Educadora defende criação de mais cursos tecnológicos

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Para ter um ensino superior democrático de qualidade, o Brasil precisará mudar seu modelo e dar mais atenção aos cursos tecnológicos. A análise é da professora Eunice Ribeiro Durham, titular do Núcleo de Pesquisa de Políticas Públicas (Nupps) da Universidade de São Paulo (USP), durante palestra no Seminário Internacional Ensino Superior numa Era de Globalização, que terminou nesta terça-feira (4/12), em São Paulo.

De acordo com a antropóloga, no Brasil o ensino superior público é focado demais no modelo da universidade que faz pesquisa, dedicando poucos recursos para a formação tecnológica. ?As vocações dos alunos são muito diferentes e todo o ensino básico é uniformizado. A diferenciação do currículo só ocorre no nível superior, que se resume ao sistema universitário, voltado para formar profissionais liberais. Precisamos de mais ensino tecnológico?, disse Eunice.

Segundo dados do Censo da Educação Superior brasileiro e da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), nos últimos dez anos menos de 1% dos estudantes no país se formou em cursos superiores tecnológicos. Enquanto isso, nos países desenvolvidos o índice chega a 29%.

Segundo Eunice, seria preciso criar mais cursos tecnológicos e corrigir uma distorção que começa no ensino técnico de segundo grau, cujo acesso requer a conclusão do ensino médio. ?Isso é um contra-senso: o aluno quer formação mais imediata para o mercado, mas, para ter acesso a um curso técnico de segundo grau, é obrigado a adquirir a qualificação formal suficiente para entrar na universidade?, explicou.

Segundo ela, com isso, o acesso às escolas técnicas federais, que têm alto nível, é feito por um exame de entrada. A professora ressaltou que essa alta demanda para poucas vagas pressiona o sistema e elitiza o acesso. ?Quem vai procurar esses cursos é a classe média, não para ter acesso ao mercado de trabalho, como seria a finalidade do curso, mas para ter um ensino gratuito de boa qualidade de segundo grau e chegar à universidade pública. Ou seja, o ensino tecnológico é elitizado?, afirmou Eunice.

Além disso, segundo a pesquisadora, há um preconceito no Brasil contra o ensino técnico e tecnológico. ?É como se ele não permitisse aprender, desenvolver a criatividade e a inteligência. Só que é o contrário, o ensino técnico promove essas qualidades, de forma casada com as necessidades.?

Ela cita os cursos de administração como exemplo da necessidade de mais cursos técnicos. ?O curso mais procurado no Brasil é o de administração. Quem o procura quer espaço no mercado de trabalho ou quer abrir uma firma. Não é preciso criar universidades para atender a essas necessidades. Seria melhor fazer bons cursos técnicos de administração?, completou Eunice.

A raiz do problema seria o fato de o país ter suas políticas públicas de ensino superior voltadas para a universidade de pesquisa. ?Todo nosso ensino médio é organizado e pensado com foco na universidade?, destacou a professora. ?Não podemos desmantelar nossas universidades, que dão imensa contribuição social, mas focar o ensino público ali nos impede de democratizar o ensino?, disse.

Citando o educador Anísio Teixeira, Eunice afirmou que, com a heterogeneidade da população brasileira, uma escola democrática só é possível quando não é igual para todos. ?Precisamos ter uma variedade de alternativas para as diferentes necessidades.?

Com informações da Agência Fapesp.

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