A utilização da tecnologia tem crescido de forma exponencial em todos os setores da economia. Cada vez mais, a adoção de recursos e tecnologias de comunicação e informação tem se tornado indispensável em nosso cotidiano e influenciado diretamente a vida das pessoas. Entretanto, apesar de reconhecer esta importância, o poder público de forma geral, em todas as suas esferas, não tem acompanhado esta evolução.
No âmbito do poder público, o grande objetivo da tecnologia deve ser o de melhorar a qualidade de vida do cidadão, além de contribuir sobremaneira para a eficiência e agilidade dos processos, reduzindo a burocracia e aumentando a qualidade da gestão, que inclui planejamento, organização, coordenação e controle.
Assim como ocorre nas várias áreas de atuação do poder público, a aplicação de recursos tecnológicos também é extremamente heterogênea, ou seja, enquanto alguns municípios e unidades da federação estão em estágio relativamente avançado, e já apresentam uma substancial obtenção de vantagens por meio da tecnologia, em outros, há quase uma completa ausência desses recursos.
Além da discrepância existente da utilização da tecnologia nas diferentes regiões do país, grande parte dos recursos disponíveis nesta área é empregada em sistemas e ferramentas de controle, mais especificamente de arrecadação. Como exemplo disso, podemos colocar à montante, os sistemas utilizados hoje pela Receita Federal do Brasil, que estão dentre os mais avançados do mundo, enquanto que à jusante, as Secretarias Municipais de Saúde, em sua grande maioria, além da falta de integração e comunicação entre os diversos sistemas utilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), sequer têm um sistema para agendamento de consultas e recursos básicos para gestão de suas unidades.
A comparação apresentada não tem o intuito de valorizar uma ou outra atividade do Estado, pois o zelo pela arrecadação é tão importante quanto o provimento dos serviços de saúde. Porém, há uma necessidade iminente de melhoria tanto no atendimento, como na qualidade dos serviços prestados ao cidadão, não somente na área da saúde, mas também em educação, transportes, infra-estrutura, segurança pública, dentre outras.
Considerando o papel da tecnologia, para que isso aconteça, deve haver uma mudança na forma como os recursos tecnológicos são aplicados hoje pelo poder público. O foco deve ser alterado da aplicação atual estritamente voltada aos processos e ao controle, para o planejamento, inteligência e gestão integrada, visando benefícios ao cidadão.
Vários outros exemplos poderiam ser apresentados com vistas a ilustrar o assunto abordado, mas, optou-se por dois casos recentes. Um deles é a obrigatoriedade dos chips em veículos de todo o país, definida pelo Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), com início em junho deste ano e com prazo final de implantação para 2014. A política adotada suscita a questão de sua utilidade, ou seja, se será para fiscalizar ou para realmente melhorar as condições de tráfego nas rodovias e grandes cidades. De outro lado, o empenho e investimento de alguns municípios, em sistemas de monitoramento de áreas de risco, previsão de enchentes e desastres, são iniciativas louváveis da mudança de foco de aplicação da tecnologia, aqui propostas.
*Alexey Carvalho é administrador, mestre em tecnologia, especialista em tecnologia da informação e gestão de negócios, professor de pós-graduação e Diretor da Faculdade Anhanguera de São Caetano