O mundo corporativo discute frequentemente a evolução da transformação digital. Porém, o tema sempre enfrenta uma questão que faz parte da pauta da inovação: como lidar com os "sistemas legados" que, por serem plataformas robustas, confiáveis e de missão crítica para a operação das empresas, estão no centro das decisões.
Por serem ultrapassadas em termos de tecnologia, migrá-las para modernas plataformas pode ser arriscado, e qualquer erro nesse processo pode resultar em interrupções nas operações e perda de dados importantes. Escritos em linguagens de programação que não são mais ensinadas academicamente, como COBOL (Common Business Oriented Language), hoje, a atualização e a manutenção dos sistemas legados se tornaram inviáveis e caras devido à falta de profissionais capacitados nessas tecnologias.
O cenário mostra uma defasagem da tecnologia, mas por outro lado, há uma importante fatia do mercado dependente desta linguagem. De acordo com uma pesquisa conduzida pela Micro Focus, cerca de 43% das transações bancárias globais são processadas por sistemas COBOL.
Indo além do aumento dos altos custos de manutenção dos sistemas legados em COBOL ou outras linguagens de programação obsoletas, há outros riscos iminentes: perda de competitividade devido à dificuldade para atender às demandas do mercado,incapacidade de integrar novas tecnologias, tornando-os mais vulneráveis, sem contar as ameaças cibernéticas. Diante deste cenário, a pergunta é: como vencer o desafio do Cobol? Reescrever esses sistemas em uma linguagem moderna, como Java, não é uma decisão sustentável, pois em menos de 30 anos, esses sistemas reescritos também serão considerados "legacy".
Um caminho nesta decisão é explorar as ferramentas Low-Code, que asseguram uma maneira eficiente e segura de modernizar sistemas legados e mantê-los escaláveis e à prova de futuro. Uma das grandes vantagens da estratégia Low-Code é a capacidade de ler, extrair e preservar, por meio de Inteligência Artificial, o modelo de bancos de dados legados, como lógica de negócios e conhecimento dos processos, armazenando essas informações em sua base de conhecimento, o que facilita a migração gradual ou completa dos sistemas.
Outra saída interessante nesta jornada é que o Low-Code permite encapsular a lógica dos programas COBOL em objetos externos, que podem continuar sendo utilizados até serem completamente substituídos.
Postos esses aspectos, a automação de códigos de desenvolvimento via Low-Code, em contraponto a uma escrita manual, permite que o desenvolvedor se concentre em aspectos mais estratégicos, como arquitetura, tomada de decisões e otimização de desempenho, bem como a oportunidade de incorporar novas tecnologias disruptivas, como Super Apps ou soluções de IA Generativa, como agentes ou assistentes.
O Low-Code também permite reunir e automatizar linguagens de programação e padrões das principais ferramentas tecnológicas do mercado, como SAP, SAP Fiori, Angular e até mesmo ferramentas de design, como Sketch e Figma, mantendo o código gerado sempre atualizado e garantindo a longevidade do software.
A modernização de sistemas legados é inevitável e urgente, mas deve ser feita de maneira estratégica para evitar que os novos sistemas se tornem obsoletos com o tempo. A abordagem do Low-Code para essa transição traz segurança, sem comprometer as operações, e eficiência, garantindo que o negócio permaneça competitivo e preparado para o futuro.
Ricardo Recchi, gerente regional Brasil, Portugal e Cabo Verde da Genexus by Globant.