A Intel e a Sun anunciaram acordo para disponibilizar a máquina virtual Java ME em receptores de TV digital baseados em processadores Intel. Com isso, os receptores suportarão aplicativos desenvolvidos para JavaDTV, a plataforma aberta que substituirá o GEM no middleware brasileiro Ginga. Os processadores Intel com a máquina virtual Java devem estar disponíveis em meados do segundo trimestre, diz Américo Tomé, gerente de novas tecnologias da Intel.
Contudo, vale destacar, não se trata de uma implementação do Ginga-J, a versão do middleware brasileiro baseada nas linguagem Java e NCL. Jens Pätzold, executivo da Sun responsável pelo desenvolvimento da especificação JavaDTV, diz que as especificações estão prontas para serem normatizadas. Segundo Carlos Eduardo Batista, gerente de projeto do Grupo de Trabalho de TV Digital da RNP e professor do Cefet da Paraíba, as normas devem ir para consulta pública no final deste mês de março.
Há mercado?
Para Carlos Fini, gerente de operações da Rede Globo, a comunidade de desenvolvedores Java existente no Brasil pode ajudar a criar aplicativos que atraiam o interesse do público, mas lembra que não há caso de sucesso de uso da interatividade na TV aberta no mundo. "Acredito que haja um modelo misto, entre produção própria e externa", diz Fini sobre quem desenvolverá os aplicativos para a TV digital. "Acho que os aplicativos para programas de linha, por exemplo, devem ser desenvolvidos internamente nas emissoras, mas deve haver espaço para desenvolvedores externos em programas especiais", disse.
Mario Fried, gerente de projetos do Cesar (Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife), diz que a linguagem JavaDTV não foi criada apenas para o Brasil, mas visando todos os padrões. Para ele, se a linguagem for adotada em outros países, cria-se escala para o desenvolvimento de aplicativos. "É uma oportunidade para o Brasil exportar serviços e até produtos", diz, lembrando que a indústria de software depende de escala. "Não dá para desenvolver apenas para o mercado local", adverte.
Jens Pätzold, da Sun, diz que os televisores deverão ter entradas para outras plataformas, como a Internet. Assim, seria possível desenvolver um aplicativo que não seria necessariamente transmitido pelas redes de TV, sem explicar como ou porque os usuários chegariam até estes aplicativos.
Versão preliminar
Mario Fried, do Cesar, aproveitou para criticar o lançamento de uma versão "1.0" do Ginga, sem a linguagem Java. Para ele, a atualização para a versão final do Ginga não deve ser tão simples quanto prometida. "Não há caso no mundo, mesmo na TV por assinatura, de uma atualização de firmware tão complexa", diz. "O que acontece é a correção de pequenos bugs", explica.
Carlos Fini, da Globo, destaca que a radiodifusão brasileira é fortemente regulamentada e habituada a seguir regras. Para ele, como a versão "1.0" do Ginga não está normatizada, é pouco provável que sejam transmitidos aplicativos por parte dos radiodifusores.
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