Em 2024, o Banco Central (BC) encerrou a primeira fase do piloto do Drex, a moeda digital oficial do Brasil, e avançou para a segunda etapa, em que os projetos selecionados de casos de uso propostos pelas empresas do mercado financeiro que integram a iniciativa são testados. Para a escolha dos casos, o BC considerou o impacto da iniciativa na sociedade e a relevância de mercado das instituições participantes. No momento, são 16 consórcios envolvidos em 13 temas selecionados.
Esta segunda fase do piloto está focada no modelo de negócios e em maneiras de integrar a tecnologia para melhorar o produto para a população. Portanto, é uma etapa importante, onde será testada a implementação de serviços financeiros, disponibilizados por meio de contratos inteligentes criados e geridos pelos participantes da plataforma, podendo trazer novas oportunidades de negócios e facilitar a vida da sociedade. Por isso, cada participante desta etapa tem um papel fundamental para a construção do futuro do Drex.
Entre os casos de uso da segunda fase do piloto, destaque para tokenização de ativos reais (como veículos e imóveis) e valores mobiliários (debêntures e com ativos do agronegócio). No caso da tokenização de veículos, onde o banco BV está participando ativamente, há uma simplificação operacional para todas as partes envolvidas, em que a transferência da propriedade e o pagamento ficam automatizados, mais seguros e menos ruidosos para os clientes.
Assim, com a jornada tokenizada, será possível reduzir atritos que tornam a compra e venda de carros mais lentas e, muitas vezes, até mais caras, além de melhorar a visibilidade e a experiência do cliente de ponta a ponta no processo de transferência veicular. Além disso, a expectativa é que os clientes também consigam apropriar dos benefícios e acessar um produto mais fluído e simples. A escolha da tokenização de automóveis pelo BC, por exemplo, não foi por acaso, tendo em vista que o mercado de veículos e crédito está entre os maiores da economia nacional, impactando diretamente na vida de uma parcela considerável da população.
São esses casos de uso que deverão ditar o ritmo do Drex no próximo ano. Mais do que uma moeda digital, o Drex vai ganhando forma para ser uma infraestrutura que deverá facilitar novos modelos de negócio a partir de produtos existentes, a exemplo de ações, debêntures, títulos públicos e certificados de propriedade de imóveis e automóveis.
Entre os resultados aguardados estão produtos financeiros mais eficientes para todos os participantes da cadeia (de emissores a investidores), traduzindo em uma maior agilidade e disponibilidade para investir, contratar, além das possibilidades de novos instrumentos surgirem.
No entanto, os grandes pontos de discussão para os próximos meses são segurança e privacidade do Drex, uma vez que impacta a economia como um todo. O objetivo agora é encontrar uma solução escalável que combine privacidade e velocidade. O BC já está trabalhando nisso, assim como na regulação do tema. Desta forma, estamos cada vez mais perto de termos nosso cotidiano mais simples e mais leve conforme avanços do mercado e do Drex vêm acontecendo.
Ricardo Sanfelice, diretor executivo de Clientes, Produtos e Inovação do banco BV.