A entrada das operadoras de telecomunicações no mercado de TV por assinatura, especialmente cabo, já está provocando reações no setor de TV por assinatura.
?Tenho convicção de que elas praticarão dumping?, afirmou Francisco Valim, presidente da Net Serviços, durante a abertura do Congresso ABTA 2006 que começou nesta terça-feira, 1/8, no ITM Expo, em São Paulo.
O executivo disse estar preocupado com a ?gigantesca disparidade? entre as empresas de telecomunicações e as de TV por assinatura, o que permitiria às primeiras oferecerem seus serviços a preços baixíssimos ou até gratuitamente para conquistar clientes. Citou o caso do Chile como exemplo, onde a Telefônica já pratica promoções agressivas para a oferta de serviços de vídeo.
Segundo ele, a maior parte da receita da Net vem do segmento de TV paga, que ?poderá sofrer com os efeitos nocivos da competição?. Para Francisco Valim, a entrada das empresas de telecomunicações só deveria e poderia acontecer depois que elas deixassem de ter poder de mercado significativo no setor de telefonia, depois de deixarem de ser monopolistas.
Valim, em tom duro em relação às empresas de telecomunicações, deixou claro que a a sua operadora resistirá de todas as formas possíveis, começando pela jurídica. "Há uma proibição legal e, ainda, aspectos concorrenciais. As empresas de telecomunicações vêm para distruir a competição que existe e sempre existiu no setor de TV paga. A estratégia deles não é convergência nem triple-play. Se fosse, a Telefônica não teria escolhido a tecnologia de DTH, que é a menos convergente".
Interesses próprios
O presidente da Brasil Telecom, Ricardo Knoepfelmacher, participante do mesmo debate, disse que as empresas de TV por assinatura não são mais ?semi-quebradas?. E lembrou que a própria Net Serviços tem como acionista uma empresa de telecomunicações, a Embratel.
?Portanto, esse discurso não cola mais. É um discurso que valia para a velha Net, não para a nova Net, pós Telmex. O jogo mudou. Sempre haverá espaço para empresas boas?, defendeu-se.
Knoepfelmacher acredita que a entrada das teles vai permitir que o mercado se desenvolva. ?Ao invés de imaginar que vamos competir, a entrada das teles vai ampliar o mercado para todo mundo?, disse ele. "Esse paradigma precisa ser quebrado?, completou.
Para a TVA, no entanto, o paradigma que precisa ser quebrado é o monopólio de telefonia detido pelas incumbents. ?Esse é único monopólio que ainda permanece?, disse Leila Loria, presidente da TVA. Segundo a executiva, algumas empresas subsidiam os serviços de vídeo como forma de manter o monopólio no mercado de voz. Leila também chama a atenção para a complexidade de se vender um serviço completo incluindo vídeo. ?Lidar com conteúdo é muito mais complexo do que telefonia?, afirma.
Apesar dessa briga de foice, em um ponto todos esses players concordam: é preciso criar um modelo de negócios que seja viável para ambos os setores. Para Luiz Eduardo Batista, presidente da Sky-DirecTV, ?o caminho durante muito tempo vai ser o da parceria?. Já Chris Torto, presidente da Vivax, diz que ?o desafio da convergência não é a tecnologia, mas sim a regulamentação. A competição deve ser saudável?, afirma.