No Brasil, a média de produção de lixo por pessoa é de 381 quilos por ano, o que resulta em cerca de 80 milhões de toneladas de resíduos anuais. Isso considerando uma população de 203 milhões de habitantes registrados no último censo do IBGE em 2022.
Na liderança de uma cleantech especializada em gestão de resíduos e logística reversa, vejo quão alarmantes são os dados revelados pelo Panorama dos Resíduos Sólidos no Brasil 2022, elaborado pela Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). O estudo aponta que apenas 4% dos resíduos são reaproveitados ou reciclados.
Diante desse cenário de baixa taxa de reaproveitamento e reciclagem, é fundamental a adoção de medidas que visem minimizar os impactos ambientais causados pela população, governo e empresas.
Uma solução que ganha espaço no meio corporativo, mas que ainda necessita ser ampliada, é a logística reversa, que envolve o reaproveitamento de materiais por meio da reciclagem, recuperação ou reforma. Esse processo desempenha um papel fundamental na redução dos impactos ambientais da produção de resíduos e contribui com a economia circular nas empresas.
Segunda chance para o lixo
A logística reversa está interligada ao conceito de economia circular, que busca utilizar de forma eficiente os recursos renováveis e recicláveis, visando reduzir a necessidade de matérias-primas novas. Com essa abordagem, torna-se possível aos materiais descartados retornar à cadeia produtiva e trazer resignificação ao lixo, o que resulta na diminuição do impacto ambiental e na geração de renda para os envolvidos (parceiros das cooperativas).
Na Trashin, nossa startup de gestão de resíduos e logística reversa, temos exemplos de grandes empresas que adotam práticas de economia circular, como a Havaianas, Nike, L'Occitane e iFood. No caso da Havaianas, coletamos sandálias que não são mais utilizadas e reaproveitamos para produzir tapetes ecológicos destinados a projetos sociais e esportivos. Esse exemplo prático ilustra como os materiais podem retornar à indústria ao invés de serem descartados em aterros sanitários e locais impróprios, prejudicando o meio ambiente.
Benefícios econômicos
Além de retirar materiais poluentes da natureza e contribuir para a reciclagem e o reaproveitamento, a logística reversa também traz benefícios econômicos para as empresas, uma vez que diminui custos de produção, cria novas oportunidades de receita, melhora a eficiência operacional e fortalece a reputação da marca. Por exemplo, por meio do reaproveitamento de componentes descartados, evita-se a necessidade de comprar matéria-prima.
Além disso, os novos materiais produzidos podem ser doados, revendidos ou até mesmo reintegrados a outros produtos. A adoção dessas medidas também contribui para uma gestão mais eficiente dos recursos, evitando o desperdício de materiais e reduzindo os investimentos econômicos.
Mercado exige mais sustentabilidade
À medida que as mudanças climáticas, escassez de recursos e os danos ao meio ambiente estão cada vez mais evidentes, as empresas têm a responsabilidade social de adotar soluções que visem minimizar esses problemas, uma vez que são grandes produtoras de resíduos. Com isso, surgiu a Agenda ESG (Environment, Social and Governance), que consiste em uma série de objetivos e ações para que as corporações se tornem mais conscientes e façam parte das mudanças ambientais, sociais e de governança.
Ao mesmo tempo em que as empresas precisam dar exemplo de sustentabilidade para incentivar a sociedade a adotar ações de impacto ambiental positivo, os consumidores estão mais exigentes e buscando marcas que demonstram essa preocupação. Segundo uma pesquisa realizada em 2022 pela Opinion Box, uma plataforma de pesquisa de mercado, 62% dos consumidores levam em consideração a postura das marcas em relação ao meio ambiente no momento de decisão de compra. Além disso, 37% dos entrevistados já deixaram de consumir produtos de empresas que não atendem a agenda de preservação ambiental.
Isso se reflete na demanda por serviços ou produtos que estejam alinhados com os princípios de preservação da natureza, o que, por sua vez, impactam o retorno econômico das empresas.
A logística reversa e a economia circular são soluções importantes para a gestão de resíduos no Brasil. Ao adotar essas práticas, as empresas podem contribuir para a redução dos impactos ambientais, gerar renda e fortalecer a reputação da marca. Além disso, a adoção dessas práticas também atende às demandas dos consumidores, que estão cada vez mais exigentes e buscam marcas que sejam sustentáveis.
Sérgio Finger, CEO da Trashin.