Apesar da expansão dos programas de inclusão digital em todas as esferas de governo – federal, estaduais ou municipais –, os computadores e o acesso à internet ainda são subutilizados na maioria da escolas públicas do país, principalmente por falta de capacitação dos professores. A constatação é de pesquisa realizada em 400 escolas públicas de 13 capitais brasileiras pela Fundação Victor Civita, a qual mostra que o tradicional problema de falta de infraestrutura está sendo superado pela falta de preparo do educadores para lidar com as novas tecnologias.
Segundo o levantamento, as escolas possuem computadores, mas falta treinamento para melhorar o uso dos equipamentos. O estudo mostra que entre as instituições de ensino, 98% têm computador e 83% têm acesso a internet com conexão em banda larga. Mas em poucas escolas os equipamentos são utilizados de forma eficiente, que auxilie na melhoria da aprendizagem.
"A formação inicial não prepara os professores para isso. Você precisaria combinar a disponibilidade dos recursos com a melhor formação para que a tecnologia fique a serviço da aprendizagem dos conteúdos escolares", explica Ângela Danneman, diretora executiva da Fundação Victor Civita.
Entre os professores entrevistados, 74% dizem que foram pouco ou nada preparados para utilizar o computador como ferramenta pedagógica durante a sua formação. Além disso, mais da metade não participou de nenhum tipo de curso de atualização em tecnologias no último ano.
De acordo com a pesquisa, o uso de computadores nas escolas ainda se concentra nas áreas administrativas ou no laboratório de informática, sendo que em apenas 4% delas há máquinas nas salas de aula.
Embora observe que mais de 90% das escolas estão equipadas com computadores, Ângela diz que não é possível dizer que o problema da infraestrutura foi superado. "Seria simplista dizer que o problema não está na infraestrutura. A média de alunos das escolas nas capitais brasileiras é de mil. E a minoria delas têm mais do que 30 computadores, então ainda temos a necessidade de ampliar a infraestrutura", ressalta. Apenas 15% das escolas têm mais de 30 máquinas, 28% entre 21 e 30, 29% entre 11 e 20 e 28% têm de um a dez.
O relatório revela também que os professores ainda dão preferência aos programas mais simples quando utilizam o computador com seus alunos. Para a metade dos entrevistados, o software mais utilizado é o de edição de texto, seguido por programas de visualização de mapas (48%) e editores de apresentação.
Para o professor do Laboratório de Novas Tecnologias Aplicadas na Educação (Lantec), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Sérgio Amaral, o investimento feito pelos governos – federal, estaduais ou municipais –para equipar as escolas se tornam "uma estupidez" se não houver preparação dos professores para trabalhar com as tecnologias. "Não adianta nada instrumentalizar. O computador já é uma realidade na escola, mas o problema fundamental é que o professor não utiliza o recurso como instrumento didático. É ínfimo o potencial que se está utilizando", analisa o especialista.
Para Amaral, quando o recurso é mal utilizado acaba sendo apenas um gerador de despesas. "Um computador caro, vira um retroprojetor. E essa subutilização tem impacto no aprendizado do aluno." O estudo aponta que apenas 28% das escolas contam com um professor orientador de informática. Com informações da Agência Brasil.
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