As govtechs — startups que oferecem soluções tecnológicas para aprimorar a gestão pública — têm oportunidades para crescer e oferecer serviços à administração pública no Brasil, mas ainda enfrentam desafios com a burocracia governamental e a maturidade de governança corporativa. É o que mostra o relatório "A Importância das Startups nas Cadeias de Produção — Edição Govtechs", elaborado pela Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo e pela Abstartups (Associação Brasileira de Startups).
O relatório destaca que, entre as startups mapeadas no país em 2021, 1,8% afirmaram ter como público-alvo o governo (B2G). O número de startups com alto potencial de apresentar soluções no cenário govtech, porém, pode ser maior, pois startups com foco em educação, saúde, meio ambiente, segurança e defesa, entre outras, têm um significativo potencial de atuação junto a governos.
A principal atuação de agentes do ecossistema das govtechs têm como foco ação sobre gestão pública (28%), a fim de tornar cidades mais inteligentes. Em seguida vem a educação (17%) e a saúde (11%). Analisando o modelo de negócio, 53% dos entrevistados adotam o modelo SaaS (Software as a Service).
Embora o percentual de startups que prestam serviços a governos ainda seja pequeno, na comparação com outros segmentos, o Brasil aparece na 7ª posição global no índice de transformação digital no setor público, com destaque para soluções digitais de impacto massivo, conforme o Índice de Maturidade das Govtechs de 2020, divulgado pelo Banco Mundial. Nesse quesito, o País está à frente dos Estados Unidos e Canadá.
O relatório também aponta que as novas legislações brasileiras, como o Marco Legal das Startups, vêm contribuindo para atrair mais investidores no segmento das govtechs. Entre 2020 e 2021, cerca de R$ 48 milhões foram aplicados em negócios desse segmento — um valor ainda baixo se comparado com o investido em fintechs, mas que demonstra um crescimento na demanda de investidores.
As oportunidades para as govtechs são inúmeras. Só o governo federal, em 2020, assinou 1.929 contratos de serviços de Tecnologia da Informação, que, somados, chegam ao valor de R$ 2,5 bilhões. Esse montante é 19% maior do que os contratos assinados em 2019, que somaram R? 2,1 bilhões. No mundo, gastos dos governos com TI atingiram a cifra de US? 557,3 bilhões este ano, um investimento 6,5% maior do que em 2021.
Govtechs têm oportunidades com empresas públicas de TI e processamento de dados
Apesar das oportunidades, o relatório da Deloitte e Abstartups aponta dois obstáculos principais para que startups possam ampliar ou estender sua oferta de serviços para o setor público: o primeiro é o processo burocrático de contratação de serviços com os governos municipais, estaduais e federal, e o segundo é o nível de maturidade de governança corporativa nas startups.
Uma proposta para a solução desses obstáculos, e que representa uma oportunidade para as govtechs, é o trabalho conjunto com empresas públicas de tecnologia da informação e processamento de dados, como Serpro e Dataprev, uma vez que é realizado em um modelo de contratação de serviços mais simplificado.
O relatório também aponta que a inteligência artificial e a segurança digital são as principais tendências tecnológicas no ecossistema das govtechs para 2022. Contudo, serviços e soluções para melhorar a capacidade e a qualidade no atendimento do cliente público, aprimorando a experiência do usuário e do servidor, devem ter relevante crescimento. As govtechs ainda podem atuar com soluções para a pauta ESG e apoiar ideias que promovam a descentralização e a facilidade de acesso aos dados públicos e sociais (open government).