Se há algo sobre o que os seres humanos podem se orgulhar é em relação ao seu potencial de inovação. Ao longo de milênios, a curiosidade, a busca pelo aperfeiçoamento e pelas respostas a questões essenciais vêm inegavelmente sofisticando as relações sociais, melhorando as formas de comunicação, aumentando a expectativa de vida e, naturalmente, aperfeiçoando produtos e serviços oferecidos em todos os segmentos e mercados.
A transformação digital, expressão muito utilizada nos últimos anos, está bastante associada a esta capacidade de inovação. Transformação Digital pode ser conceituada como sendo a criação de valor para os negócios das organizações, a partir da aplicação de novas tecnologias digitais e novas formas de se trabalhar. Deve-se observar, porém, que este processo não é novo. Os mercados, produtos e serviços sempre se beneficiaram e se transformaram, acompanhando a evolução tecnológica da humanidade.
O que impressiona nos últimos tempos é a velocidade com que a transformação ocorre. E a própria evolução tecnológica aumenta esta velocidade em um ciclo virtuoso de potencial criação de valor. Segundo Justin Trudeau, primeiro-ministro canadense, em um discurso em Davos (2018), "o ritmo das mudanças nunca foi tão rápido e, por outro lado, nunca mais será tão lento como hoje". Ou seja, a aceleração digital é algo inevitável e que traz desafios e oportunidades.
Aceleração digital e o time-to-market
Os acelerados avanços tecnológicos, como, por exemplo, o acesso praticamente universal à internet, criam grandes oportunidades. Por exemplo, ofertas de novos serviços e novas formas de se fazer negócios; aprimoramento do relacionamento com clientes e fornecedores; aperfeiçoamento dos processos de tomada de decisão; melhoria dos processos internos, entre outras.
Assim, a aceleração digital faz com que tecnologias, plataformas e sistemas se tornem algo essencial na competição entre as organizações. Mesmo as empresas que usam tecnologia como meio têm soluções sistêmicas intimamente ligadas ao seu negócio principal: a entrega de novos serviços, o relacionamento com os clientes, a tomada de decisão etc.
Uma outra consequência natural deste movimento, e um grande desafio, é uma maior imprecisão sobre a fronteira entre segmentos de mercado. Por exemplo, o mais indigesto concorrente das redes hoteleiras é uma plataforma digital, o Airbnb. Ela não tem ativos como prédios com quartos para locação, mobiliário, recepcionistas, seguranças, cozinheiros… Ela "apenas" conecta pessoas que precisam de espaço para ficar com quem tem espaço sobrando. É um outro negócio que resolve, com grande flexibilidade e muitas vantagens, a demanda similar atendida pelas centenárias redes hoteleiras.
Outros exemplos: o Google, com seus veículos autônomos – essencialmente software de inteligência artificial – está se caracterizando como o mais agressivo concorrente das montadoras de veículos. Startups do mercado financeiro oferecem melhores serviços, mais comodidade e menores taxas, "roubando" clientes dos grandes bancos.
Neste contexto, novos competidores, regras de competição e muitos parâmetros de negócios essenciais também mudam. Testar ideias, ofertas, dar respostas rápidas às necessidades do mercado, reagir instantaneamente aos movimentos da concorrência ganham grande importância. E daí a importância do business agility.
Business agility é a composição de um conjunto de capacidades, comportamentos e modelos de trabalho que proporciona flexibilidade, resiliência e liberdade para conquistar os objetivos, independente do que aconteça no futuro. O business agility confere então vantagens competitivas, especialmente pela redução significativa do tempo necessário para a oferta de novos serviços ao mercado ou mesmo a adequação de serviços já existentes. Ou seja, reduzindo o "time-to-market" da organização e melhorando a sua capacidade de competição. Assim, praticamente todas as empresas estão buscando ser ágeis. Porém, a mudança cultural para a agilidade não tem se mostrado uma tarefa fácil. Muito pelo contrário.
Por exemplo, vamos pensar em uma nova oferta de serviços para o mercado sistema financeiro: um novo tipo de análise de crédito, empréstimos por meio de canais digitais ou, ainda, uma nova modalidade de operação. A oferta de um novo serviço como este, que deve consumir algumas semanas para uma startup, pode levar, literalmente, anos para uma grande instituição financeira.
Mas, afinal, todas as empresas precisam se transformar? Todas precisam ser ágeis?
"Mas professor, minha empresa está indo super bem. Estamos dividindo grandes lucros todos os anos. Os clientes estão satisfeitos e felizes, nosso NPS é altíssimo. Por que eu preciso me transformar? Por que eu preciso desse tal business agility?" Estes são questionamentos comuns entre os meus alunos, que são empresários, executivos e gestores de grandes e pequenas empresas.
Começo respondendo que as tecnologias disruptivas, como a inteligência artificial e a internet universal de qualidade, permitem a criação de novos modelos de negócios e novas formas de se fazer negócios que podem, muito rapidamente, criar um valor antes inexistente e simplesmente mudar totalmente as condições de um segmento de mercado.
Lembro como era agradável visitar lojas da Blockbuster para alugar, inicialmente, fitas de vídeo e, depois, DVDs. Gostava bastante da experiência. Em geral, íamos em família, era um ótimo ambiente, havia uma boa variedade de filmes a preços razoáveis. Se me perguntassem, à época, certamente eu daria um 9 ou 10 para a experiência Blockbuster. Ou seja, um NPS altíssimo. Até o dia em que "fui apresentado" ao serviço do Netflix. Não é que eu deixei de gostar da Blockbuster, mas é simplesmente incomparável.
Assim, como não sabemos com certeza como será o futuro, precisamos estar preparados para mudar rapidamente e sempre. Ou seja, para ganhar e manter a competitividade em um ambiente em constantes mudanças, o business agility é uma questão de sobrevivência.
Edison Kalaf, sócio-diretor da OPUS Software.