Vibe Coding: revolução real ou fantasia perigosa?

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Vibe coding: o termo que soa como uma revolução digital ganhou os holofotes após ser popularizado por Andrej Karpathy, cientista da computação da OpenAI, e discutido em fóruns e vídeos mundo afora. Na essência, trata-se de construir software exclusivamente a partir da interação com modelos de linguagem como ChatGPT, Claude ou Cursor. A proposta é tentadora — programar sem programar, guiando agentes de Inteligência Artificial (IA) com linguagem natural até que um sistema funcional emerja das respostas.

Mas se essa abordagem soa futurista, também é preciso reconhecer o risco de ela estar sendo vendida com um entusiasmo desproporcional à sua maturidade. Vejo com bons olhos a evolução de agentes de IA que aumentam a produtividade no desenvolvimento de software. Nós os utilizamos diariamente para acelerar tarefas repetitivas, revisar códigos e até auxiliar em prototipagens. Mas também conhecemos de perto as limitações desse modelo — e os perigos de ignorá-las.

Construir a primeira versão de um sistema é, de fato, a parte mais simples do trabalho. A verdadeira complexidade está em garantir que esse sistema funcione de forma segura, eficiente e resiliente ao longo do tempo. Isso exige um entendimento profundo de padrões de arquitetura, interações com infraestrutura, requisitos regulatórios, práticas de segurança e, acima de tudo, contexto.

Um prompt bem escrito pode gerar um código funcional. Mas um código funcional não é sinônimo de código seguro, escalável ou sustentável. O "vibe coding", quando mal interpretado, nos leva a um território onde a compreensão do sistema é substituída por uma sequência de ajustes cegos — como admitido pelo próprio Karpathy, que solicita alterações sucessivas até que um bug desapareça, sem compreendê-lo de fato.

É aqui que mora o perigo. Em um ecossistema onde vulnerabilidades exploradas por cibercriminosos custam milhões, onde a infraestrutura de redes deve operar com zero downtime, e onde data centers sustentam operações críticas, confiar exclusivamente em uma "caixa-preta geradora de código" é uma aposta arriscada — especialmente quando feita por profissionais sem a base técnica necessária para entender o que está sendo entregue.

Há também uma narrativa perigosa em circulação: a de que o vibe coding eliminará a necessidade de programadores juniores. Ignora-se o papel essencial que esses profissionais desempenham na cadeia de aprendizado e manutenção de sistemas. Substituir formação por mágica tecnológica é um atalho para sistemas frágeis e equipes sem capacidade de reação.

Isso não quer dizer que a tendência deva ser descartada. Pelo contrário: é papel dos líderes técnicos incorporar essas novas ferramentas de maneira estratégica, aproveitando sua eficiência onde elas brilham — mas sem perder o rigor técnico que sustenta sistemas confiáveis.

O futuro do desenvolvimento de software será, sim, moldado pela IA. Mas ele será construído por quem souber equilibrar automação com conhecimento, velocidade com responsabilidade, e inovação com segurança. Vibe coding pode ser uma ferramenta poderosa — desde que tratada como tal, e não como um substituto do conhecimento humano.

Rafael Oneda, diretor de Tecnologia da Approach

Com colaboração de Eric Zancanaro, Mestre em Ciência da Computação (UFSM)

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