Apesar de o governo dos Estados Unidos ter firmado acordo com as grandes empresas de internet, no fim de janeiro, permitindo que divulguem ao público mais detalhes sobre ordens judiciais que receberem ligadas a espionagem, o vazamento à imprensa de documentos sigilosos sobre essa prática, feito pelo ex-prestador de serviços da Agência Nacional de Segurança (NSA) Edward Snowden, fez com aumentasse o receio do internauta americano de usar a web, gerando prejuízo para a reputação dessas companhias — e também perda financeira.
Uma pesquisa encomendada pela Harris à empresa de segurança ESET revela que os americanos estão menos propensos a usar a internet para realizar transações bancárias (internet banking) e até mesmo evitando fazer compras online, por causa justamente das dúvidas que persistem sobre as atividades de espionagem da NSA. Quase metade dos mais de 2 mil adultos entrevistados (47%) afirmou ter mudado seus hábitos de uso da rede mundial, além de pensar com mais cuidado sobre por onde navega, o que diz e o que faz quando está online.
Os resultados, segundo o analista da ESET, Stephen Cobb, reforçam uma questão de longo prazo para as empresas de internet, cujas vendas estão em risco tanto nos EUA quanto no exterior por causa de espionagem do governo. "Este problema permanecerá durante todo 2014", disse ele ao USA Today.
"Se o consumidor seguir os seus medos, vai evitar alguns sites de comércio eletrônico menos conhecidos e a buscar marcas populares e confiáveis, como Amazon.com, eBay e outras", dise Rene Bonvanie, diretor de marketing de cibersegurança da Palo Alto Networks. "Você tende a pensar que as brechas são da Target [loja de departamento dos EUA] e não uma ação da NSA", diz Bonvanie. E completa: "Os americanos acreditam em vigilância, mas não em coisas sorrateiras".
"Em última análise, a própria existência da web está em jogo", advertiu Dan Kaminsky, cofundador e cientista-chefe da startup WhiteOpps. "Como podemos tornar a internet um lugar seguro" questionou ele, cuja empresa desenvolveu um sistema para erradicar milhões de robôs na web (chamados de bots), programas de hacker, spam, piratas que se fazem passar por sites legítimos para disseminar códigos maliciosos. "O problema [dos bots e desconfiança geral na web] é tão grande e aparentemente intratável, que devemos abordá-la ou [a web] vai perecer", disse Kaminsky.