Há atualmente um amplo consenso entre empresários do setor de TI e técnicos do governo, formuladores de políticas públicas, de que a carência de recursos humanos qualificados poderá ser um forte obstáculo às pretensões do Brasil para tornar-se um provedor global de Tecnologia da Informação.
Mesmo no um momento em se questiona se a meta de US$ 2 bilhões em exportações para 2007 será alcançada, é inequívoco reconhecer que o setor de software e serviços de TI do Brasil passa por algo que pode ser definido como uma ?segunda onda? de internacionalização. A primeira, de fora para dentro, se caracterizou pelo início e pelo fortalecimento das operações no Brasil das principais empresas globais de software e serviços de TI.
Já a ?segunda onda?, que tem sentido inverso da primeira, é caracterizada pelo reconhecimento, por parte de nossas empresas de TI, da importância de atuar no mercado internacional. Caracteriza-se também pelo movimento adotado por multinacionais de diversos setores econômicos aqui instaladas para estabelecer no País centros de serviços de TI para todo o conjunto de suas corporações.
Porém, uma ameaça se configura: em ambos os casos, a carência de profissionais qualificados pode colocar todo o processo em risco. A falta de pessoal preparado certamente elevará os custos das empresas aqui sediadas, tanto as brasileiras, cujos serviços ficarão menos competitivos no mercado internacional, quanto as multinacionais aqui instaladas que tenham planos de prover serviços de TI para suas corporações. A razão disto é que os custos operacionais dos centros subirão a um ponto tal que pode tornar-se mais viável instalá-los em outros países.
A carência de RH é mais sentida em pólos de TI que experimentaram crescimento acentuado nos últimos anos, mas já pode ser percebida como uma tendência em quase todo o País. Fala-se em um déficit de 20 mil a 60 mil profissionais. Assim, é fundamental que sejam adotadas medidas urgentes para eliminar esta deficiência.
Uma estratégia que deve ser analisada com atenção, pelo rápido resultado que poderá apresentar, é o investimento na formação de recursos humanos de nível médio. É indubitável que tal esforço deve ter destaque no elenco de ações a serem tomadas para solucionar a questão de carência de RH em software e serviços. A formação de profissionais de nível secundário para realizar atividades de TI é praticamente inexiste no Brasil, se considerarmos nossas necessidades em termos de quantidade.
Convém ressaltar que as empresas são obrigadas a contratar profissionais com ensino superior para atividades em que um técnico de nível médio bem formado resolveria, como codificação, debuging e teste, pois não encontram talentos com este perfil no mercado. Além disso, em muitos casos, as empresas são obrigadas a investir na requalificação dos profissionais de nível superior, em função da formação deficiente que receberam em algumas escolas. Tais fatos pressionam para cima as folhas de pagamento e as despesas com treinamento das empresas, aumentando seus custos e tornando-as menos competitivas.
Formar técnicos em TI de nível médio é bem menos oneroso e mais rápido do que profissionais de ensino superior. Além disso, já existem redes estruturadas e com alta competência na formação de pessoal especializado de nível médio, como as do sistema ?S? (Senai e Senac), entre outras, que formam seus técnicos observando muito de perto o que o mercado necessita, reduzindo ao máximo gastos adicionais em formação a serem feitos pelas empresas.
Com esta estratégia, estaremos dando importante passo para eliminar um dos principais gargalos que impede o desenvolvimento integral de nossa indústria de software e serviços.
* Djalma Petit é coordenador-adjunto da Softex (Associação para Promoção da Excelência do Software Brasileiro)