Em fevereiro deste ano, a Iana (Internet Assigned Numbers Authority) esgotou o estoque de endereços IPv4, ao entregar aos cinco Regional Internet Registry (RIR) os blocos finais da classe /8. Agora, é uma questão de tempo até o encerramento do pool de endereços IPv4. O mercado corporativo precisa se preparar. Os provedores de serviços, por exemplo, estão tomando medidas, já há algum tempo, para que suas redes não tenham problemas com a entrada do IPv6, que no longo prazo deve substituir o IPv4.
A diferença entre os dois tipos de protocolo é significativa. O endereçamento do IPv4 é de 32 bits, com a disponibilidade de cerca de quatro milhões (4×109) de endereços, um número finito que, como era previsto, chegaria ao esgotamento. Já o endereçamento do IPv6 é de 128 bits e a oferta de endereços é da ordem de 3,4×1038, uma quantidade de difícil mensuração. Apesar da vantagem matemática, o sucessor exige dispositivos com mais recursos de memória para processamento de dados. Por exemplo, para processar um pacote IPv6 é necessário um esforço 10 vezes maior do firewall. Isso significa que se antes a empresa usava apenas um firewall para a operação, agora precisará de dez. E, por conseqüência, haverá um impacto para as organizações.
Além disso, a linguagem entre os dois protocolos também é distinta. Dessa maneira, a transmissão e recebimento de pacotes tanto IPv4 quanto IPv6 em uma mesma rede depende, necessariamente, da utilização de um equipamento dual-stack, que permite rodar, em uma mesma interface, pilhas IPv4 e IPv6. Como a coexistência entre os dois protocolos é indispensável, esse tipo de recurso torna-se necessário para manter uma operação. No entanto, ao colocar um gateway dual-stack na porta de entrada, há uma abertura de mais um SPOF (Single Point of Failure), ou seja, caso haja uma falha nesse dispositivo, pode-se interromper tanto a comunicação externa como a interna, prejudicando toda a funcionalidade da rede. Para evitar esse tipo de erro, os provedores de serviços estão realizando diversos testes com o IPv6, uma vez que compreendem os riscos da falta de planejamento nesse assunto.
Porém, as multinacionais e grandes empresas nacionais ainda não estão levando em consideração todos esses pontos. A comunidade em geral não tem a noção efetiva do peso que isso pode ter em suas redes. A instalação de um dispositivo compatível com IPv6, hoje, não é vista como prioridade para muitas dessas organizações. Isso pode acarretar, num futuro próximo, em gastos emergenciais com a aquisição de novos equipamentos e mudanças em projetos de TI. Por exemplo, se uma empresa estiver realizando um investimento em seu ambiente de LAN e WAN e, não estiver atenta a essa questão, estará desperdiçando recursos. É certo que as redes vão voltar a ser mais complexas. Com isso, vai ser imprescindível a contratação de profissionais capacitados para administrá-las. Por isso, nada melhor que realizar um minucioso estudo para garantir o funcionamento de toda a companhia e assegurar a entrega de seus produtos e serviços aos clientes e não ser obrigado a ter gastos extras com esse assunto.
Uma empresa bem-sucedida sabe que a previsão e previsibilidade dos investimentos não podem ser deixadas de lado em momento algum. O IPv6 não foi inventado pela indústria para vender mais, foi uma questão puramente matemática. Por isso, é um assunto delicado. Certamente, quanto mais perto de se tornar um usuário obrigatório, mais caro será o preço dos equipamentos e dos projetos. O momento para refletir sobre esse protocolo e seus impactos na administração de uma rede é esse.
*Luiz Fernando Kasprik é gerente da divisão enterprise do grupo Binário.