Smart grid é alternativa para conter crise energética

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A crise energética é grave e está sendo sentida de forma direta por todos os consumidores domésticos e indústrias brasileiras. Com o aumento da tarifa de energia, a inadimplência e as instalações irregulares também avançaram exponencialmente.

O que temos visto é que a infraestrutura energética foi agravada exclusivamente pelo governo federal em três principais fatores: a falta de planejamento adequado, a inaptidão gerencial na execução e liberação de importantes projetos e a edição da Medida Provisória 579/2012.

A mais grave e talvez a mais desastrosa de todas foi a edição da MP 579, convertida posteriormente na Lei 12.783/2013. Publicada no dia 11 de setembro de 2012 com o intuito de reduzir os preços da energia praticados no país, mostrou-se nos anos seguintes um verdadeiro atentado ao equilíbrio financeiro de todo o setor, criando distorções tão graves que ainda não é possível visualizar soluções no curto e médio prazo.

O setor de distribuição de energia, por exemplo, vive um gravíssimo problema de caixa que está impactando diretamente o planejamento e execução de projetos para a adoção em larga escala da tecnologia chamada smart grid (rede inteligente).

A adoção de tecnologias de smart grid, entre outros avanços, permite atacar de forma muito eficiente o problema das perdas não técnicas, popularmente conhecidas como "gatos". Somente no ano de 2014, esse problema foi responsável por prejuízos da ordem de R$ 7,2 bilhões, segundo dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee).

Uma política consistente para o apoio de projetos para a redução significativa destas perdas poderia disponibilizar a sociedade brasileira um montante importante de energia no momento inicial e uma redução de custos generalizada em todo o setor em longo prazo.

Outro setor importante que está despontando em todo o mundo é o da eficiência e controle com telegestão do parque de iluminação pública, com um potencial gigantesco de redução do consumo energético – mais de 50% com a adoção da tecnologia de luminárias LED.

Hoje a responsabilidade pela manutenção, expansão e eficiência do parque de iluminação pública é das prefeituras e não existe nenhuma política, plano de incentivo ou padronização para a implementação desta tecnologia, que poderia viabilizar a sociedade aproximadamente 1,5% de toda a energia consumida no país, além de uma economia de mais de R$ 1 bi ao ano com a redução do consumo energético.

Com o atual modelo de negócios e a falta de regulamentação associados à iluminação pública, iremos perder no Brasil a sinergia clara existente entre a adoção da tecnologia de telegestão de IP pelas prefeituras e a adoção massiva de tecnologias de smart grids pelas concessionárias de energia. Estamos também perdendo a oportunidade de preparar as nossas cidades para uma infraestrutura capaz de abrigar todas as tecnologias chamadas "cidades inteligentes", baseadas na Internet de Todas as Coisas (IoE).

Precisamos colocar na agenda política um plano eficiente para a adoção destas tecnologias e investirmos de forma coordenada para disponibilizarmos uma enorme quantidade de energia à sociedade – até então desperdiçada. Isso, além de ajudar o Brasil a minimizar os efeitos da crise energética, pode movimentar a economia e desenvolver uma já competente indústria local visando à exportação de tecnologia brasileira para o resto do mundo.

*Felipe Fulgêncio é diretor executivo e cofundador da M2M Telemetria.

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