O Serpro, que processa os principais programas de informática do governo e a arrecadação da Receita Federal, anunciou a adoção de uma nova política de sistemas por meio da qual irá reforçar a adoção de software livre e intensificar o desenvolvimento na plataforma aberta, além de buscar a aproximação da empresa com a comunidade open source, de modo a estreitar a colaboração na produção do conhecimento tecnológico brasileiro.
"A partir de agora, a orientação para o software livre fica fortalecida, principalmente no que compete ao desenvolvimento de soluções. Antes, o desenvolvimento usava o software livre sempre que possível, agora usamos software proprietário apenas quando outra solução for impossível. O software livre terá prioridade absoluta", informa Deivi Kuhn, coordenador de software livre do Serpro.
Com esse novo rumo definido, a empresa decidiu investir maciçamente em treinamento e capacitação, reorganizar suas coordenações de tecnologia e de software livre e trabalhar na melhora do processo de definição de tecnologias – tudo isso para o nível da excelência em código aberto seja alcançado.
Outra novidade, segundo Kuhn, é uma mudança de enfoque. "Mais do que apenas usar software livre, queremos interagir com a comunidade e aprender a trabalhar intensamente em colaboração." Atualmente, o Serpro apóia, sempre que possível, eventos e encontros da comunidade de software livre. Além disso, um novo entendimento jurídico, atualmente em estudo, permitirá à empresa disponibilizar suas soluções livres àqueles que queiram cooperar.
Seguindo a premissa de que o compartilhamento é a principal força o desenvolvimento da plataforma aberta, a empresa busca, no âmbito governamental, disseminar aplicações que desenvolveu para uso interno, sempre com o objetivo de favorecer tecnologias bem-sucedidas e soluções que auxiliem uma melhor gestão do estado. "Um exemplo disso é o trabalho, em conjunto com outras empresas públicas de TI, no projeto de convergência entre o Expresso e o Carteiro [duas ferramentas de correio eletrônico]".
Para Kuhn, o Serpro, como maior provedor de tecnologia da informação e comunicações do governo federal, merece destaque especial, pois os resultados aqui obtidos demonstram, para os demais órgãos governamentais, que a migração para a plataforma aberta traz grandes vantagens para o país. "Nossa experiência vem servindo de referência para outros órgãos que também já encontram-se em processo de migração", reforça.
O coordenador enumera os principais benefícios que a adoção de ferramentas livres traz ao Serpro. São vantagens econômicas e intelectuais que favorecem o país e geram retorno à sociedade brasileira, tais como a diminuição do gasto com licenças de softwares proprietários, maior possibilidade de investimento em conhecimento, independência tecnológica e maior segurança da informação.
De acordo com Kuhn, o mais importante de toda a discussão sobre software livre é ?colocar em cena a reflexão sobre a forma com que construímos o conhecimento?. "Essa nova forma de produzir software promoveu uma revolução, na medida em que rompeu com o antigo conceito de que o conhecimento deveria ser produzido em grandes laboratórios, que não divulgavam nenhuma informação para obter 'segredos industriais.?
Para ele, ficou demonstrado que o insumo mais importante para produzirmos mais conhecimento é próprio acesso ao conhecimento e o trabalho compartilhado. "Iniciativas como a Wikipédia demonstram como é possível, para a humanidade, construir conhecimento de maneira compartilhada e como o conceito trazido pelo software livre é aplicável para outras áreas de conhecimento", completa Kuhn.