O aumento exponencial da velocidade de desenvolvimento de novos produtos (celulares e TVs digitais são bons exemplos) torna o usuário refém da obsolescência tecnológica. A proteção contra isso é deixar de comprar o produto para comprar o serviço, deixando por conta do provedor, que tem escala para isso, enfrentar a questão da obsolescência tecnológica. Assim, deixamos de comprar o telefone para comprar o pacote de serviços oferecido pela operadora, compramos o leasing de carros com reposição garantida, a companhia aérea faz o mesmo e até um simples bebedouro de água gelada nas empresas se transforma em serviço (a Brastemp oferece "água gelada como serviço", por uma taxa mensal que inclui a manutenção e a troca de equipamentos obsoletos, sem investimento inicial).
Vivemos a era do "XaaS", ou seja, "qualquer coisa as a service". No XaaS, a atualização tecnológica é implícita e fica por conta do fornecedor, o que é ótimo para o cliente. Mas, como sabemos, não tem bobinhos no mundo dos negócios. Se garantir a atualização tecnológica é ótimo para os clientes, para a empresa a grande vantagem é garantir renda recorrente, em substituição à venda de produtos. Quem tem que vender produtos para sobreviver, "mata um leão por dia". Já a renda recorrente, advinda dos contratos de serviços (com prazos longos e multas de cancelamento), propicia às empresas a previsibilidade do caixa, facilitando o planejamento, a inovação e os novos investimentos. Ou seja, todo mundo ganha com XaaS.
Mas tem uma pegadinha nesse modelo. O mundo dos serviços é um mundo feito de camadas. A mais alta, e perceptível por nós usuários, é a camada de serviços. Sob esta camada se colocam os processos de negócios que serão controlados. Sob os processos de negócios, encontramos os sistemas de TI, que garantem seu funcionamento contínuo e sem erros (governança corporativa, uma exigência absoluta nos dias de hoje). Ou seja, por baixo de tudo, quem segura a onda da modernização rápida de serviços e processos é a infraestrutura e os sistemas de TI, algo parecido com os encanamentos do prédio, que a gente não vê, mas que garantem a água fresquinha chegando continuamente às nossas casas. Porém, nos últimos 20 anos a globalização trouxe uma aceleração quase incontrolável aos serviços e às tecnologias que os sustentam. O ciclo de vida dos processos está encurtando muito, enquanto a complexidade tecnológica cresce na proporção inversa (a TV LCD ainda não consolidou, foi superada pela LED, que já está sendo atropelada pela 3D). O que fazer para agüentar esse ritmo sem falir?
Como sempre, os consultores de negócios vieram em nosso socorro. Eles criaram o BPM (Business Process Lifecycle Management), que é uma abordagem para se gerenciar os processos de negócios, desde sua concepção, passando pela implementação, execução e controle dos mesmos. O BPM propõe que isso seja feito eficazmente usando-se modelos de referência de processos re-utilizáveis, em cada fase do ciclo de vida dos processos, o que aumentará enormemente a performance dos negócios.
Visando máxima produtividade, os modelos de processos e funções de negócios a serem utilizados, devem ser específicos para tipo de indústria. Essa estratégia, para ser bem sucedida, deve utilizar TI e o conceito de SOA (Services Oriented Architecture) em sua implementação. Se o BPM é o "garantidor da integridade dos processos", o SOA, por sua vez, garante a integridade dos sistemas de TI que os sustentam. O SOA, trocando em miúdos, concebe os sistemas sempre atrelados aos processos de serviços do layer acima. Garante-se assim que, sempre que um processo de serviço mudar, será fácil isolar e atualizar as áreas do sistema afetadas. O SOA, de certa forma, permite "trocar as turbinas do avião de TI em vôo", sem interrupções no serviço prestado e sem ônus para o negócio.
Por isso, amigo CEO, COO e CFO, quando seu CIO vier lhe falar sobre BPM e SOA, não feche a cara e o zíper do bolso. O CIO nessa hora é a cavalaria que vem resgatá-lo, não os índios que querem seu escalpo.
*Marcelo Astrachan é presidente da Cyberlynxx.
- Marcelo Astrachan*