Em um ambiente de negócios desafiador, com pressão por custos, taxas de juros elevadas, disrupturas geopolíticas, novas tecnologias e preferências dos clientes em constante evolução, a necessidade de mudança tem se tornado cada vez mais frequente e imperativa. Neste cenário, as empresas que buscam se destacar devem não apenas acompanhar, mas antecipar e abraçar proativamente essas mudanças. Em resposta a essa realidade, um estudo realizado pelo Boston Consulting Group (BCG) revela que cerca de 70% das transformações empresariais não atingem seus objetivos, destacando a importância crítica dos conselhos administrativos fazerem a diferença e influciarem positivamente esses resultados.
Tradicionalmente, os conselhos de administração se concentram na supervisão estratégica, deixando os detalhes operacionais para a equipe de gestão. Entretanto, é importante que eles expandam seus papéis e se envolvam de maneira mais ativa e direta nas transformações em curso, mergulhando fundo em três fases distintas dessa jornada.
A primeira delas é o período pré-transformação. Para garantir que a equipe de liderança do projeto seja adequada, os conselhos devem garantir que o time tem as habilidades necessárias para a transformação, que muitas vezes são bastante distintas de operar o dia-a-dia da empresa. Em seguida, deixar claro para toda a organização os motivos por trás da transformação, definir metas ambiciosas, e demandar da liderança o detalhamento de um plano específico, com objetivos claros e ambiciosos, marcos e indicadores de desempenho. O ajuste de incentivos e o investimento necessário para apoiar a transformação – incluindo o desenvolvimento de liderança e a infraestrutura necessária – também são aspectos importantes a serem considerados.
Já a segunda fase é o período em que realmente está ocorrendo a transformação. Não há outro modo dela ser bem-sucedida se os conselhos não acompanharem de perto a implementação, fazendo ajustes conforme necessário para manter o progresso. Para isso, pode ser necessário reuniões mais frequentes do conselho. Como a tarefa é árdua, acredito que a formação de um comitê de transformação para fornecer uma supervisão mais direta possa ajudar. Além disso, é crucial comunicar regularmente o andamento do processo, tanto interna quanto externamente, para manter todas as partes interessadas informadas e engajadas no processo.
Por fim, tanto o estudo do BCG quanto a minha experiência ao longo dos últimos 15 anos atestam que os conselhos devem incentivar a gestão da empresa a aproveitar a transformação para trazer novas habilidades e mudanças no modo de operação da empresa, ajudando a garantir que as melhorias sejam sustentáveis a longo prazo.
Sou uma defensora do papel proativo e engajado dos conselhos de administração em todas as fases de um processo de transformação – desde o planejamento até a implementação e sustentação a longo prazo. Isso porque, ao garantir a composição adequada da equipe de liderança, estabelecer metas ambiciosas e monitorar de perto a implementação do plano, eles podem contribuir significativamente para transformações empresariais bem-sucedidas.
Em uma era em que o mundo empresarial é um oceano de possibilidades e desafios, a atuação estratégica dos conselhos administrativos é, sem dúvidas, o guia que as empresas devem seguir rumo ao sucesso sustentável de uma transformação.
Juliana Abreu, diretora executiva e sócia do Boston Consulting Group (BCG) no Brasil.