Recentemente participei do Paris Fintech Forum, um dos maiores eventos de fintehs da Europa, onde tive a oportunidade de acompanhar as principais tendências que vão transformar o mercado financeiro nos próximos anos. Após ouvir CEOs de diversas fintechs, grandes bancos e players de mercado de capitais de todo o mundo sobre as mais diferentes inovações, acredito que os conceitos que se perpetuarão fortemente no mercado de agora em diante são customização, integração e foco no core business.
Dando um passo a frente, a Europa já aprovou o regulamento PSD2 (diretiva revisada sobre os serviços de pagamento), tendência que mudará globalmente o setor bancário da forma como conhecemos hoje. Agora, os clientes dos bancos, tanto consumidores como empresas, poderão contratar outros fornecedores para administrarem suas finanças, o que abre novas oportunidades para os clientes.
Com a diretiva, os bancos europeus serão obrigados a fornecer as informações bancárias de seus clientes via APIs para terceiros. No Brasil, essa inovação do open banking ainda não acontece, principalmente porque os bancos ainda tentam proteger o atual oligopólio, dificultando essa divisão de dados e a integração de outras soluções financeiras na conta do consumidor. Todavia, acredito que nesse sentido o ponto não é se essa mudança regulatória ocorrerá por aqui, mas quando ocorrerá.
Fato é que a forma como as pessoas consomem serviços financeiros está mudando, e tanto bancos quanto empresas terão que se adaptar. Agora, quem decide como quer realizar a contratação de seus diversos produtos financeiros são os próprios clientes e é aí que entra o conceito de customização. O consumidor dessa nova era digital poderá optar por ter conta corrente em um banco, cartão de crédito de outro, pegar empréstimo em uma fintech, e fazer um investimento em outra, e assim por diante, utilizando serviços das mais diferentes empresas de acordo com o que deseja.
Por isso, a questão do compartilhamento de dados bancários é muito importante, pois é essa inovação que vai continuar evoluindo o setor. Até porque, no fim das contas, esses dados não são dos bancos, e sim dos clientes, que podem fazer uso deles da forma como lhe convir, escolhendo o melhor serviço para seu objetivo.
Interligado a esse conceito de customização, vem a outra tendência para o mercado financeiro, que é a de integração. Com os clientes buscando cada vez mais serviços personalizados, as empresas também têm que se ajustar a esse novo cenário, e integrar é a palavra-chave para continuar acompanhando a velocidade com que o mercado está evoluindo.
Para maximizar o valor do serviço entregue ao cliente, as empresas terão que concentrar seus esforços no core business (e aqui chegamos a terceira grande tendência do mercado financeiro), e se integrarem com outros negócios para ganharem expertise e capilaridade em áreas que não são seu foco original. Com isso, as plataformas de serviços financeiros passarão a funcionar como um "LEGO". Ou seja, os consumidores não vão mais apenas dizer "sou cliente de tal banco", mas sim "eu utilizo um produto de determinado banco". Assim, todas essas plataformas financeiras vão se conectar, em um novo universo mais aberto e cooperativo, e o cliente poderá orquestrar a estrutura do seu LEGO de finanças da maneira como desejar.
Na Bcredi, por exemplo, trabalhamos com crédito imobiliário e oferecemos um produto de ciclo longo, que vai desde a originação até a gestão da carteira do crédito. Dentro disso, é difícil desenhar todo o serviço de ponta a ponta, por isso também precisamos integrar para ganhar mais expertise. Então a ideia é focar nos diferenciais, que ninguém mais oferece no mercado, e buscar o conhecimento de outras soluções para englobar na nossa plataforma com o objetivo de sempre entregar o melhor serviço.
Com essa movimentação constante do mercado, daqui para frente o diferencial das fintechs também se dará através do processo criativo. Isso porque, na era da inteligência artificial, qualquer processo repetitivo que possa ser aprendido por um robô, será substituído por um robô. Com isso, o capital humano intelectual de pessoas que pensam "fora da caixa" será cada vez mais fundamental.
Diante de todo esse cenário, a conclusão que fica é que a coleta de dados para entender o comportamento e as necessidades do cliente ao longo de toda a cadeia é a grande inovação para os próximos anos. O mercado está se transformando e o avanço da tecnologia será o principal fator para, no final do dia, entregarmos a melhor experiência para o cliente.
Maria Teresa Fornea, cofundadora da Bcredi.