Chegar à liderança costuma ser um objetivo comum a muitas carreiras. Com o passar do tempo, aos poucos, crescemos hierarquicamente ao assumirmos cargos que envolvem o papel de gestão. Esse é um processo natural e almejado que está baseado na experiência profissional e nas capacidades individuais de estar à frente de equipes e projetos. Tem como forte componente – ou deveria ter –, a habilidade de lidar diretamente com pessoas.
Subvertendo essa lógica, tenho percebido na prática a eficácia da liderança por competência. Ao contrário do modelo hierárquico, este empossa aquele que tem mais conhecimento e preparo para o tema central de um projeto. Ou seja, a liderança não se dá pelo cargo, mas sim, pelo domínio em torno de determinado assunto.
A liderança por competência redesenha processos e aplica mais horizontalidade às relações dentro das companhias. Ao invés das decisões serem "de cima para baixo", elas passam a ser tomadas em "células", pelos grupos temáticos envolvidos em cada projeto. Para que se tenha êxito, demanda que egos e expectativas sejam trabalhados, evitando que o líder escolhido seja questionado por seu cargo, mas sim empoderado por seu conhecimento.
Recentemente, participei de um processo de change management junto a um cliente. Apesar de ser o CEO da empresa, meu papel foi o de colaborador, se assim posso dizer. A líder desse projeto foi uma executiva que, hierarquicamente, está há quatro níveis de distância de mim. Porém, em competência, está outros tantos níveis acima. Isso quer dizer que eu reportava a ela o andamento de minhas ações específicas deste projeto.
Parece estranho? Talvez no começo cause certo desconforto, especialmente, em quem está acostumado a ocupar o papel de referência. Mas, os ganhos são tão grandes que os receios iniciais se dissolvem. Ao ceder a liderança para quem tem competência sobre determinado tema, valoriza-se o conhecimento e o preparo. Para além disso, esse modelo de gestão ajuda a formar líderes cada vez mais capazes e completos, uma vez que as pessoas podem experimentar a liderança em doses homeopáticas.
Ao mesmo tempo, dá visibilidade para diferentes pessoas dentro de um time e mostra para aqueles que ocupam os cargos mais altos o poder do coletivo. Na verdade, aí está a grande sacada. Ao praticarem a liderança por competência, os gestores podem focar seus esforços em outros desafios e ampliar a visão sobre o todo, sendo úteis naquilo que realmente são necessários.
É importante ressaltar que liderar por competência não significa que a hierarquia seja totalmente ignorada. Ainda esse modelo busca promover um ambiente em que os líderes sejam escolhidos com base em sua capacidade de liderar e contribuir para um determinado projeto ou área de atuação.
Em resumo, liderar por competência é uma abordagem que valoriza as habilidades individuais e promove a descentralização da liderança, baseando-a no conhecimento e na experiência em um determinado tema. Essa abordagem contribui para o desenvolvimento de líderes mais capacitados, um ambiente colaborativo e uma cultura de aprendizado contínuo.
Todo mundo sai ganhando. Talvez seja um exercício de humildade constante, porque a liderança por competência nos lembra que ninguém sabe tudo e sempre há alguém que sabe mais do que a gente.
Washington Botelho, Presidente da JLL Work Dynamics para a América Latina.