O setor financeiro na América Latina historicamente está sempre evoluindo e adotando novas tecnologias. Bancos, corretoras, financeiras e seguradoras se reinventam constantemente para atender aos requisitos da era digital, que demandam mudanças profundas e de longo prazo na forma como as instituições se relacionam com seus clientes.de Bancos e Instituições financeiras.
Aproximadamente 50% das empresas do S&P 500 serão substituídas nos próximos 10 anos, de acordo com o relatório "2018 Corporate Longevity Forecast". De acordo com o Gartner, quase metade das organizações globais de serviços financeiros ainda estão em um estágio muito precoce ou mesmo imaturo de sua jornada de transformação digital. Isso destaca a importância e a grandeza que a transformação digital terá na modernização do segmento financeiro.
E, se pensamos nas grandes tendências do setor para esse ano, avalio que no Brasil, México e Argentina as instituições financeiras estão buscando adotar tecnologias e metodologias que enderecem iniciativas com relação à Fintechs, Blockchain, Multi-Cloud, Inteligência Artificial, Automação Inteligente, Segurança e Compliance. Aprofundar o debate individualmente sobre cada uma destas iniciativas torna-se importante, por isso, abaixo compartilho minha percepção:
1 – Fintechs
O modelo de negócio das empresas financeiras mudou muito. As Fintechs, antes vistas como uma ameaça, já fazem parte da cadeia produtiva das instituições financeiras e estão recebendo mais investimentos a cada ano. Elas são consideradas uma força de ruptura, utilizando inovação para reduzir o risco das grandes instituições em seus negócios
Uma pesquisa divulgada pela LAVCA, Associação para Investimento de Capital Privado na América Latina, revelou que as fintechs foram o tipo de negócio que mais movimentaram ofertas de investimento na região nos últimos dois anos. Alguns grandes bancos já possuem suas próprias Fintechs e os que não têm já se associaram a algumas delas. De acordo com Banco Interamericano de Desenvolvimento, as fintechs cresceram mais de 50% em dois anos na América Latina, em 2019, o Brasil tem 550 fintechs, seguido do México, com 394 e da Argentina, com 140.
No modelo atual, as instituições financeiras estão deixando de trabalhar em serviços satélites para trabalhar em serviços 'core'. Ou seja, estão abrindo suas APIs (Application Programming Interface) para as Fintechs, ou empresas financeiras, desenvolverem novos serviços que possam ser ofertados ao mercado. Este novo modelo baseado em APIs abertas deve facilitar a entrada de novos players e funcionar como uma oportunidade para as instituições financeiras tornarem mais rápida a oferta de novos produtos e serviços.
2 – Blockchain
O Blockchain é uma realidade mundial, cerca de 90% dos principais bancos australianos, europeus e norte-americanos já o estão experimentando. Essa tecnologia se popularizou graças ao enorme sucesso de criptomoedas como o Bitcoin. Alguns bancos já estão testando ou investindo em tecnologias de Blockchain como uma oportunidade de reduzir atrito e custos.
No Brasil, o uso tem aumentado de forma contínua e alguns especialistas mostram que nos últimos dois anos já foram investidos mais de 500 milhões de dólares na tecnologia, que já é adotada pela Receita Federal, por meio do DataPrev, para a troca de informações da base de cadastro do CPF de uma rede comissionada.
No México, o uso da tecnologia tem se expandido. Uma pesquisa da Innoventia mapeou 81 empresas de diferentes áreas que já utilizam o Blockchain no país. Já na Argentina, há diversas iniciativas de apoio ao uso da tecnologia. O Ministério de Produção e Trabalho do país se comprometeu a investir em projetos Blockchain de valor até US $ 50 mil, via plataforma de intercâmbio Binance.
3 – Multi-Cloud
A maioria das empresas financeiras na América Latina está interessada nos benefícios e na flexibilidade de passar suas operações para nuvem e analisam ativamente as questões de riscos e restrições regulatórias relacionadas. Com a evolução da nuvem, hoje, não falamos apenas em nuvens públicas ou privadas. O cenário agora é multi-cloud, o que amplia os desafios dos CIOs em relação à visibilidade de custo, segurança, desempenho, automação e migração.
Até o fim de 2019, 25% dos bancos de varejo terão substituído seus sistemas legados de acesso online e mobile. Estima-se que 80% das empresas irão transferir parte de sua infraestrutura, 75% delas para serviços multi-cloud. Essas empresas estão seguindo o exemplo de 38% dos bancos, que já utilizam esses serviços para obter uma maior eficiência na operação e produtividade.
4 – Inteligência Artificial
A indústria financeira está bem posicionada para se beneficiar da inteligência artificial, graças ao alto volume de dados globais, registros históricos precisos e detalhados, e a natureza quantitativa dos mercados financeiros. Essa realidade pode ser vista nos mais avançados projetos financeiros, nos quais os maiores bancos do mundo já começaram a testar vários casos, como aprovação de empréstimo, gerenciamento de ativos e avaliação de riscos.
Muitas dessas mudanças estão na diminuição da frequência com que os clientes vão às agências, por exemplo. O impacto econômico total da Inteligência Artificial nos serviços financeiros deve alcançar um bilhão de dólares até 2030, o que permitirá uma redução de custos estimada em cerca de 22%.
5 – Automação Inteligente
Atualmente, quase um terço das empresas obtém 32% sua receita por meio de canais digitais. Um número que deve crescer 48% até 2022. E, com a habilidade das empresas de adotar tendências e inovações, as instituições do setor financeiro seguem crescendo na América Latina, se destacando pelo mundo, e transformando-se em referência em termos de eficiência operacional e de qualidade de serviço ao cliente.
Grande parte desse sucesso se deve às instituições financeiras que estão transformando seus modelos de trabalho, focando na eficiência dos processos e reduzindo custos operacionais de 10 a 25%. Além disso, 68% dos clientes bancários já compraram produtos ou serviços adicionais graças ao atendimento personalizado.
6 – Segurança e Compliance
Cumprir os requisitos regulatórios e de segurança é uma das maiores prioridades para o setor na região, o que exige um orçamento alto para provisionar reservas e lidar com o crescente número de ataques cibernéticos, isso sem considerar a legislação vigente. Estimativas indicam que as infrações à GDPR devem afetar em até 4% os lucros globais das empresas.
No Brasil, as novas regulamentações, como a Resolução nº 4.658, de 26 de abril de 2018 do Banco Central, referem-se à política de segurança cibernética e requisitos para a contratação de serviços de processamento e armazenamento de dados e de computação em nuvem. No México, a Lei para Regulamentar as Instituições de Tecnologia Financeira oferece uma maior certeza jurídica aos usuários de serviços financeiros por plataformas digitais, desde março de 2018. Já na Argentina, o Estado demonstrou uma postura aberta e colaborativa para o desenvolvimento do ecossistema Fintech, sem planos de regulamentação até que o mercado esteja suficientemente maduro.
Essas mudanças nas regulamentações podem exigir investimentos nos modelos operacionais de muitas instituições financeiras, mas o setor como um todo deve estar preparado com as novas tecnologias de automação e segurança para evitar incidentes que possam afetar sua reputação corporativa.
O que percebo em todos estes anos conversando com instituições financeiras em diversos países, especialmente da América Latina, é que em um mundo digital, globalizado e amplamente competitivo que estamos, é muito importante que as instituições financeiras tenham tecnologias eficientes e disruptivas, que suportem as transformações que o setor enfrenta para obter sucesso, vantagem competitiva e principalmente que possibilitem oferecer uma experiência única a seus clientes.
Eduardo Lugo, vice-presidente América Latina BMC Software.