Área de crédito precisa sair dos tempos da Blockbuster

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Volte duas décadas no tempo. Quando você queria assistir a um episódio de uma série que não era exibida na TV, como teria de proceder? Provavelmente iria até uma locadora, escolheria seu título, alugaria o DVD e repetiria quantas vezes fosse necessário a mesma operação até completar a temporada. De volta para o futuro, basta descobrir em qual plataforma de streaming o título está disponível, pegar a pipoca, sentar no sofá e… pronto.

A transformação digital dizimou as locadoras, os DVDs e, de certa forma, até a própria TV. E o mercado de streaming é apenas uma faceta das muitas que a tecnologia mudou. O Brasil, ainda que não seja uma meca tecnológica, costuma ser reconhecido por ter um sistema financeiro e de cobrança bastante maduro. Mas, se é assim, por que alguns processos nas empresas continuam, em grande parte, basicamente os mesmos dos tempos da Blockbuster?

Qual o cenário financeiro ideal para uma empresa? Aquele em que consegue acelerar receitas com aumento de vendas mantendo os custos da operação sob controle e com um caixa saudável em termos de crédito, seja como credor ou devedor.

É verdade que muitas empresas têm adotado ERPs (ou parte deles) para gerenciar suas operações. Isso tem otimizado os controles, geração de balanço e contas a pagar.

Por outro lado, quando o assunto é concessão de crédito aos clientes, comercial e financeiro possuem uma dinâmica em que, literalmente, a pressa é inimiga da perfeição e a perfeição um entrave para a saúde da própria empresa.

Como garantir processos mais dinâmicos que dependam menos de planilhas individuais e comunicação por fios intermináveis de e-mails para autorizar uma venda? Como evitar que o ímpeto saudável de vender não exponha a empresa a riscos normalmente evitáveis? Como otimizar crescimento de vendas com redução de inadimplência?

A resposta está na digitalização das operações de crédito, por meio de ferramentas que forneçam dados precisos, organizem a documentação e o processo com todos os pontos de checagem necessários e que, sobretudo, consiga, reduzir o tempo de aprovação de um processo de venda e concessão de crédito por causa das necessárias análises do financeiro sobre o cliente.

No final do dia, a transformação digital pode evitar que uma empresa perca o ritmo de escalar crescimento de receita e cumprimento de metas.

Ao oferecer informações e indicadores confiáveis e precisos, as ferramentas de automação não apenas identificam perfis de comportamento, como detectam riscos.

Ao otimizar o processo de crédito, as plataformas inteligentes aumentam a precisão das análises em cerca de 30% e, com isso, cortam pela metade o tempo de duração do ciclo de diligência e venda, tornando a operação mais ágil e eficiente.

Há casos até mais extremos. Na Gerdau, por exemplo, entre o pedido de vendas e a devolutiva do financeiro autorizando a operação chegavam a se passar 25 dias. Uma vez adotado o procedimento moderno, essa operação é feita em 48 horas (!).

E como fica a maior ameaça à empresa, que é o grau de inadimplência?

Risco se combate com informação

O mês de janeiro de 2024 fechou com 6,7 milhões de empresas endividadas no Brasil – 300 mil a mais que o mesmo período do ano passado, somando o equivalente a R$127 bilhões em valores em aberto. Em média, cada negócio inadimplente possuía 7,1 contas atrasadas. Os dados são do Indicador de Inadimplência das Empresas da Serasa Experian.

A entidade pontua que a integração de sistemas legados às novas tecnologias e um eventual viés algorítmico provocado por dados incompletos ou inconsistentes são normalmente citados como obstáculos a um mecanismo mais eficiente de gerenciamento do risco imposto pela inadimplência.

É aí que a consistência da base faz diferença. O ideal é contar com dados abrangentes, ou seja, que permitam acessar uma avaliação em qualquer país do mundo de forma padronizada e eficiente no maior número de setores possível. Isso facilita centralizar a decisão e eliminar análises eventualmente tendenciosas.

Ao conectar equipes e tomadores de decisão em uma única plataforma, torna-se possível que se avalie, monitore, visualize e audite toda e qualquer concessão de crédito. A empresa de embalagens sustentáveis Smurfit Kappa conseguiu reduzir de um ano para outro em cerca de US$ 1 milhão o volume comprometido com inadimplência.

Com a IA a eficiência das operações é ampliada continuamente

De acordo com estudos recentes do Gartner, existe uma expectativa bastante grande de que tecnologias como inteligência artificial, machine learning e blockchain consigam ampliar a sofisticação da entrega com:

  • Acesso a dados transacionais, comportamentais, de redes sociais e até coletados em dispositivos conectados (Internet das Coisas), que poderão ser utilizados para avaliar o risco de crédito de forma mais precisa.
  • Uso de algoritmos de inteligência artificial e aprendizado de máquina para analisar grandes conjuntos de dados com velocidade ainda maior.
  • Aprofundamento da automação dos processos de concessão de crédito, desde a coleta de informações até a tomada de decisão, o que também reduz custos operacionais.

A Amazon, gigante do comércio eletrônico, otimizou globalmente seus processos de crédito para vendedores terceirizados em sua plataforma, oferecendo linhas de crédito e financiamento para ajudá-los a expandir seus negócios, minimizando os riscos financeiros.

Com um pouco mais de tempo de aprendizado, a IA poderá antecipar o futuro. Ao integrar uma ampla gama de dados, desde relatórios de crédito até indicadores macroeconômicos, será possível entregar uma análise cada vez mais abrangente da solvência do cliente.

Além disso, imagine ter disponível análises de cenários para avaliar como diferentes condições econômicas ou como mudanças no comportamento do cliente podem influenciar o risco de crédito. Para isso ser possível, o primeiro passo é ter dados sobre as análises atuais.

Assim como alguém da Geração Z não consegue entender muito o conceito de uma locadora física de filmes, em breve empresas sem um robusto sistema de análise de crédito vão ficar parecendo cenário de filmes de época.

Marcelo Tavares, head de Vendas da Vertical de Crédito na CIAL Dun & Bradstreet.

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