O ano de 2025 apresenta desde cedo um cenário desafiador para empresas brasileiras que dependem de sistemas ERP. Entre desafios econômicos globais, pressões pela adoção de licenciamento em nuvem e uma reforma tributária iminente no país, líderes de TI e negócios enfrentam decisões estratégicas críticas. De acordo com o relatório Strategic ERP Roadmap, da Gartner, organizações que adotarem uma abordagem pragmática e agnóstica, com foco em flexibilidade e redução de custos, estarão melhor preparadas para esse período de transição.
E, em um cena?rio econômico global complexo que inclui desafios como desglobalizac?a?o, incertezas econo?micas e novas exige?ncias regulato?rias, essas estratégias são essenciais para o sucesso. Para evitar a estagnac?a?o, os executivos precisam ser capazes de prever tende?ncias, priorizar investimentos e otimizar suas operac?o?es. Na prática, para que a TI não seja um detrator na velocidade de transformação exigida pelos negócios, é necessário pensar em uma transformação sem disrupção, que garanta eficiência econômica e capacidade de inovação contínua.
Altos custos e desafios estruturais
Os altos custos de manutenção associados aos modelos tradicionais de ERP muitas vezes desviam recursos que poderiam ser direcionados para áreas estratégicas de inovação, como Inteligência Artificial (IA) e automação. A Gartner prevê que até 2027, cerca de 50% das funcionalidades avançadas em ERPs serão impulsionadas por tecnologias como IA Generativa e Agentes de IA.
Entretanto, quase 75% dos líderes afirmam que suas estratégias atuais não estão plenamente alinhadas aos objetivos de negócio. Isso ressalta a necessidade urgente de plataformas mais flexíveis e abertas que operem acima das limitações dos ERPs tradicionais, oferecendo escalabilidade, integração e uma abordagem mais modular (composable). Em vez de apostar em complexos sistemas monolíticos com capacidade de inovação limitada, as empresas estão buscando alternativas tecnológicas que permitam inovação ágil e constante.
Migrar ou não migrar o ERP
O dilema da migração para o S/4HANA continua a desafiar líderes empresariais e de tecnologia. Ainda segundo a Gartner, aproximadamente 63% dos clientes globais do SAP ECC (cerca de 22 mil empresas) ainda não licenciaram o S/4HANA, e a maioria das migrações já feitas optou pela versão on-premise. No segundo trimestre de 2024, o modelo RISE with SAP representou apenas 41% das vendas totais do S/4HANA. A viabilidade financeira e operacional da migração, especialmente considerando fatores como complexidade técnica, riscos operacionais e altos custos relacionados ao modelo por assinatura do RISE, segue sendo questionada.
Nesse cenário, empresas estão buscando soluções mais flexíveis, como plataformas complementares de automação e integração. Soluções como a ServiceNow podem desempenhar um papel estratégico, operando acima do ERP para integrar e orquestrar sistemas diversos, ampliando o escopo da automação empresarial para além dos limites tradicionais do ERP. Soluções como essa permitem que organizações acelerem sua jornada rumo à transformação digital, combinando eficiência operacional com inovação tecnológica, independentemente da uma atualização dos sistemas de ERP ou mesmo de uma migração completa para o modelo em nuvem sugerido pelos fabricantes tradicionais.
Desafios Tributários e Fiscais: reforma e o fim do suporte ao SAP GRC NFe
A Reforma Tributária brasileira vem prometendo simplificar o sistema tributário, mas o início de sua implementação este ano traz grandes desafios para empresas e executivos que precisam adaptar seus processos internos e ERPs dentro de um prazo apertado.
Com o objetivo de entregar o que foi planejado até janeiro de 2026, a Rimini Street está trabalhando para preparar os sistemas para as entregas necessárias da implementação: um processo complexo que envolve a definição de regras tributárias, mapeamento de processos e conscientização das áreas afetadas.
Para 2026, a prioridade tem sido garantir que o faturamento continue sem interrupções, com a emissão de notas fiscais e a definição de planos de contas para fechamento de balanços e demonstrações de resultados.
A reforma tributária não é apenas uma questão tecnológica, mas envolve um ecossistema completo, impactando todos os departamentos e diversos processos internos das empresas. Além das mudanças trazidas por ela, as empresas brasileiras que utilizam o SAP GRC NFe enfrentam um prazo crítico: a descontinuação do suporte oficial pela SAP em 31 de dezembro de 2025.
Diante desse cenário, algumas empresas estão avaliando alternativas para garantir a continuidade operacional e o cumprimento das exigências fiscais sem a necessidade de uma migração imediata.
Novo cenário, novas soluções
A Gartner também destaca que o suporte independente é uma estratégia subutilizada, mas de alto impacto para empresas que buscam modernizar suas operações com eficiência e otimização de investimento. As vantagens incluem:
- Suporte prolongado: até 15 anos de suporte contínuo para versões legadas, com liberdade para definir o próprio roadmap tecnológico.
- Atualizações fiscais contínuas: adaptadas à legislação brasileira, essenciais para atender às novas exigências da reforma tributária.
- Investimento estratégico em inovação: economia convertida em projetos de IA, automação e plataformas integradas que orquestram todos os sistemas empresariais, não apenas o ERP.
Essas vantagens posicionam o suporte independente como uma escolha estratégica que equilibra eficiência operacional, inovação tecnológica e flexibilidade regulatória.
Neste momento, ainda há uma lacuna entre as expectativas das grandes fabricantes e a realidade das organizações que precisam equilibrar inovação, controle de custos e governança regulatória.
Se por um lado a transformação digital se torna inevitável, por outro, a baixa adesão ao RISE e os elevados custos das soluções tradicionais reforçam que muitas empresas estão buscando caminhos alternativos.
Os dados evidenciam que, mais do que nunca, as empresas precisam de uma abordagem pragmática para modernizar seus sistemas. Soluções que permitam continuidade, estabilidade e previsibilidade de custos, sem amarras a modelos únicos dos fabricantes, tornam-se decisivas para garantir competitividade. Mais do que isso, o mercado não espera por grandes projetos de atualização tecnológica que promete capacidade de inovação após o final do projeto. É imperativo que essa modernização e inovação seja entregue de forma gradual e constante, e de preferência em ciclos curtos de tempo. Em um momento em que a autonomia sobre a infraestrutura tecnológica é um diferencial estratégico, a escolha entre manter o controle do próprio roadmap ou seguir os cronogramas impostos pelos fabricantes definirá quais empresas estarão melhor preparadas para os próximos anos.
Helio Matsumoto, Chief Technology Officer da Rimini Street na América Latina.