desenvolvido. No Brasil, o abismo é ainda mais flagrante.

Faltam vínculos dessas novas ideias com uma realidade inclusiva, que contemple os objetivos de desenvolvimento sustentado propostos na agenda 2030, com os ditames do ESG.

Por ora, me parece mais uma vez um movimento forçado pela indústria da tecnologia para empurrar goela abaixo da sociedade um conceito questionável: o quanto é bom ter um mundo artificial governando por algoritmos, personificados por robôs que usam inteligência artificial e controlado pela tecnologia como no Matrix, distante da natureza, distante do contato social e realidade humana?

Como no conto de Hans Christian Andersen, “A Roupa Nova do Rei”, no reino do metaverso, o rei parece que está nu. Dizem que já estamos prontos e que precisamos dele, mas, a meu ver, ainda é um discurso de marketing de convencimento para que seja adotado por altos valores investidos.

Assim como acontece com outras possibilidades tecnológicas, cuja necessidade e realidade são discutíveis. O fato de a tecnologia permitir não quer dizer que seja bom ou prioridade para a sociedade em geral.

Quando se fala em capitalismo consciente, justificar o investimento no metaverso como um ambiente para inspirar uma nova economia é muito pouco para vestir o rei. Está na hora de tomarmos a pílula vermelha. O que vocês estão esperando?

Enio Klein, influenciador e especialista em vendas, experiência do cliente e ambientes colaborativos com foco na melhoria do desempenho das empresas a partir do trabalho em equipe e colaboração. CEo da Doxa Advisers e professor de Pós-Graduação.

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