Corporate Venture Capital e a transformação do setor de varejo: Inovações em e-commerce e experiência do cliente

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O mercado global de varejo vem passando por uma transformação significativa nos últimos anos, impulsionada principalmente pela rápida evolução do e-commerce e pela crescente demanda dos consumidores por uma experiência digital fluida e personalizada. Em resposta a essas mudanças, muitas grandes corporações estão adotando estratégias de Corporate Venture Capital (CVC) como um dos principais mecanismos para se manterem competitivas e inovadoras. Por meio do CVC, essas empresas investem em startups que estão na vanguarda das inovações tecnológicas, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento de soluções disruptivas que atendam às novas necessidades do mercado. Esse movimento tem sido particularmente relevante no Brasil e na América Latina, onde o setor de varejo enfrenta desafios únicos e apresenta grandes oportunidades de crescimento.

O conceito de CVC envolve a criação de fundos por grandes corporações que buscam, estrategicamente, investir em startups promissoras. Diferente dos fundos de venture capital tradicionais, onde o foco principal é o retorno financeiro, no CVC as corporações devem estar mais interessadas no potencial estratégico dos investimentos. Elas buscam startups que possam fornecer inovações que complementem ou transformem seus próprios modelos de negócios. Isso cria uma sinergia poderosa, pois, além do aporte financeiro, as startups ganham acesso a recursos, conhecimento de mercado e redes de contato que somente grandes corporações podem oferecer. Já para as companhias, o CVC permite a experimentação e a integração de novas tecnologias de maneira mais ágil do que se fossem desenvolvidas internamente.

No Brasil, o Grupo Pão de Açúcar (GPA) é um excelente exemplo de como o CVC tem sido utilizado no setor de varejo. O GPA é um dos maiores conglomerados do país e tem investido consistentemente em startups que oferecem soluções inovadoras para o e-commerce e a experiência do cliente. Por meio do GPA Ventures, o grupo alocou recursos para empresas que desenvolvem tecnologias capazes de melhorar a eficiência logística e aprimorar a interação com os consumidores no ambiente digital. Entre as iniciativas apoiadas, destacam-se startups focadas em inteligência artificial para recomendação de produtos e otimização de estoques, além de soluções para agilizar o processo de entrega, um dos principais gargalos do comércio eletrônico no Brasil.

Outro exemplo notável é o Magazine Luiza, uma das maiores redes de varejo do país, que criou o seu braço de CVC, o Magalu Ventures. Seus investimentos visam startups que trazem inovação para logística e estratégias multiplataforma, e incluem, por exemplo, a Logbee, uma startup de logística que otimizou a entrega last-mile para compras de e-commerce O resultado foi a melhora na velocidade e na eficiência das suas entregas, o que garante uma experiência mais satisfatória para os consumidores. Eles também adquiriram o Canaltech, uma plataforma de conteúdo, e a Kabum!, um site de e-commerce focado em tecnologia, para expandir seu alcance para os setores de tecnologia e eletrônicos online.

Esses e outros exemplos, como Via Varejo e B2W, com seus respectivos braços de CVC, Via Hub e AMER Ventures, ilustram como a estratégia de investimento tem se tornado uma ferramenta vital para as grandes corporações do varejo na busca por inovação. Ao invés de depender exclusivamente de suas equipes internas ou de parcerias tradicionais, as empresas estão adotando uma abordagem mais dinâmica, investindo em startups que trazem soluções ágeis e disruptivas. O setor de e-commerce, em particular, tem sido beneficiado por essa tendência, já que muitas das inovações estão focadas em melhorar a experiência do cliente, desde o processo de compra até a entrega final do produto.

Além do aspecto logístico, o foco no cliente tem sido algo que as companhias estão cada vez mais prestando atenção O consumidor moderno, especialmente no contexto digital, exige uma experiência personalizada e integrada em todas as etapas do processo de compra. Isso inclui desde a recomendação de produtos baseados em suas preferências, até a facilidade de navegação nas plataformas digitais e o suporte ao cliente em tempo real. Para atender às expectativas, muitas corporações têm investido em startups que desenvolvem soluções de inteligência artificial e big data capazes de analisar o comportamento do consumidor e personalizar a jornada de compra.

Na América Latina, um exemplo interessante de como o CVC tem impulsionado essas inovações é o da Falabella, uma das maiores redes de varejo do Chile, que também atua em vários países da região. A empresa criou seu fundo de CVC para investir em startups que desenvolvem tecnologias voltadas para o aprimoramento da experiência digital do cliente e a integração entre os canais físico e online, o chamado omnichannel. A estratégia da Falabella envolve a criação de uma experiência de compra totalmente integrada, onde o cliente pode transitar entre os diferentes canais de venda da companhia de forma contínua e sem fricções. Isso só é possível graças às inovações tecnológicas que chegaram por meio do investimento em startups, que oferecem plataformas de e-commerce mais intuitivas e sistemas de gestão de estoques em tempo real.

Outro exemplo relevante na região é o do Mercado Livre, que criou o MELI Fund, um fundo de CVC voltado para investir em startups que trazem inovações para o e-commerce e o setor financeiro digital. A estratégia do Mercado Livre está diretamente alinhada com o seu modelo de negócios, que se baseia na criação de um ecossistema robusto de serviços para consumidores e empresas. Um dos principais investimentos do MELI Fund foi na fintech brasileira Koin, que oferece soluções de pagamento parcelado e democratiza o acesso a bens e serviços por parte dos consumidores. Essa inovação tem sido crucial em um mercado como o brasileiro, onde o crédito é limitado para muitas pessoas, mas a demanda por produtos no comércio eletrônico é alta.

O Corporate Venture Capital tem desempenhado um papel fundamental na transformação do setor de varejo, especialmente em mercados dinâmicos como o Brasil e a América Latina. Ao investir em startups que desenvolvem soluções inovadoras para o e-commerce e a experiência do cliente, as grandes corporações conseguem não apenas se manter competitivas em um ambiente de rápidas mudanças, mas também criar novas oportunidades de crescimento. O CVC oferece novas tecnologias às empresas, de forma ágil e eficaz,  para que integrem inovações em suas operações, sem os riscos e custos associados ao desenvolvimento interno. Essa combinação de capital financeiro e estratégico tem o potencial de moldar o futuro do varejo, proporcionando uma experiência de compra cada vez mais digital, personalizada e integrada.

Thiago Iglesias, Head da Torq Ventures, área de inovação da Evertec + Sinqia.

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