Bancarização avança, mas serviços ainda são limitados

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Apesar de o sistema bancário brasileiro ser tido como modelo para inúmeros países, o nível de acesso da população aos serviços bancários formais ainda é baixo. Segundo dados da consultoria americana Boston Consulting Group, cerca de metade da população do país com renda não utiliza os serviços financeiros formais. Essa realidade, porém, já começa a dar sinais de mudança já que os bancos estão vendo esse grupo, composto pelas classes C, D e parte da E, como uma grande oportunidade de negócios.
A chamada bancarização, ampliação do acesso à população aos serviços financeiros formais no Brasil, está sendo acelerada pelo uso dos correspondentes bancários que são parcerias com estabelecimentos como os Correios, casas lotéricas, lojas de varejo, etc., para realizar algumas transações bancárias. A vantagem desse processo, segundo analistas, anula os custos com instalação de novas agências bancárias e torna o fornecimento de alguns serviços financeiros, como a abertura, o pagamento e o recebimento de contas, mais barato, e torna mais ágil a oferta de serviços financeiros formais à população de baixa renda.
Uma das iniciativas nesse sentido vem do Banco do Brasil. O banco estatal criou a Diretoria de Menor Renda (DMR), um projeto de concessão de microcrédito para pessoas que têm renda mensal menor que um salário mínimo. O BB oferece até R$ 1 mil por mês de crédito para pequenos empreendimentos, e oferece um orientador, chamado de gerente-funcionário, para auxiliar esses pequenos empresários na gestão de seu negócio.
Isabela Lemos, diretora do Menor Renda do Banco do Brasil, conta que a DMR surgiu a partir da estratégia de negócios do Desenvolvimento Regional Sustentável (DRS) aliada ao Banco Popular, que passou a reintegrar as operações do BB, e à gestão dos correspondentes. O projeto consiste em treinar um gerente-funcionário para que ele oriente as pessoas sobre toda a metodologia de ação do banco para que elas possam entender melhor como gerir seus negócios. Isabela considera que o mais importante é criar organizações internas nas próprias comunidades, chefiadas pelos gerentes-funcionários, capazes de administrar esses empreendimentos. "O papel do banco é ser mais um parceiro de negócio com capacidade de buscar novos sócios, e não apenas fornecer o crédito. O crédito é conseqüência de todo o preparo", conta.
O gerente executivo de clientes do Menor Renda, Benilton da Cunha, conta que os correspondentes foram essenciais para o desenvolvimento do programa, uma vez que as pessoas já conhecem quem está atrás do balcão da papelaria do bairro, por exemplo, e por isso é mais fácil para o banco implantar seu projeto de microcrédito. Para ele, é importante fazer o desenvolvimento social das regiões carentes, mas sem perder a visão de negócio, e por isso a redução de custo que os correspondentes trazem é importante. Cunha vê a Diretoria de Menor Renda como um agente de inclusão social e econômica.
O professor Eduardo Diniz, especialista em tecnologia bancária da Fundação Getúlio Vargas (FGV), observa que o Brasil, mesmo sendo pioneiro em bancarização, tem que enfrentar o grande problema da oferta limitada. Para ele, por mais que programas como o do Bradesco, que, com o Banco Postal, transforma as agências dos Correios em correspondentes, sejam muito eficientes e estejam num patamar superior em relação ao restante do mundo, os bancos brasileiros ainda precisam expandir a quantidade de seus serviços para as pessoas de baixa renda.
Segundo ele, cerca de 60% dos serviços oferecidos à população de baixa renda estão limitados ao pagamento e recebimento de contas, e isso precisa mudar. Para ele, por causa do desconhecimento, a demanda por esse tipo de serviço é reprimida no Brasil, mas a partir do momento em que esses canais forem ampliados e diversificados, a procura será automática.
A Caixa Econômica Federal (CEF) é uma comprovação do que fala o professor da FGV. Ela criou o programa Conta Caixa Fácil, que permite às pessoas abrirem sua primeira conta sem comprovação de renda e dá a elas um cartão de débito para acessá-las. Milton Kruger, superintendente nacional de Clientes Renda Básica do Caixa Fácil, esclarece que o projeto prioriza os beneficiados pelo Bolsa Família e os aposentados e pensionistas do INSS, permitindo que eles possam sacar o dinheiro conforme a necessidade, e não de uma única vez.
O programa já responde pela abertura de mais de 1 milhão de contas por ano e já conta com mais de 9 milhões de correntistas em todo o Brasil, mas apresenta o mesmo problema apontado pelo professor Diniz. O Conta Caixa Fácil é limitado no que está relacionado à variedade de serviços – cada usuário pode fazer gratuitamente até apenas quatro saques e consultas de extratos por mês, e depois de dois anos como cliente passa a ter acesso a uma linha de crédito com valor inicial de R$ 2 mil.
Diniz diz que, diferente da proposta inicial, os correspondentes, criados para dinamizar esse mercado, estão sendo subexplorados. Isso leva as pessoas a recorrer a serviços informais de agiotas, por exemplo, que não as ajudam a sair da pobreza, apenas a sobreviver dentro dela. A saída, segundo o especialista da FGV, é formalizar cada vez mais o acesso aos bancos, para estimular o desenvolvimento social e econômico do país.

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