Enquanto as operadoras se esforçam para mostrar que não pretendem reduzir pedidos junto à indústria e acalmar seus fornecedores, um viés de desconfiança já é percebido no mercado de telecomunicações. Rumores perturbadores de que as teles pretendam reduzir o Capex (investimento) falam de índices tão díspares que variam de 8% a 45%. As operadoras não confirmam esses cortes nem mesmo para os fornecedores. Longe de tranqüilizar a indústria, as esquivas causam apreensão. E seguindo o bom-senso, os fabricantes gradualmente começam a colocar o pé no freio e a reavaliar as metas para 2009. É o caso da chinesa Huawei, que embora tenha aumentado em quase 67% seu faturamento no Brasil este ano, para US$ 1 bilhão, estuda os próximos passos com cautela.
Mas como é relativamente jovem no País, onde está presente há nove anos, a Huawei beneficiou-se de um crescimento sem gorduras, com foco estritamente nas linhas de produtos que lhe são interessantes. Não passou aqui pelo mesmo processo que seus concorrentes, estabelecidos há décadas, tiveram que amargar: altos e baixos na economia, privatização do Sistema Telebrás, redução de pedidos, venda ou terceirização de linhas inteiras de produção, consolidação e demissões em massa, tanto local quanto global.
Produção local de Erb
Hoje com cerca de 1.000 funcionários diretos no Brasil, a Huawei já iniciou sua produção terceirizada. Além dos modems que já fabricava localmente, iniciou a produção também de estações radiobase (ERBs) para segunda e terceira geração por meio de contrato com a Flextronics, em agosto último. Produção direta, entretanto, só se houver demanda que justifique, o que, por enquanto, não se avista no horizonte.
A Huawei dividiu a América Latina em três blocos para organizar seus negócios. O Brasil fica no mesmo bloco da Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai, e é de longe o maior mercado, representando mais de 80% dos negócios realizados nesse grupo. A demanda dos vizinhos por 3G ainda é pequena, mas tão logo justifique, será suprida por meio da produção no Brasil, afirma o diretor de marketing e produtos da empresa, Marcelo Motta.
Projetos engavetados
Com o projeto de fábrica própria engavetado, a chinesa adia também seu projeto de lançar aparelhos celulares no País. A prioridade é iniciar este negócio por meio de parceria com as operadoras, que colocariam suas marcas nos handsets. A idéia, apregoada há meses, ainda não entusiasmou as teles. Outro modelo de negócio é a Huawei bancar sua marca nos celulares. Neste caso, é a chinesa que não se anima, principalmente quando calcula quanto teria que investir em publicidade para atingir o público de massa. "Qualquer venda de handset sem investimento em marca tem uma forte chance de fracassar", disse Motta.
Enquanto isto, a aposta forte da empresa no Brasil é em serviços de valor adicionado e adaptados para o País, infra-estrutura de WiMAX tão logo a Anatel promova o leilão das licenças, e o fornecimento de plataformas FTTx (fiber to the home / curb / building). Já teriam sido firmados dois contratos – com a Telefônica e Brasil Telecom – para fibra óptica, embora as empresas não comentem.
No fechamento do ano, Motta diz que a Huawei conquistou 40% de market share de infra-estrutura 3G e vendeu quase 1 milhão de modems. Se a previsão de o mercado de modems atingir 3 milhões de unidades no Brasil em 2009, a chinesa espera ficar com 70% das vendas. Em plataformas para banda larga fixa xDSL, implantou 3,3 milhões de portas, equivalentes a 54% do mercado local. Mundialmente, o faturamento do grupo está estimado em US$ 23 bilhões este ano.