A decisão do governo brasileiro de suspender o uso de dados de usuários para treinar inteligência artificial (IA) tem gerado um debate acirrado sobre seus impactos. A medida, imposta pela Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD), visa proteger a privacidade dos cidadãos, mas enfrenta críticas de grandes empresas tecnológicas, como a Meta, que a consideram um obstáculo à inovação.
A ANPD justifica a suspensão com base na proteção dos dados pessoais dos brasileiros. A medida garante que informações sensíveis não sejam utilizadas sem o consentimento explícito dos usuários, evitando abusos e usos indevidos. Além disso, promove maior transparência nas práticas das empresas de tecnologia, forçando-as a serem mais claras sobre como os dados são coletados e utilizados para treinar IA.
Outro ponto positivo é o reforço da confiança dos consumidores nas plataformas digitais. Sabendo que seus dados estão protegidos por regulações rigorosas, as pessoas podem se sentir mais seguras ao utilizar serviços online. Esta confiança é essencial para o crescimento sustentável do mercado digital no Brasil, que depende da adesão e participação ativa dos consumidores.
Por outro lado, a Meta e outras empresas de tecnologia argumentam que a suspensão representa um retrocesso significativo para a inovação e competitividade no desenvolvimento de IA. Elas afirmam que a capacidade de utilizar grandes volumes de dados é crucial para melhorar e aperfeiçoar algoritmos, que por sua vez podem trazer benefícios significativos para a sociedade, desde avanços na medicina até melhorias na segurança pública.
Além disso, a decisão pode colocar o Brasil em desvantagem competitiva no cenário global de tecnologia. Enquanto outros países avançam no desenvolvimento dessa tecnologia, aproveitando o vasto conjunto de dados disponíveis, os brasileiros podem ficar para trás, limitando o potencial de inovação e impacto econômico positivo. As companhias podem ser dissuadidas de investir no país devido às restrições regulatórias, buscando ambientes mais permissivos para o desenvolvimento tecnológico.
A decisão do governo brasileiro representa uma tentativa de equilibrar a proteção da privacidade dos usuários com a necessidade de inovação tecnológica. Enquanto garante maior segurança e transparência para os cidadãos, pode também impor desafios significativos para o desenvolvimento e a competitividade do setor de tecnologia no país. O futuro desta medida depende de como as partes envolvidas, tanto reguladores quanto empresas, encontrarão um meio-termo que atenda às necessidades de segurança e progresso tecnológico.
Fernando Nery, CEO e co-fundador da fintech Portão 3.