A realidade aumentada (RA) é uma das tecnologias que mais vem atraindo a atenção dos estudiosos e especialistas em Indústria 4.0. De acordo com um estudo realizado pela companhia internacional Zion Market Research, a técnica tem potencial para atingir crescimento de 85% ao ano, no mundo todo, até 2021, impulsionando a Indústria 4.0 de forma singular e irreversível.
As aplicações de RA, se utilizadas em todo o seu potencial, podem melhorar consideravelmente a produtividade e a eficiência dos funcionários, aprimorando os procedimentos atuais de fabricação, levando a ganhos diretos de receita. Um dos grandes benefícios da tecnologia é a sua flexibilidade de aplicações. Pode, por exemplo, simplificar a fabricação de carros, agilizar a manutenção de equipamentos e até melhorar a maneira como os clientes interagem com os produtos.
No Brasil, ainda há falta de conhecimento sobre a abrangência de todo o potencial da RA e, sobretudo, do seu processo de desenvolvimento junto ao mercado. Isso porque a maioria dos empreendedores do país ainda é reticente com este tipo de tecnologia, geralmente traduzida como puro entretenimento ou como parte de pontuais ações de marketing. Um grande passo será perceber as tecnologias imersivas como ferramentas reais e de grande valor para a operação cotidiana das empresas e indústrias.
Especialistas têm acompanhado de perto aplicações da tecnologia em demandas de empresas, que validam esse momento pelo qual passa a expansão da RA. Fabricantes de veículos já estão fornecendo aos proprietários de automóveis manuais em realidade aumentada para pequenos reparos e manutenção, ao invés das tradicionais versões impressas. Nos novos manuais tech, os usuários podem acessar informações gráficas visualizadas sobre seu veículo usando um smartphone ou tablet. Assim, os dispositivos em RA passam detectar instantaneamente as peças do carro e rotulá-las em tempo real e, em seguida, fornecem instruções em vídeo para reparos ou explicações de como usar os vários botões no painel de um carro.
Chamadas de vídeo baseadas em RA usando óculos inteligentes e dispositivos móveis também estão surgindo como um meio de melhorar a comunicação entre funcionários de diversos setores. Aplicativos podem sobrepor instruções ao campo de visão de um trabalhador, usando diagramas em tempo real, mensagens, conteúdo multimídia compartilhado e recursos que permitem que as instruções sejam dadas remotamente.
Com aplicativos de RA para visualização de dados de Internet das Coisas (IoT) os colaboradores podem, simplesmente, segurar uma câmera móvel em um ponto específico de uma máquina para revelar dados em tempo real sobre suas operações, como temperatura e níveis de eletricidade.
Grandes companhias como a Boeing têm comprovado a eficiência da RA em tarefas do dia a dia dos funcionários. Na manutenção de um sistema da fabricante de aviões, funcionários foram avaliados utilizando manuais impressos, notebooks com pdf e Ipads munidos com RA. Os resultados concluíram que, para a equipe que utilizou o impresso, foram cometidos oito erros na manutenção. Já o time que usou o notebook cometeu apenas um erro, enquanto que a equipe que se utilizou do tablet com RA realizou o procedimento sem erros.
A Siemens utilizou algo similar e que gerou resultados positivos usando RA para treinar trabalhadores novatos em manutenção em turbinas eólicas e a gás. Os avaliados que seguiram procedimentos tradicionais com manuais ou PDFs levaram, em média, 480 minutos para concluir sua primeira montagem. Já a equipe que tinha óculos de realidade aumentada com instruções interativas à disposição, gastou apenas de 45 e 52 minutos.
A diminuição do tempo de realização de tarefas em ambientes de fábrica é justamente uma das premissas para o avanço da indústria 4.0, e o Brasil, com a ajuda da RA, está começando a evoluir em direção a este salto tecnológico.
Cristian Gallegos, head de realidades imersivas da Ekantika Consultoria e sócio fundador da Mítika Immersive Tech.