A meta do governo federal em 2004 era de que o país alcançasse neste ano US$ 2 bilhões com a exportação de software e serviços de tecnologia da informação. O próprio governo já admite, no entanto, que não atingirá este objetivo. Mesmo que as exportações consigam chegar a esse valor, estará bem aquém de outros países emergentes como a Índia, que prevê vender para outras nações dez vezes mais neste ano do que a meta nacional. O Brasil, porém, continua com enorme potencial para crescer nesse mercado. Ao menos, esta foi a opinião unânime dos painelistas do Seminário Exportação de Software, realizado nesta quarta-feira (4/7), em São Paulo, pela Câmara Americana de Comércio (Amcham).
As razões apontadas por eles, que têm impactado para que o desempenho fique abaixo das expectativas, vão desde o chamado custo Brasil até questões como o porte das empresas do setor e a capacidade de venda no mercado externo, além da inexistência de um marketing bem estruturado e agressivo. Para Gláucia Critter Chiliatto, gerente do Projeto Setorial Integrado para Exportação de Software e Serviços Correlatos (PSI-SW) na Softex, as dificuldades incluem desde problemas estruturais, como a elevada carga tributária, falta de um melhor ajuste fiscal, etc.), àqueles de caráter interno das próprias empresas. ?Muitas das empresas brasileiras da área de software e serviços são pequenas e estão acostumadas a fazer negócios apenas no país, onde o nível de exigência é muito menor que no mercado global?, cita ela, ao dizer que há também desafios como a ?precificação? ou como encontrar o canal correto de vendas lá fora.
Já para o vice-presidente da Softex, Descartes Teixeira de Souza, o problema é um pouco cultural também e de falta de uma infra-estrutura de apoio às empresas de software e serviços. ?Não somos uma nação habituada a vender e a fazer marketing. Além disso, há a dificuldade das empresas encontrarem parceiros com recursos para alavancar o negócio.? Segundo ele, o Brasil é reconhecido nos Estados Unidos como um país com alta flexibilidade, devido ao perfil de seus profissionais, e com enorme capacitação no desenvolvimento de soluções. ?Ou seja, o brasileiro é inovador, mas não estamos conseguindo utilizar esse potencial para impulsionar os negócios.?
De acordo com Gláucia, do PSI-SW, o Brasil é tido como uma alternativa bastante atraente para os Estados Unidos, devido, por exemplo, a pequena diferença de fuso horário e justamente a flexibilidade dos profissionais. Segundo ela, o país é reconhecido como um dos melhores do mundo na área de soluções bancárias e em várias outras, e precisa capitalizar essa imagem e criar uma ?marca forte?, como fizeram a China e a Índia. ?Por exemplo, há oportunidades no Japão, que não produz muito software e compra quase todo o desenvolvimento de software da China e da Índia.?
Apesar de o país não estar aproveitando devidamente essas oportunidades, Souza diz estar convencido de que está havendo um crescimento dos negócios das empresas brasileiras do setor no exterior. Ele cita o exemplo da EverSystems, desenvolvedora nacional de soluções de mobile banking, cujas exportações responderam por 10% do seu crescimento no ano passado. Segundo o vice-presidente da Softex, em 2006 as exportações de software e serviços contabilizaram cerca de US$ 700 milhões. Para este ano, Souza avalia que as vendas externas do setor deverão crescer, embora não arrisque dizer em que proporção. De todo modo, ele admite que o volume deverá ficar bem abaixo da meta de US$ 2 milhões estipulada pelo governo.